Em meio à aversão ao risco internacional, que se agrava pela guerra entre Rússia e Ucrânia, após os estragos deixados pela pandemia, as ações de companhias estrangeiras, conhecidas como BDRs, negociadas na B3, despertam o interesse do investidor brasileiro, principalmente de pessoas físicas.
Segundo dados da Bolsa de Valores do Brasil (B3), o número de investidores com posição em custódia em BDRs alcançou em fevereiro volume inédito de 347,1 mil investidores compostos por pessoas físicas, investidores institucionais, instituições financeiras e, entre outros, investidores não residentes.
O resultado é puxado pelos investidores pessoa física (chamados de investidores de varejo) que totalizaram 344,9 mil, o equivalente a 22,8% do total com posição em custódia, conforme os dados da B3. Os negócios desse público crescem consideravelmente em razão da entrada desse público no mercado de BDRs, a partir de 2020, segundo lembram especialistas de investimentos entrevistados pela CRC!News.
Depois que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) flexibilizou as regras, há dois anos, o número total de investidores com negócios em BDRs praticamente triplicou, de 121,9 mil em dezembro de 2020, para 306,1 mil investidores em dezembro do ano passado, mostra o relatório da B3 encaminhado à reportagem.
Já o estoque de volume negociado em fevereiro somou R$ 20,8 bilhões, contra R$ 26,6 bilhões em dezembro passado. Esse valor representa praticamente o dobro dos R$ 13 bilhões registrados no estoque de dezembro de 2020.
Participação do varejo no bolo de BDRs
Em volume negociado, contudo, os investidores pessoas físicas representam 17,3% da fatia do bolo bilionário de BDRs. Enquanto o restante dos investidores institucionais (24%), instituições financeiras (0,2%) e não residentes (57,9%) representam a maioria dos negócios, juntos com mais de 80% do total.
O especialista financeiro Flávio de Oliveira, Head de Renda Variável da Zahl Investimentos, considera fundamental a abertura do mercado de BDRs para todos os públicos de investidores. O entendimento é de que essas iniciativas criam mais oportunidades de negócios para os brasileiros no exterior que podem diversificar mais a carteira de investimentos, principalmente em tempos de crises econômica e financeiras como o cenário atual.
Para Oliveira, o ideal é que toda carteira de investimentos tenha aplicação entre 10% e 15% em ativos internacionais, pelo menos, dependendo do perfil e dos objetivos de cada investidor. Não necessariamente precisa ser negócios em BDRs, diz. “Essa não é receita de bolo, mas considero esse percentual saudável”, sugere.
Balanceamento da carteira
O CEO da Box Asset Management, Fabrício Gonçalvez, concorda que a diversificação da carteira de investimentos é extremamente importante para que o brasileiro possa “travar a carteira” de eventuais movimentos drásticos da economia.
Gonçalvez alerta, porém, para o processo de balanceamento da carteira de ativos financeiros. “Não adianta o investidor fazer um balanceamento, por exemplo, com 90% comprado Brasil e 10% fora”, diz. Nesse caso, ele aconselha aplicar pelo menos 25% de ativos (ações) nacionais e 25% no mercado internacional do total da carteira, para fazer o que ele chama de “travar a carteira” para que o investidor possa “ganhar tanto em dólar como em reais”. Ele destaca ainda a importância de distribuir o investimento em fundos, renda fixa e outros tipos de aplicação.
Praticidade
Por sua vez, o analista da Top Gain, Sidney Lima, destaca que os BDRs são ferramentas acessíveis de diversificação de investimentos, de uma forma mais objetiva e prática, principalmente para investidores com foco em dolarização.
“No mercado local temos uma série de incertezas em ano eleitoral, principalmente nas empresas relacionas ao petróleo, tornando assim os BDRS ‘um’ bom ponto de oportunidade”, destaca. “Principalmente considerando outros setores que muito sofreram com o contexto de guerra, trazendo empresas boas principalmente no setor de tecnologia para patamares de preços interessante ao olhar dos investidores”, diz.
Confira esse e outros destaques na revista desta semana.