Por Isabela Jordão. Jornalista nas editorias de economia e finanças no BRANews, canal de notícias da assessoria de investimentos BRA, escritório da XP Investimentos eleito como a “Melhor Assessoria ao Trader Online”.
Há dez meses, eu sequer sabia o que era um pregão.
E – pasmem – já formada em jornalismo. Quatro anos nos quais eu e um apanhado de centenas de colegas aprendemos (espero) a escrever leads, usar os porquês, produzir entrevistas e textos que valeriam a pena ser lidos, tanto pela qualidade gramatical e estilística como pela agregação de conhecimento.
Este último aspecto vale um olhar especial. Como agregar o conhecimento que não temos? Decerto, seria deveras prepotente insinuar que qualquer universitário em torno dos 20 anos poderia adquirir bagagem para escrever sobre o que fosse em um mísero quadriênio.
Mas não espanta o fato de justamente aqueles em preparação para informar não serem cônscios quanto ao pólo mais efervescente do capitalismo contemporâneo?
O curso universitário enfatiza majoritariamente o caráter técnico do jornalismo, mas sabe-se que diversos alunos já chegam ao campus com sonhos pessoais de carreira. Lembro de colegas interessados nas editorias de moda, política e até automóveis. Entretanto, absolutamente ninguém se interessava pelo mercado financeiro, nem mesmo essa que vos fala. Para não ser injusta, tive uma única colega com investimentos em bolsa e bitcoin.
Mas não, a abordagem econômica não era ignorada. Nelas, aliás, o capitalismo era descrito como pressuposicionalmente fundamentado na exploração dos pobres. Chegamos a um ponto de comum acordo para praticamente todos com passagem pela Academia. A demonização do capitalismo, do acúmulo de capital, do lucro. Mentalidade na qual falar em bolsa de valores é enaltecer os donos do poder.
O discurso talvez soe bem, mas a realidade sempre se impõe. No caso, nela se encontram a maioria dos colegas que compravam a narrativa e repudiavam a lógica de investimentos, mas eram enlaçados pelo “fetiche da mercadoria”. Afinal, enquanto poupar exige esforço, gastar é natural e não requer nenhum – nem mesmo por parte dos que dizem repudiar o mercado.
Ora, toda geração é reflexo da ação ou inércia da anterior. Pondo os pingos nos is, componho a primeira safra da famosa “geração Z”, neta dos boomers e filha da geração X. Em um olhar macro, a maioria dos meus contemporâneos foi o primeiro da família a fazer faculdade. Para boa parte de nossos patriarcas, a bolsa de valores era de fato um nicho restrito, e muitos deles participaram da ascensão da classe média no Brasil. A filosofia do “quero que meus filhos tenham o que não tive” foi ouvida por boa parte de nós.
Resultado: uma geração acostumada a receber muitos presentes, estudar em escolas particulares e, sem necessidade de trabalhar para complementar a renda da casa ou aprender o valor do dinheiro, ir para a universidade. Uma vez nela, fomos embebidos pela mentalidade socialista que se enraizou na Academia brasileira durante os anos da ditadura sem que nossos pais tivessem ciência. Somos o ponto de convergência entre o alcance de uma prosperidade não antes vista por nossos pais e uma consolidada classe intelectual anticapitalista e antiamericana – características da intelligentsia latinoamericana de modo geral.
E já que a Terra do Tio Sam foi mencionada, como excluir a formação cultural americana a respeito do dinheiro? Não há como falar dos EUA sem lembrar de Wall Street, há muito parte da cultura de massa do país, e de algum modo compõem a realidade cotidiana dos 65% da população (de 329,5 milhões, até 2020) que investem na bolsa.
A pandemia de Covid-19 separou vizinhos e aproximou a Aldeia Global. Assim, passei 2020 em um freelance remoto numa revista digital para brasileiros residentes na Califórnia, que me abriu os olhos para o universo de conterrâneos em busca de sonhos e estabilidade na maior economia do mundo.
Em uma dessas incursões, produzi uma live com integrantes brasileiros do mercado financeiro americano. Ali, me deparei pela primeira vez com a necessidade real de não apenas guardar, mas investir dinheiro em busca de retorno. Daí, encontrei YouTube afora produtores de conteúdo de dentro do Brasil, com informações valiosas sobre investimentos. Passado o maravilhamento com a descoberta de um nicho completamente desconhecido, nada houve de tão empolgante na prática. Me contentei em aplicar na Renda Fixa e deixei o assunto de lado.
Só não imaginava que o mercado, de apetrecho paralelo, se tornaria componente indissociável do meu cotidiano.
Há dez meses eu não sabia o que era um pregão, mas que bom que o panorama não permaneceu assim. Sob a supervisão de gigantes do mercado, não só passei a acompanhar o noticiário financeiro em tempo integral e as interações da bolsa de valores com a política, macroeconomia e toda sorte de assuntos, como precisei me arriscar no aprendizado de análise técnica e análise fundamentalista para informar com precisão investidores que também chegaram agora.
E não dá para informar sobre bolsa se não sei o que o investidor sente. Em dez meses, deu tempo de ter lucro (e prejuízo) com ações, participar de ofertas públicas (aliás, saudades do bull market) e colocar a ponta dos pés no universo das criptomoedas.
É só o começo. Para mim e para o Brasil — afinal, faz poucos meses que a B3 atingiu 3,2 milhões de pessoas físicas cadastradas, de uma população superior a 212 milhões. E não há ciclos de baixa que tornem desinteressante respirar o mercado notícia a notícia.