A última quarta-feira, 06, foi marcada pela cautela nos mercados internacionais, com destaque para a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central dos Estados Unidos – o FOMC.
O detalhamento da reunião de março trouxe uma mensagem bastante forte de controle da inflação no país, em tom considerado hawkish pela maior parte dos analistas (o contrário de dovish, expressão usada quando o tom do Banco Central sinaliza menor preocupação com a alta de preços). Assim, o documento confirmou o que parte do mercado já vinha precificando nas taxas dos títulos soberanos americanos – uma alta mais intensa dos juros básicos no país nas próximas reuniões, em passos de 0,50%.
Para os diretores do Banco Central (o FED), o mercado de trabalho bastante aquecido (já abaixo da taxa neutra estrutural do país) e os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia aumentam os riscos sobre a inflação de curto prazo. Isso ocorre devido ao efeito das sanções econômicas contra a Rússia e da disrupção causa pelo conflito na produção de petróleo e outros insumos básicos como alimentos, fertilizantes e metais. Enquanto isso, um mercado de trabalho fortalecido adiciona pressão sobre os salários.
Os impactos do documento foram sentidos no mundo todo, inclusive no Brasil, onde vimos o dólar ganhar força e retomar o patamar de R$ 4,70 e ações especialmente nos setores de consumo e tecnologia sofrerem na bolsa. Juros mais altos nos Estados Unidos elevam a atratividade de investimentos por lá, reduzindo o que chamamos de “diferencial de juros” entre os juros básicos americanos, e a taxa Selic. Por sermos considerados um país de maior risco (como outros emergentes), podemos acabar perdendo fluxo de investimentos que optam por agora um pouco mais atrativas nos EUA, com muito menos risco.
Esse movimento observado no câmbio, porém, não deve ganhar muito mais força ao menos no curto prazo, uma vez que grande parte já era esperado pelo mercado – e assim, precificado. Além disso, o alto patamar de preço de commodities segue benéfico para o Brasil, assim como nossos juros básicos seguem em nível muito mais elevado, aos 11,75% ao ano.
Dito isso, o receio de que os altos preços não sejam controlados a tempo pelo FED, e os altos juros acabem por desaquecer a economia americana a ponto de uma recessão adiante contribuem para o sentimento de cautela e maior aversão ao risco por parte de investidores.