Por Marcus Vinícius, BS Investimentos
O investidor estrangeiro, em busca de bons investimentos em ativos relacionados à economia real, que geralmente se beneficiam de momentos de inflação alta, como o atual que vivemos, encontrou boas oportunidades na nossa bolsa e, do começo de 2022 até março, aportou mais de 68 bilhões de reais na B3.
Esse fluxo recorde foi o maior responsável pela puxada do Ibovespa, que subiu 14,5% no primeiro trimestre de 2022.
Como não tivemos qualquer melhora no cenário macro, sem chances de realizar qualquer reforma estrutural em ano de eleição, o investimento estrangeiro no Brasil é o único fator que pode explicar a queda do dólar também. Lei da oferta e demanda: quanto mais dólar circulando aqui dentro, menos ele vale.
Para você ter noção da importância do investidor estrangeiro para o nosso mercado, ele é responsável por pelo menos METADE de todo fluxo financeiro do Ibovespa, logo, é capaz de impulsionar ou pressionar o nosso índice.
Porém, uma luz de alerta acendeu no mês de abril, com os primeiros sinais de retirada de capital estrangeiro da B3.
No acumulado de abril, fluxo está negativo em R$ 1,43 bilhão e nos últimos 10 pregões, foram 4 com fluxo positivo e 6 com fluxo negativo. Vale a nossa atenção para o dólar, já que a moeda americana pode ser impactada também, pois se tem dólar indo embora, maior o seu valor aqui dentro.
Entre os motivos possíveis, temos a realização de lucros, já que o estrangeiro que surfou essa alta do nosso mercado esse ano, enquanto o investidor pessoa física e o institucional vendiam barato (provavelmente para recomprar caro quando voltar a euforia), FED reiterando a necessidade de subir juro o quanto antes nos Estados Unidos, o que reduz a atratividade do carry trade, e o aumento dos riscos fiscais com o governo abrindo os cofres públicos de olho nas eleições e uma terceira via cada vez mais distante.
Ao mesmo tempo, o investidor pessoa física retirou R$ 9,07 bilhões da B3 em 2022 e o investidor institucional retirou R$ 66,18 bilhões, sofrendo com os resgates. Ou seja, uma combinação perigosa e que pode pressionar o índice ibovespa, que já caiu 3,18% em abril.
Importante acompanharmos a evolução desses números nas próximas semanas para que possamos tentar prever o que pode acontecer com a nossa bolsa e com o câmbio, nos ajudando então a decidir se devemos ou não aumentar exposição ao nosso mercado de ações ou se não seria melhor aproveitar o momento para dolarizar a carteira.
Na semana que passou, o Ibovespa acumulou queda de 1,81%, aos 116.181 pontos. O dólar fechou em alta pelo segundo dia consecutivo, cotado à R$ 4,6963.
Para a semana que está chegando, além do fluxo estrangeiro, vamos acompanhar tudo o que acontece na Europa, com o aumento das tensões entre ucranianos e russos, que causou valorização de mais de 8% no petróleo na semana que passou e traz mais preocupação sobre a inflação. Teremos também dados econômicos vindos da China, como PIB do 1T22 e produção industrial de março, no domingo à noite.
Na segunda-feira, feriado de Páscoa nas principais bolsas pela Europa.
Terça-feira, agenda vazia, mas na quarta-feira começa a nossa temporada de divulgação dos resultados das empresas no 1T22, começando com Usiminas, e teremos o livro bege para acompanhar, que é um relatório que nos traz um bom termômetro sobre a economia americana e é usado pelo FED para ajudar na decisão sobre a política monetária americana.
Logo em seguida, na quinta-feira, teremos um dia de descanso por aqui com a nossa bolsa fechada por conta do feriado de Tiradentes.
Voltamos na sexta, fechando a semana com PMI na Europa e Estados Unidos.
Dessa forma, já começamos a semana preparados para o que está por vir, de olho no fluxo e por dentro de tudo o que está acontecendo com o nosso mercado.
Obrigado e até a próxima.
Texto publicado na edição 30 da revista CRC!News.