Por Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos
A inflação medida pelo IPCA, nosso principal indicador de preços ao consumidor, registrou alta de 0,95% em novembro, levando o índice para 10,74% no acumulado em doze meses (o resultado popularmente mais utilizado).
O resultado veio menor do que o esperado pelos analistas de mercado, devido especialmente a alta mais baixa do que o projetado de preços mais voláteis, como alimentos e itens de higiene pessoal ¬– o último bastante impactados por ofertas relacionadas à Black Friday.
Para o dia a dia do brasileiro, o resultado menor do que o esperado não deve significar grande fôlego. Os preços seguem subindo de maneira acelerada, a exemplo da alta observada nos preços de combustíveis (gasolina acumula alta de mais de 50% em doze meses), corroendo o poder de compra das famílias e aumentando a incerteza da economia como um todo – de consumidores, à investidores e empresários.
A expectativa de que o IPCA encerre o ano acima de 10% reflete a realidade de que a inflação segue sendo uma das principais preocupações do brasileiro.
Por outro lado, um conjunto de fatores internacionais e domésticos devem levar a uma perda de força da aceleração dos preços ao longo do ano que vem.
Do lado da economia global, já há sinais de melhora na crise nas cadeias de produção, apesar de a Ômicron ter aumentado a incerteza nessa frente. Ou seja, caso a nova variante da Covid-19 não reverta a situação, custos pressionados como de logística, insumos como semicondutores e commodities devem começar a perder força.
Ao mesmo tempo, Bancos Centrais ao redor do mundo já começam a responder ao desafio da inflação alta, subindo os juros ou reduzindo estímulos implementados para combater os efeitos a pandemia. De maneira simplificada, “menos dinheiro no mundo, menor pressão sobre os preços”.
Por aqui, a melhora das condições climáticas (especialmente a volta das chuvas, que amenizam os preços de energia) e das safras (que afetam os alimentos) esperadas para o ano que vem devem ajudar a desacelerar os preços. Mas os juros em alta devem ser o ator principal.
A elevação da nossa taxa básica de juros, a Selic, por parte do Banco Central tem como objetivo controlar a subida dos preços, sendo a base para todas as taxas de juros na economia. Juros altos encarecem o crédito, ajudam a valorizar a nossa moeda (com maiores juros aqui, atraímos mais de capital estrangeiro), e impactam as expectativas sobre onde estarão os preços no futuro.
Diante de tudo isso, esperamos que a inflação atinja 5,2% no final do ano que vem. Ainda acima da meta do Banco Central (de 3,5%), mas se afastando da marca dos dois dígitos.
Mesmo assim, vale lembrar que não devemos esperar que os preços passem a cair (com poucas exceções, como energia elétrica). Isso porque os juros altos e os movimentos que mencionamos acima farão com que os preços passem a subir de maneira mais lenta (inflação mais baixa), o que é diferente de caírem.
Como proteger seus investimentos?
Nesse cenário de inflação alta, proteger os investimentos torna-se mais essencial do que nunca. Títulos indexados à inflação, como Tesouro IPCA + 2026, debêntures de empresas sólidas com vencimento médio, e fundos de inflação (fundos de investimento que investem em ativos indexados à inflação) são ótimas alternativas.
Além disso, empresas ligadas ao setor de commodities (que possuem ativos reais, além de receitas dolarizadas) também podem ser boas oportunidades, de acordo com o perfil de risco do cliente.