Uma das grandes vantagens de ser assessor de investimentos está na flexibilidade de horário. Porém, será que é possível usar essa característica para conciliar o trabalho com uma segunda atividade? Para descobrir como o tema vem sendo trabalhado no mercado, a CRC!News conversou com alguns profissionais que adotam o part-time de modo a entender o que é preciso para o modelo dar certo.
No caso de Pedro Uemura, comissário de voo da Gol que desde fevereiro atua como assessor de investimentos na filial de Indaiatuba (SP) da InvestSmart, a sinergia entre ambas as profissões vem sendo essencial para o sucesso em sua trajetória dentro do mercado financeiro. Segundo ele, a opção de tentar uma nova carreira veio pelas limitações do trabalho de comissário, que não permite passar de determinado teto salarial.
“Sempre gostei de investir. Ao ver que muitos colegas da aviação possuem bom patrimônio, mas não sabem o que fazer com ele, resolvi fazer essa aposta. Como a tripulação muda a cada voo, sempre conheço alguém diferente e isso me ajuda a captar novos clientes”, revela.
Segundo Uemura, os gestores da sua unidade jamais haviam contado com um assessor part-
time, mas decidiram testá-lo durante seis meses. Após esse período, o profissional deveria largar a aviação para se dedicar exclusivamente ao escritório. “Depois que viram meu sucesso na captação, eles pediram para seguir com as duas atividades.”, diz.
Quem também vem sendo bem-sucedido com esta forma de atuação é Marcio Aquino, dono de uma empresa de intercâmbio de estudantes que há um ano começou a trabalhar como assessor da Ônix Capital. “A sinergia entre as duas coisas facilita bastante. Turismo envolve muito câmbio, crédito, e isso abre as portas para trazer pessoas para investir”, aponta.
Para Aquino, a ideia de uma segunda profissão surgiu durante a pandemia, que afetou fortemente a área de intercâmbio. Buscando diversificar as fontes de receita, ele procurou uma alternativa para trabalhar enquanto sua empresa sofria com a baixa demanda. “Como está dando certo, pretendo continuar com as duas atividades. Assessor é muito baseado no relacionamento comercial. Quanto mais pessoas eu puder conhecer, melhor”, resume.
Na visão de Roberta Santoro, fundadora da Mercado In Foco prospectar de sua outra carreira pode ser vantagem até certo ponto. Porém, com o passar do tempo, o profissional corre o risco de ficar preso e ter dificuldades em aumentar seu ticket médio.
“A pessoa vai trabalhar a demanda dentro do seu círculo de conhecidos, mas talvez falhe em extrair o máximo potencial da carteira na hora de aumentar o índice de penetração de produtos e melhorar a parte qualitativa. O momento de estratégia fica comprometido por falta de tempo. Por isso, é importante que o part-time tenha data para acabar. Em algum momento será preciso se dedicar integralmente à assessoria”, alerta.
Leia mais
Assessor Part-Time dá certo ou não no Mercado de Assessoria de Investimentos?
A Extinção do AAI. A Revolução da Assessoria de Investimentos
XP e BTG retomam disputa por espaço entre escritórios
Agenda flexível e apoio do backoffice
Cleber Bossle, gestor da filial de Caxias do Sul da InvestSmart, enumera outros pontos que considera importantes para o trabalho como part-time dar certo. “Quando aparece alguém querendo atuar neste modelo, montamos um plano de ação a quatro mãos para projetar como vai ser para conciliar reuniões, prospectar e ter intensidade. Uma coisa que ajuda bastante é contar com um bom backoffice, para a pessoa deixar de lado o operacional e focar apenas no comercial. Como o tempo será reduzido, otimizá-lo é fundamental”, opina.
Na Ônix, o backoffice está sendo estruturado agora. Assim, Aquino acredita que ficará mais fácil conciliar as tarefas. “Cada assessor precisava fazer o operacional, o que toma muito tempo. A partir do momento que eu não tiver de fazer a parte burocrática, ficarei mais livre para estar na rua e prospectar, melhorando meus números”, projeta.
Já Uemura acrescenta que não seria capaz de seguir adiante com duas carreiras se tivesse de fazer toda a parte operacional. “Minha estratégia é voltada para renda variável e derivativos. Tenho 50 clientes e a demanda é muito alta.”
A disponibilidade de horário também é determinante para as coisas darem certo. Afinal, fica quase impossível para o assessor dar a atenção necessária às carteiras dos clientes caso tenha de cumprir uma agenda rígida em seu outro trabalho. “É preciso ter controle sobre o seu tempo. Acho muito difícil essa conciliação dar certo com um CLT ou com algum empregador que tem forte cobrança em relação a horário”, diz Aquino.
“A maior dificuldade para quem fracassa como part-time é a falta de disponibilidade de tempo. Outra barreira é quando as duas atividades são muito descorrelacionadas. Por fim, existem profissões que podem gerar conflitos de interesse. Então é preciso analisar muito bem caso a caso para ver as chances de dar certo”, acrescenta Bossle
Roberta também costuma avaliar alguns requisitos para saber as chances de o assessor dar certo como part-time. Para ela, o primeiro ponto é entender qual o contexto desse profissional. “Muita gente faz isso no momento da transição, pois busca entender como é ser assessor sem largar sua outra profissão. Isso é preocupante. Na prática, pode criar uma zona de conforto que impede a pessoa de se dedicar ao máximo. Ela não corta o cordão umbilical pois sabe que se algo der errado terá para onde voltar.”
Por outro lado, o modelo pode ser muito bem-vindo no caso de profissionais veteranos, que estão se aposentando, mas não querem ficar parados. “Nesse momento da vida, pode-se utilizar todo o networking acumulado ao longo da carreira a seu favor”, completa.
Texto publicado na edição 61 da revista CRC!News, acesse e leia os principais destaques do setor.