Busca de informação sobre ativos via redes sociais e maior apetite por produtos de risco. Essas são algumas das características identificadas na nova geração de investidores que os escritórios se esforçam para compreender de modo a adaptar sua oferta e atendimento. As descobertas foram trazidas pelo Raio X do Investidor Brasileiro, divulgado no último mês pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), mas também já podem ser percebidas no dia a dia dos escritórios.
O levantamento mostrou que o interesse das gerações mais novas pelo tema têm se intensificado, especialmente na procura por produtos com maior risco: “A tendência é que esse processo de digitalização cresça ainda mais à medida que essas novas gerações participem do mundo dos investimentos”, afirma o presidente da Anbima, Carlos André, em entrevista à CRC!News.
A associação aponta também que as mídias sociais são muito atrativas para esse público, sendo que o YouTube é o meio mais usado para disseminação de conteúdo sobre finanças. Cerca de 32% desta faixa da população faz uso da ferramenta para se informar sobre o tema. Na sequência, vem a televisão (29%) e o Instagram (22%). Além disso, os mais jovens (entre 16 e 25 anos) representam 23% do grupo que se informa a partir do conteúdo de influenciadores. Para pessoas mais velhas, na faixa entre 41 e 60 anos, o percentual é de 6%.
Caio Tonet, sócio-fundador e head de renda variável da W1 Capital, percebe uma mudança na relação dos jovens que nasceram a partir dos anos 2000 com os investimentos. “Hoje, temos visto que a porta de entrada não são mais as ações ou rendas fixas, essa economia mais clássica. Os jovens têm focado muito no mercado de NFTs, criptomoedas”, relata.
Gamers e jovens que trabalham com tecnologia têm um interesse especial por ativos mais arriscados. Caio explica, porém, que o investidor mais novo pode ser orientado para explorar outros produtos. “Temos sempre que educar esse investidor para que ele olhe para a sua carteira como um portfólio completo, não apenas como uma aposta específica em alguma criptomoeda ou NFT, por exemplo”, pondera.
A W1 têm desenvolvido técnicas para atrair esses jovens, uma das ferramentas encontradas é estar no mesmo ambiente dessas pessoas: o digital. O trabalho no Instagram e nas demais redes sociais é uma preocupação da casa. Outra forma de atrair esse público que se informa, principalmente, pelas mídias sociais, é usar a imagem dos assessores mais jovens, que falam a mesma língua desses investidores.
No entanto, Caio alerta para a falta de personalização nas instruções passadas online. ‘O que você ouve na internet muitas vezes não é ideal para você, temos que olhar como um todo”, completa.
Daniel de Paula, sócio fundador da Nexgen Capital, conta que uma maneira de se comunicar com o público mais jovem é através de ações comerciais em locais onde os investidores estão. “Desde jogos de futebol, shows, palestras, encontros, clínicas de tênis e polo, tudo isso acaba sendo uma maneira de se comunicar e se relacionar diretamente com o público”, diz.
“O público mais jovem é mais fluido”, comenta Daniel sobre as preferências das novas gerações. “Eu gosto de falar que ele não é apegado. Mora de aluguel, opta por não ter carro”, completa. Em relação aos investimentos, o assessor explica que, dadas as características do perfil do investidor, os jovens tendem a arriscar mais.
A demanda por produtos menos conservadores — especialmente os digitais — é quase uma unanimidade na Nexgen, mesmo quando o investimento é feito com cautela. “Ninguém quer colocar uma parte relevante de patrimônio, mas ninguém quer ficar de fora da festa caso isso atinja o potencial que nós sabemos que essas estratégias têm”, finaliza.
Leia mais destaques do setor na revista CRC!News, matéria publicada na edição 38.