O agronegócio desempenha papel essencial na economia do Brasil. Segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, o setor alcançou participação de 27,4% no PIB brasileiro em 2021. No entanto, toda essa importância ainda não se reflete no mercado de capitais. Dentre as principais barreiras para as empresas do agro acessarem a bolsa, estão a baixa profissionalização do setor, a pequena quantidade de analistas especializados no segmento e a falta de entendimento dos investidores de que os ciclos do campo são diferentes.
Para Pedro Parente, presidente do Conselho de Administração da BRF, uma das principais companhias nacionais do ramo de alimentos, existem questões de natureza cultural que ainda atrapalham este segmento. “Falta reconhecimento da relevância do agronegócio pelas áreas urbanas brasileiras e pelos agentes econômicos que nelas estão majoritariamente. No dia que esse preconceito acabar e as pessoas entenderem o potencial do agro brasileiro, que é gigantesco, vamos dar um salto”, opina em entrevista à CRC!News.
Pouco a pouco, essa realidade já está começando a mudar. De acordo com a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), os investimentos em Fiagros cresceram 26% em agosto. Além disso, desde o ano passado, a B3 teve um fluxo importante de IPOs do agro. Uma das empresas que abriu capital foi a Boa Safra, especializada na produção de sementes de soja. Segundo Marino Colpo, CEO e fundador da companhia, um dos caminhos para se popularizar mais o segmento passa por uma maior educação financeira sobre sua dinâmica. E os assessores de investimento desempenham um papel fundamental nessa missão.
“Uma fábrica investe e 30 dias depois já começa a vender. No agro, o produtor vai demorar 200 para colher e mais um mês para vender. O ciclo é longo. O investidor gosta de uma empresa que dê lucro todo o trimestre, mas a gente tem uma sazonalidade muito grande. Os resultados só aparecem na fase de colheita, que pode ser dois ou três trimestres depois. Então é preciso orientar as pessoas para elas se habituarem a isso”, explica.
Por este motivo, quando ele revelou a intenção de realizar uma oferta pública, chegou a ser desencorajado pelos pares. “Você conta na mão as empresas do agro na bolsa, pois são realmente muito poucas. Quando a gente começou a falar de fazer IPO uns dois anos atrás, todo mundo falava que era impossível, pois a B3 é apenas minério de ferro, petróleo e banco. Mas estamos conseguindo provar o contrário, pois já temos mais de 40 mil CPFs como sócios que acreditam no agro e sabem dessa vocação do Brasil. As empresas do agro ainda têm um pouco de dever de casa para ser feito nessa questão de governança, mas elas estão se profissionalizando”, argumenta.
Marino acrescenta que não são apenas os investidores que estão abrindo os olhos para o setor, mas as gestoras também. Até pouco tempo atrás, era difícil encontrar uma casa com analistas especializados no setor. “Se eu conversasse com um fundo, o pessoal falava: ‘temos um analista que cuida de ferro e soja’. Apesar de serem commodities, são produtos completamente diferentes. Um é alimento, tem uma demanda dependente do clima, e o outro depende da construção civil, da fabricação de bens duráveis. Porém, já tenho visto muitas casas montando times específicos para ativos do agro. E esse maior conhecimento sobre o próprio mercado deve aumentar a demanda”, opina.
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Mercado mais atento
Dentre as empresas de investimento que vem dedicando maior atenção ao tema, está a Suno, que recentemente lançou seu primeiro Fiagro na bolsa em parceria com a Boa Safra. Esta classe de produtos, criada no ano passado, vem contribuindo para popularizar e dar acesso aos investidores do varejo conhecerem melhor o segmento agrícola. “Há muita demanda e curiosidade pelo Fiagro em nossos canais. É uma opção importante para o investidor diversificar e ter o agro em sua carteira”, afirma Vitor Duarte, CIO da Suno Asset.
“Vejo algo semelhante ao que aconteceu lá atrás com os FIIs. As pessoas não conheciam, mas aos poucos perceberam que é muito mais vantajoso do que ser dono de um imóvel. Tem menos risco, por causa da diversificação em vários prédios de diferentes localidades, conta com o apoio de gestores especializados, isenção de imposto de renda,
rentabilidade é maior e a pessoa não se preocupa com manutenção nem em encontrar locatário”, enumera Alexandre Costa e Silva, CEO do Grupo Suno.
Agora, o executivo acredita que um movimento semelhante deve acontecer no setor agro. “Poucos têm condições de adquirir uma fazenda, mas o Fiagro abre essa possibilidade com cotas em torno de R$100. O agro é o maior setor do Brasil e somos a locomotiva mundial na área. As pessoas ainda não entendem muito bem o tema, mas a partir do momento que você começa a conhecer, traz maior segurança na previsão dos resultados. Isso vai resultar em uma explosão para democratizar à pessoa física o que antes só grandes produtores e proprietários de terra conseguiam acessar”, resume.
Texto publicado na edição 56 da revista CRC!News, acesse e leia a edição completa.