Na última quarta-feira (21), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu colocar um fim ao maior ciclo de alta dos juros do Brasil desde 1999. Ao longo do processo, a Selic saltou dos 2% registrados em março de 2021 para 13,75% agora em setembro. A CRC!News conversou sobre o tema com representantes de dois escritórios: a Veedha Investimentos, vinculada à XP, e GWM Investments, plugado ao BTG. Confira.
Rodrigo Marcatti, CEO da Veedha Investimentos.
A notícia de manter a Selic no mesmo patamar foi recebida de forma positiva pelo mercado? Por quê?
O consenso já era esse. Por isso, o impacto no mercado da manutenção é neutro. Olhando para a frente, não esperamos que vai começar a cortar juros tão cedo. Existe uma inércia na elevação da Selic. Os efeitos só começam a ser observados na economia depois de seis meses. Então será preciso aguardar um pouco. Não há como prever que a taxa será reduzida em breve. Talvez fique para o segundo semestre de 2023.
Pela primeira vez em anos, a decisão do Copom não foi unânime. Como você interpreta este fato? Ainda é possível termos novas elevações?
Depois de seis anos, dois diretores discordaram e falaram em elevar mais ainda a Selic. Isso mostra que o Banco Central ainda está preocupado com a alta inflacionária. Tivemos uma redução de imposto sobre os combustíveis que não é sustentável, e no começo do ano que vem, quando eles acabarem, devemos ter um novo choque. Mas é muito improvável termos novas elevações. Devemos manter no patamar que está, a não ser que um fato novo surja.
E quais as estratégias de alocação diante deste cenário? É o momento de se olhar para títulos pré fixados?
Gostamos de olhar para a taxa de dois anos para a frente. Já tivemos momentos melhores para fazer posição nos prés. Mas se vier recessão e a economia mundial de fato começar a decrescer, podemos ter a aceleração da queda de juros. Isso pode ser bom para quem travar em cinco anos, por exemplo. Em relação à bolsa, estamos discutindo há um bom tempo que ela está barata. Quem tem apetite para risco e visão de longo prazo, vai encontrar oportunidades interessantes.
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A notícia de manter a Selic no mesmo patamar foi recebida de forma positiva pelo mercado? Por quê?
Para a maior parte do mercado, essa decisão do Copom já era algo esperado. Estava em aberto a possibilidade de elevar em 0,25%, mas as chances eram pequenas. Agora, nossa avaliação é que a ideia será manter a taxa Selic neste nível de 13,75% por um período maior de tempo para poder controlar a inflação
Pela primeira vez em anos, a decisão do Copom não foi unânime. Como você interpreta este fato? Ainda é possível termos novas elevações?
A ideia é manter a taxa neste nível durante um tempo justamente por conta do cenário mais incerto. Temos uma pressão inflacionária grande no exterior, com os Estados Unidos cada vez mais aumentando sua taxa de juros. Não quer dizer que a gente tem dificuldade de controlar a nossa, mas que existe uma influência alta lá de fora. Se a situação externa piorar e nossa inflação não reagir como o esperado, há chances de voltar a subir.
E quais as estratégias de alocação diante deste cenário? É o momento de se olhar para títulos pré fixados?
Isso varia muito de acordo com o portfólio. Tem alguns com perfil mais conservador que não vamos expor no pré. Outros, um pouco mais agressivo, pode ser uma opção. É preciso cautela por são produtos que trazem mais risco por travarem a rentabilidade. Se a Selic voltar a subir, a pessoa fica com um título desvalorizado. Por isso, o melhor é sempre diversificar. Mas entendemos que já estava atrativa um mês atrás a opção de travar nesta taxa mais alta. Agora, com a manutenção, ficou mais interessante.
Texto publicado na edição 53 da revista CRC!News, acesse e leia a edição completa.