Brasil, qual é o seu negócio?
Por Fernando Ferreira, Estrategista Chefe e Head do Research e Caio Megale,Economista-chefe da XP
Aposto que você já deva ter escutado aquela famosa frase que “no fundo do poço existe sempre uma mola, que nos projeta para fora com ainda mais força”. Pois é, a Bolsa brasileira segue entre as piores do mundo em performance em 2021, além do Real estar entre as moedas mais fracas em relação ao Dólar no ano. Será que essa mola já estaria próxima para os ativos brasileiros, ou ainda não alcançamos o fundo do poço?
Passei a última semana nos EUA encontrando mais de 30 investidores, junto com o nosso economista-chefe, Caio Megale. Essa era uma das perguntas que escutamos de muitos investidores, se a grande deterioração vista nos ativos brasileiros nos últimos meses já estaria próxima do fim, ou se ainda haveria mais sinais de piora à frente?
A deterioração que vimos no Brasil nos últimos meses não foi pequena. Em junho, quando o índice Ibovespa estava acima de 130 mil pontos e o Dólar-Real estava próximo de R$4,90, as expectativas eram mais favoráveis. Lembre-se que o mercado reage ao que acontece em relação às expectativas. Se as expectativas eram positivas, mas a realidade se deteriora, isso gera uma piora nos preços dos ativos.
A economia brasileira estava acelerando, a vacinação dava claros sinais de melhora, a alta da inflação parecia ser em boa parte temporária, as reformas tributária e administrativa pareciam estar bem encaminhadas, além de privatizações relevantes eram esperadas. Como uma cereja nesse bolo, o forte ciclo de commodities no mundo beneficiaria o Brasil mais que os seus pares globais.
De lá para cá, as perspectivas se inverteram. As reformas não avançaram, a trajetória fiscal piorou com a flexibilização do teto de gastos, a inflação e os juros subiram fortemente, e as expectativas em relação a economia em 2022 pioraram significativamente. Isso foi refletido no preço dos ativos brasileiros, e também no sentimento dos investidores em relação ao Brasil.
Dessa forma, se as expectativas já estão muito baixas atualmente, então quaisquer melhoras no cenário Macro poderiam levar ao efeito oposto – uma recuperação nos preços dos ativos brasileiros.
Preocupações Macro e Políticas dominam
Voltando aos investidores estrangeiros, vimos um sentimento em geral cauteloso em relação ao Brasil. As eleições de 2022 e a economia foram os temas mais debatidos nas nossas reuniões.
Em relação às eleições, os investidores estrangeiros entendem que o ano de 2022 deve ser de alta volatilidade. Por enquanto, a maioria deles acredita ser difícil haver um cenário onde não haja uma disputa entre Bolsonaro e Lula no 2º turno das eleições, atribuindo uma baixa probabilidade para um candidato da 3a via.
A dúvida é como será a gestão fiscal no próximo mandato presidencial, em particular à luz da queda da credibilidade no teto dos gastos imposta pelo debate da PEC dos Precatórios.
Em relação à economia, muitos questionaram se o Brasil enfrentará uma recessão em 2022. O consenso do mercado revisou a expectativa de crescimento de PIB para apenas +0,93% em 2022 (Pesquisa Focus), o que se compara com a estimativa da XP de +0,8%. Porém, mesmo essa projeção de um crescimento de PIB positivo já embute dois trimestres de crescimento negativo no 2º semestre, o que caracteriza uma recessão técnica. O forte aperto das condições monetárias dada pela alta dos juros está entre as principais razões por trás dessa desaceleração esperada, além de um crescimento global menor.
Um outro tema relevante de discussão com os investidores estrangeiros é a trajetória da dívida bruta brasileira. O Brasil tem hoje quase R$7,0 trilhões em Dívida Pública Bruta, ou 83% do PIB, e um estoque de Dívida Pública mobiliária de R$5,2 trilhões. Esse nível de endividamento está entre os mais altos dentre os emergentes. Além disso, com a alta dos juros de longo prazo em 2021, que passaram de 6-7%a.a. para 12-13% atualmente, o serviço dessa dívida se torna um grande problema.
Como lembrou o Presidente do BCB, Roberto Campos Neto, com um crescimento de PIB de 1% ao ano e juros de 12%aa, a trajetória da dívida explode. O gráfico abaixo, elaborado pela nossa equipe Macro, mostra como piorou a dinâmica da Dívida brasileira em relação ao PIB.
Se o horizonte fiscal não ficar mais claro, a consequência será uma inflação persistentemente mais elevada, em que pese os esforços do Banco Central.