Com os seguidos aumentos da Selic, que alcançou 13,25%, maior patamar desde 2016, e a expectativa de elevação da taxa de juros nos Estados Unidos, concretizada em 0.75 ponto percentual, algo que não ocorria desde 1994, muitas assessorias reajustaram suas estratégias de alocação e até mesmo readequaram o atendimento para dar conta da guinada do mercado em direção à renda fixa. A CRC!News conversou com alguns escritórios de investimentos para entender como este movimento tem afetado o mercado e como cada negócio tem reagido ao atual momento.
No caso da Wide Investimentos, o CEO Paulo Gonçalves revela que a aposta vem se dando principalmente em títulos de governo prefixados com prazo de quatro a sete anos, pois a assessoria acredita que, quando a Selic cair, eles devem trazer bons retornos. Para os investidores moderados, há recomendação de fundos multimercado, enquanto os mais agressivos já podem olhar para fundos imobiliários, pensando na lógica dos juros, e em ações trabalhadas em conjunto com opções, de maneira a minimizar os riscos.
“No início estávamos em ativos pós-fixados e na inflação, pois não sabíamos onde esse movimento iria parar. Agora, entendemos que está no final e começamos a focar no prefixado. Fizemos um trabalho de educação para nossos assessores entenderem como a queda futura dos juros deve afetar os títulos que estamos apostando. Além disso, explicamos que as taxas pagas por debênture, CDB e Tesouro Direto podem até ser iguais, mas o ágio de cada papel no mercado secundário faz muita diferença para o cliente, e queremos levar esse diferencial”, afirma.
A GR Capital, por outro lado, segue com alocações maiores em títulos pós-fixados por entender que ainda não há uma sinalização de queda dos juros. De acordo com Mariana Hauer, sócia do escritório, a bolsa representa um risco muito alto para se buscar um retorno pouco significativo em relação à renda fixa. Apesar disso, ela vê oportunidade em fundos multimercado e FIIs, cujas cotas estão bem abaixo dos valores históricos e devem se beneficiar de uma retomada futura da economia.
“O setor financeiro está entre os que mais se beneficiam da alta de juros, enquanto o varejo ainda deve sofrer um pouco mais, pois Selic alta pressiona demais o consumo. Passamos a fazer reuniões conjuntas entre os especialistas em renda variável e os assessores que estão em contato direto com o cliente, e aumentamos nosso time de apoio para dar maior suporte aos clientes em um momento de volatilidade”, diz.
Entre o pré e o pós
Para Rodrigo Marcatti, CEO da Veedha Investimentos, o cenário é indicado para títulos prefixados, pois na sua visão a Selic está perto do teto. Ele revela que, dois anos atrás, as posições de renda fixa com cupom de inflação representavam menos de 2% das alocações do escritório, mas hoje já respondem por 10%.
“Vemos com bons olhos algo atrelado ao CDI por conta da liquidez. Isso vai permitir ao investidor que tem caixa ficar livre para aproveitar as janelas de oportunidade que aparecem nos momentos de crise. Aqueles que possuem uma visão mais de médio e longo prazo vão encontrar ações e fundos imobiliários muito descontados e que devem se valorizar quando a inflação estiver sob controle e os juros começarem a baixar”, explica.
Já Marcos Nogueira, head de renda variável da Alpes Investimentos, afirma que o mercado espera mais uma alta da Selic para 13,75%, e depois disso a discussão será por quanto tempo ela permanece nesse patamar e quando começará a cair. Para ele, o país não deve conviver por muito tempo com os juros tão elevados, pois isso leva as pessoas a tirarem recursos da economia real para jogar em aplicações.
“A palavra chave para 2023 será a Selic caindo. Por isso, vejo uma boa oportunidade para aproveitar essa janela de dois dígitos através de papéis privados isentos de IR ou atrelados ao IPCA+. Vamos conviver por um bom tempo com inflação na casa dos 6 ou 7%, e faz todo o sentido alongar as taxas reais de agora por mais três ou quatro anos. Além disso, começa a fazer sentido se posicionar na renda variável visando o ano que vem, especialmente no caso de quem está com pouca alocação e reúne algum recurso disponível”, recomenda.
Por fim, Ivens Filho, diretor da Suno Wealth e da Suno Consultoria, vê um cenário adequado para o pós-fixado, por entender que ainda não é possível determinar se o ciclo de alta se encerrou. Para tentar pegar a taxa no pico, ele entende que a decisão pelo pré só deve ocorrer após a próxima reunião do Copom, caso haja sinal do fim das elevações. Já em relação à bolsa, o especialista acredita que há grandes oportunidades para se pegar ativos bons com valores atrativos.
“Para quem tem dinheiro, talvez seja o momento mais indicado para se entrar na renda variável, especialmente nos setores bancário, de seguros, e até mesmo de petróleo. A B3 apanhou bastante nas últimas semanas e todos os segmentos estão depreciados, Aí entra análise micro e individualizada de cada empresa, para se identificar quais papéis valem a pena”, completa.
Matéria publicada na edição 40 da revista CRC!News, acesse e leia todos os destaques do setor de assessores de investimentos.