Se o nosso Banco Central acreditava que o ciclo de alta da nossa taxa básica de juros encerraria na reunião do COPOM de maio, com a Selic em 12,75% a.a, o IPCA divulgado na última sexta-feira, com os dados da nossa inflação em março, veio com um banho de água fria.
A nossa inflação registrou alta de 1,62% em março, surpreendendo negativamente o mercado, que tinha expectativa média de 1,35% de alta para nossa inflação oficial. Com isso, acumulamos aumento de 11,30% nos preços nos últimos 12 meses e +3,20% só em 2022.
Com esse susto, o mercado começou a reajustar suas expectativas para o fim do ciclo de alta da nossa taxa básica de juros e já temos algumas apostas prevendo a Selic em 14% a.a no fim de 2022 e também impactou a nossa bolsa, que terminou a sexta-feira em queda de 0,45%, aos 118.322,26 pontos. Na semana, o Ibovespa caiu 2,67%.
O governo também está agindo para tentar conter esse aumento nos preços e na semana que passou determinou bandeira verde na conta de luz, que pode reduzir o custo com energia em 20% e ainda, segundo analistas, derruba a expectativa da inflação para abril em aproximadamente 0,5%.
A inflação alta e persistente, dessa vez, não é exclusividade nossa. No meio da semana foi divulgada a ata da reunião do FOMC, que determinou o aumento de 0,25% na taxa de juros americana (de 0% a 0,25% para de 0,25% a 0,5%), e o tom mais hawkish já havia assustado os mercados globais e também resultou em revisão das estimativas para o juro americano em 2022 pra cima, assim uma aceleração da redução do balanço do FED a partir da próxima reunião em maio.
Com o juro americano subindo, o investidor estrangeiro essa semana reduziu o risco em países emergentes, como o Brasil, em busca de investimentos mais seguros e com taxas ficando mais atrativas nos estados unidos e esse movimento refletiu no câmbio. O dólar fechou na sexta-feira cotado à R$ 4,7089, registrando alta de 0,89% na semana.
Com esse novo cenário, em meio de tantas revisões de expectativas sobre juros e inflação por aqui, vale acompanharmos o fluxo estrangeiro nas próximas semanas, já que pode registrar novos aportes do gringo no nosso mercado, que inclusive marcou esse início de ano no país e impulsionou a nossa bolsa até aqui. Caso isso se confirme, o dólar pode voltar a ser pressionado e batendo novas mínimas no ano e a nossa bolsa pode continuar se destacando entre os mercados globais.
Agora, se achou que essa semana foi agitada, melhor continuar a leitura para se preparar para a próxima.
Já começaremos a semana com dados sobre a inflação na China em março. Depois, na terça-feira, é a vez dos americanos divulgarem a inflação ao consumidor de março e pode trazer volatilidade para os mercados.
Na quarta, inflação ao consumidor no Reino Unido, vendas no varejo no Brasil em fevereiro e inflação ao produtor nos estados unidos.
Fechando a semana quente, teremos exercício de opções sobre ações aqui no Brasil, decisão sobre a taxa de juros da zona do euro e IBC-BR, com um bom termômetro do nosso PIB.
Vale lembrar que teremos uma semana mais curta, com feriado de Sexta-Feira Santa aqui e muitos países pelo mundo.
Além do que temos no calendário, não podemos de deixar de acompanhar tudo o que acontece na China, com o aumento dos casos de covid no país colocando Xangai em lockdown e no leste europeu, com o clima entre russos e ucranianos esquentando novamente e trazendo de volta aquela tensão aos mercados, já que uma escalada nos conflitos pode causar um novo aumento sobre o preço das commodities e espalhar ainda mais inflação pelo mundo. Aperte o cinto e bons negócios!
A texto publicado na coluna Extrato na edição 29 da revista CRC!News.