Relatório publicado por Fernando Ferreira, Estrategista Chefe e Head do Research e Jennie Li, Estrategista de Ações.
Na semana passada, o cenário político e fiscal do Brasil teve grandes e importantes acontecimentos: a sugestão de Paulo Guedes de um “waiver” (uma licença) para gastar R$30 bilhões fora do teto de gastos, e permitir a criação do novo programa de transferência de renda Auxílio Brasil, programa social que o governo pretende criar com o valor de R$ 400 mensais; o anúncio do presidente Jair Bolsonaro da possível criação do auxílio diesel, também no valor de R$400, para os caminhoneiros e a aprovação da PEC dos precatórios pela comissão especial que adia o pagamento de parte das dívidas judiciais e altera a regra de correção anual do teto de gastos , que culminou na saída de quatro secretários da equipe econômica.
Todos esses eventos indicam um enfraquecimento do arcabouço fiscal vigente no país, já que a regra constitucional do teto de gastos, principal norte para controle das despesas públicas, será menos efetiva a partir de agora, ratificando uma mudança de regime na condução da política fiscal, e não apenas uma piora da margem. Com essas novas incertezas e fragilidade fiscal, nossa equipe econômica revisou as projeções. Para 2022, reduzimos a estimativa de crescimento do PIB para 0,8% (de 1,3%) e aumentamos as expectativas de taxas de juros para 11% (de 9,25%), de inflação para 5,2% (de 3,9%) e de câmbio para R$5,70 (de R$5,10):
Com a percepção de que o teto de gastos pode ser violado, os mercados reagiram de forma muito negativa. O Ibovespa caiu mais de -7% na semana passada, a taxa de câmbio ultrapassou R$ 5,75 e as taxas de juros dispararam, com CDI de jan/2031 subindo +115bps para 13%.
Como mencionamos em nossa última edição do Sunday Xpresso, o aumento das taxas de longo prazo deve impactar as empresas brasileiras de quatro maneiras: 1) maior custo da dívida, 2) maior custo de capital, 3) competição por fluxos de investimentos e 4) menor consumo para demanda.
Estimando os impactos do Macro no Micro
Diante da mudança do arcabouço fiscal e das novas projeções macroeconômicas, buscamos, nesse relatório, estimar os impactos nas empresas sob nossa cobertura. Observamos principalmente três pontos em nossos modelos:
– Empresas com maior exposição a dívidas atreladas ao CDI: entender quais empresas podem estar expostas a maiores taxas de CDI, refletindo a expectativa de um aumento maior da taxa Selic;
– Impacto no “valor justo” das ações com o aumento do custo de capital das empresas (conhecido como Ke) por conta da subida nas taxas de juros de longo prazo;
– Exposição da Receita ao dólar: projeções de um Dólar mais alto relativo ao Real é negativo para empresas com parte de seus custos dolarizados. Nesse caso, olhamos para empresas com baixa % da receita em Dólar, na qual um aumento de custos dolarizados não seria totalmente repassado para o preço final, o que pode reduzir seus lucros.
Premissas para a nossa análise:
– Utilizamos um cenário estático até o final de 2022,que também engloba as incertezas causadas pelo período eleitoral, para nos dar uma visão de curto prazo;
– Fizemos simulações de cenário para aumento de cada 1 p.p. na taxa Selic e 1p.p. no custo de capital (Ke).
Setores com maiores dívidas atreladas ao CDI
No gráfico a seguir, mostramos os setores das empresas com cobertura XP que apresentam as maiores dívidas atreladas ao CDI, em média, mostrando quais setores podem ser mais diretamente afetados com a expectativa de aumento das taxas de juros brasileiras.
Os setores mais diretamente afetados pelo aumento das taxas de juros brasileiras, considerando suas dívidas expostas ao CDI, são Tecnologia, Mídia & Telecom (TMT), Imobiliário, Small Caps, Varejo e Transportes. Vale ressaltar que Bancos não foram incluídos no gráfico, uma vez que o setor não considera esse indicador em seus modelos e sua relação receita de juros em % do CDI tende a ser superior às despesas de juros da dívida com CDI. Portanto, os bancos devem ter um impacto positivo com a alta do CDI.
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