As incertezas que rondam uma eleição costumam trazer grande volatilidade ao mercado. Neste ano, além do processo eleitoral, outros fatores contribuem para aumentar as dúvidas, como a alta da inflação, as taxas de juros elevadas e até mesmo a guerra entre Rússia e Ucrânia. Diante deste cenário complexo, muitos investidores ficam inseguros sobre o momento certo de entrar na bolsa e em quais setores apostar, e acabam demandando maior orientação e acompanhamento dos assessores.
Segundo Jorge de Almeida Silva, fundador e CEO da Fortuna Investimento, escritório credenciado junto à Ágora, do Bradesco, a quantidade de pessoas que buscam atendimento movidas por um sentimento de insegurança e preocupação cresceu. “Buscamos tranquilizar, explicando que já passamos por esse ciclo em outros momentos e as coisas tendem a se acertar com o tempo. Além disso, hoje contamos com instrumentos e uma legislação que tornam muito mais difícil repetir problemas do passado. Assim a pessoa pode dormir tranquila independentemente da sua posição política”, diz em entrevista à CRC!News.
Nesse sentido, Silva diz privilegiar na renda variável uma estratégia com foco em empresas provedoras de necessidades essenciais, que são menos afetadas dentro de um contexto de indefinição. “Temos privilegiado negócios que são bons geradores de fluxo de caixa e que ocupem uma posição primária dentro da pirâmide de Maslow, como o setores de energia e bancário, que historicamente pagam bons dividendos, o de saneamento e o de seguros, que são muito perenes. Não importa o que venha a ocorrer, não tem como deixar de consumir deles”, enumera
O aumento da preocupação por parte dos investidores também foi notado por Felipe Giacomini, sócio e assessor da Manhattan Investimentos. “Temos feito alguns eventos para tratar do tema com caráter mais técnico, sem politizar. Em geral, as dúvidas vão de encontro à questão fiscal do país com o próximo presidente. Eles olham os pares na América do Sul, como a Argentina que está com inflação projetada de 70% para o próximo ano, e ficam com medo de algo assim acontecer”, explica.
Na visão de Mário Tomadon, sócio responsável pela área de renda variável e derivativos da AFS Capital, a eleição deste ano está muito bem mapeada, pois os dois principais candidatos são bastante conhecidos pelo mercado. Assim, fica fácil prever as possíveis implicações da vitória de um e de outro e montar estratégias com base nestes cenários.
“Não vejo insegurança na eleição de nenhum dos dois. A maior diferença está nas estatais, mas não vejo como um risco, apenas como um ponto de atenção. Acredito que a bolsa está com uma tendência de alta. Porém, temos recomendado que as pessoas operem com estruturas de proteção, através de derivativos”, exemplifica.
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Momento favorável
Apesar das incertezas, Kleyton Bueno, sócio da Ável Investimentos, acredita que é um momento favorável para quem busca se posicionar em renda variável. Para ele, vivemos um cenário macro semelhante ao do impeachment da Dilma, com juros futuros altos e as ações e fundos imobiliários em múltiplos descontados.
“Nas últimas seis semanas, entrou muito fluxo estrangeiro. A Rússia está em guerra, a economia da Índia se limita a commodities e a Argentina está quebrada. Então o não-residente vê o Brasil como uma boa opção entre os emergentes. Ele sabe que nosso público investidor ainda é pequeno e consegue deter o controle da maior parte do mercado”, resume.
Giacomini também vê boas oportunidades na bolsa, com ações a bons preços e potencial de alta a partir da inversão do ciclo de juros. “O setor de commodities ainda continua bem forte. O segmento de proteína animal também vemos com bons olhos, assim como a construção civil e o varejo, que podem ganhar fôlego com a queda da Selic”, cita.
Apesar do otimismo, Bueno faz alguns alertas. “Muita gente acredita que basta alocar em BDR para diversificar a carteira. Porém, além da indexação ao dólar, esses papéis estão atrelados ao mercado internacional, que não vive um momento muito saudável. Outro ponto são as small caps, que as pessoas costumam comprar perto da eleição prevendo uma disparada com o resultado. Mas essa é uma aposta arriscada, pois se a empresa não tem bons fundamentos, não é a troca de presidente que vai mudar isso”, argumenta.
Foco na tranquilidade
Além dos aportes em bolsa, os especialistas também vêem boas oportunidades na renda fixa, especialmente para os que buscam maior tranquilidade neste período. “Temos priorizado os títulos pré-fixados com prazo de 6 a 24 meses no máximo, isentos de IR e com emissor triple A se for acima de R$250 mil, ou com FGC se for abaixo deste valor”, afirma Silva.
Já Tomadon vê uma sinalização do Banco Central de que não haverá mais alta nos juros para também defender o momento dos pré-fixados. “Tivemos IPCA negativo no mês passado e provavelmente teremos de novo este mês, então é uma boa hora para apostar em títulos LCI, LCA e também para ter parte da carteira no CDI”, resume.
Por fim, Giacomini vê alguns riscos em apostar no pré-fixado neste momento, dada a possibilidade de a inflação se elevar ainda mais. Por este motivo, a Manhattan tem dado preferência a papéis atrelados ao IPCA+. “A renda fixa viveu um momento desfavorável no meio de 2020, quando tivemos um juro real negativo no curto prazo. Aquele paraíso dos rentistas foi dizimado. Agora, o cenário mudou e temos títulos muito bons com juros quase 8% acima da inflação projetada. Isso abre um mar de oportunidades”, encerra.
Texto publicado na edição 49 da revista CRC!News, acesse e leia todos os destaques do setor AI.