Ter uma prateleira diversificada de produtos, mas sempre mantendo um selo de qualidade próprio. Essa é a receita apontada pelo CEO Walter Maciel para o bom momento vivido pela AZ Quest, que hoje conta com mais de R$20 bilhões sob gestão. “Gestoras 100% dedicadas à renda variável estão tendo um ano difícil. Nós também estamos com um pouco de dificuldade nessa área. Mas crédito está bombando, arbitragem também, os fundos macro estão indo bem demais. A diversificação torna o negócio menos vulnerável e traz equilíbrio ao longo do tempo”, aponta.
Em entrevista exclusiva à CRC!News durante o 11º Seminário Gestão de Investimentos nas EFPC, realizado nos últimos dias 8 e 9 no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, o executivo trata do momento de consolidação vivido pelo mercado de investimentos, fala dos desafios enfrentados pelas empresas menores que buscam sobreviver neste meio e mostra otimismo em relação ao momento vivido pelo país na comparação com os demais pares emergentes. Confira!
Nas últimas semanas, vimos uma série de movimentos dos gigantes do mercado de investimentos. Como você avalia esse momento de expansão e contratações no setor?
Eu acho que está cada vez mais difícil para os pequenos não só na gestão de patrimônio, mas também na gestão de investimentos. É um movimento de consolidação do mercado como um todo, e a indústria do segmento financeiro não foge muito do que está acontecendo com outros setores. Ser pequeno hoje é muito mais difícil pela questão de custos. Existe uma barra regulatória mais ampla. Por outro lado, você tem ainda uma dominância dos grandes bancos, com muita estrutura, e acho que isso ainda deve continuar por muito tempo, mas talvez a presença física de agência não seja mais tão necessária. Há uma oportunidade grande e que está sendo bem explorada de pegar gerentes de agência, gerentes de conta, e dar oportunidade para que eles se tornem empreendedores. São duas dinâmicas atuando nessa direção, e acho que a consolidação vai continuar e, inclusive, se acelerar nos próximos meses.
Como a AZ Quest está em relação a este cenário? Vocês estão investindo em expansão, estão em um momento de consolidação?
Estamos investindo bastante. Temos uma prateleira de produtos líquidos talvez única no país, que inclui macro, renda fixa, fundo de ações, crédito privado, debêntures incentivadas, a turma de arbitragem. Trouxemos há alguns meses um time quanti. Agora, nesta semana, adicionamos mais uma equipe que é um time agro, para contarmos com Fiagro e produtos listados. Vamos continuar nessa direção, olhando para novas capacidades como crédito imobiliário, infraestrutura. Nossa ideia é ser uma empresa que tem soluções para todo tipo de perfil de cliente, com uma prateleira de produtos diversificada, mas mantendo um selo de qualidade e controle de risco. Acho que esse é o futuro. Estamos hoje com mais de R$20 bilhões sob gestão, nosso topo histórico, o que mostra que mesmo em mercados difíceis, se você tem uma boa estratégia, uma boa equipe, e segue um caminho, as coisas dão certo.
Esse aumento do leque de produtos se traduz também em aumento de pessoal e em investimentos em infraestrutura de tecnologia, espaço e equipe de apoio?
É muito mais fácil em uma empresa como a nossa porque temos um time de risco, um time de backoffice, um time comercial que serve a todas as áreas de gestão. Então acaba ficando uma estrutura mais barata. Precisamos crescer principalmente a equipe de gestão contratada. Já aquele time que presta o serviço serve a todos os demais. Então você vai ter um custo marginal por equipe mais barato. Se eu fosse montar uma gestora de uma estratégia só, teria talvez metade do custo que eu tenho hoje para oito estratégias.
Você comentou que está cada vez mais difícil para os pequenos sobreviverem. Qual é o caminho para os menores? É se especializar em algo? Ou é ser absorvido pelos grandes?
Existem histórias de sucesso de todo jeito. Não estou dizendo que o negócio boutique não vai dar certo, mas o risco de mortalidade é muito maior. Quem lança uma empresa tem 24 meses para fazer dar certo e chegar a R$1 bilhão sob gestão. Se não conseguir, vai encontrar dificuldade de pagar bem a equipe. Isso deixa o negócio muito vulnerável a gestoras, bancos ou outras instituições financeiras levarem seus melhores profissionais. E sem um time de qualidade, você não consegue entregar performance.
A tendência hoje é consolidação, mas temos vários exemplos de quem centrou em um produto só e teve sucesso. Imagina um banco que resolve ter um único item. É muito mais difícil do que quando você dá cartão de crédito, seguro da casa, automóvel, financiamento imobiliário, investimento, CDB. Com mais produtos, é possível servir melhor o cliente e fica-se menos exposto a um ciclo. Gestoras 100% dedicadas à renda variável estão tendo um ano difícil. Nós também estamos com um pouco de dificuldade nessa área. Mas crédito está bombando, arbitragem também, os fundos macro estão indo bem demais. A diversificação torna o negócio menos vulnerável e traz equilíbrio ao longo do tempo.
No ano passado, vocês receberam uma participação societária da XP. Qual o impacto disso no negócio? O que mudou desde então?
Ganhamos um grande sócio, mas continuamos na mesma linha. Entrou a XP, que já tem investimento em outras gestoras e é um grande parceiro de longo prazo nosso. Mas não foi uma coisa oportunista, é algo que amadureceu de um relacionamento de mais de dez anos, além disso, somos a única asset investida pela XP private equity. Eles acreditam que podemos ser um veículo de crescimento, de consolidação. Ter as duas XPs na nossa sociedade ajuda demais na governança. Ninguém conhece melhor distribuição do que eles, e isso nos ajuda a entender as necessidades do investidor. O private equity reúne especialistas em olhar para empresas e melhorar a gestão, levando o negócio para um outro patamar. Ganhamos força com parceria e no entendimento do negócio. Mas somos totalmente independentes. Nenhuma matéria operacional vai para conselho. É uma empresa moderna, muito parecida com o que tem lá fora, e o nosso objetivo é continuar crescendo, trazendo novas estratégias e fortalecendo a equipe.
Como você vê o momento do país em termos de investimento?
Acho que o Brasil está em um momento de autoestima baixa. O país é muito melhor do que nossos pares emergentes. Não tivemos a troca de três presidentes do Banco Central como na Turquia. Não temos um presidente que anuncie um dia antes do encontro do Banco Central a decisão do Conselho Monetário, como no México. Não temos tabelamento de preços e impostos para exportação, como na Argentina. Não estamos envolvidos no conflito Rússia e Ucrânia. Vejo todo mundo apavorado com as eleições, mas os dois candidatos já foram presidentes e são conhecidos. O nível de incerteza não é tão alto e nenhum dos dois vai botar o país em risco. Ambos tiveram desempenho econômico bastante favorável em seus mandatos. As pessoas querem redução de risco, maior visibilidade, conforto e tranquilidade, mas com preço baixo. Quando isso tudo chegar, os preços vão estar lá em cima. Então hora de aumentar a exposição a ativos de risco é agora.
Entrevista publicada na última edição da revista CRC!News, acesse aqui para ler a edição na íntegra.