Uma reunião de especialistas para realizar um balanço e apontar as melhores apostas para o mercado financeiro em 2022. Este foi o clima da conversa, realizada durante o painel “Ibovespa: os segmentos mais promissores para o próximo ano”, que integrou a programação online do Safra Trends 2023. O encontro contou com a participação de Louise Barsi, sócia-fundadora da AGF, e Cauê PInheiro, Conrado Vegner, Luana Nunes, Ricardo Boiati e Vitor Pini, do time de research do Safra.
Louise abriu os debates fazendo um balanço deste ano, apontando que ele foi bastante positivo. “Quem coleciona ações conseguiu aumentar o portfólio pagador de dividendos. Também vemos muitas oportunidades na renda fixa. É a hora de guardar a lupa e tirar o binóculo da carteira”, disse.
Já Cauê Pinheiro caracterizou 2022 como um ano difícil, por ter se iniciado em meio a um ciclo de alta de juros, contar com uma guerra e ainda ter eleições. “Trata-se de uma época em que os governos aumentam gastos e tentam trazer propostas mais populistas. Isso cria uma dificuldade muito grande de enxergar o cenário, mas mesmo assim conseguimos entregar uma performance bem relevante em nossas carteiras.”
Para Luana, chamou atenção como tudo se inverteu do primeiro para o segundo semestre no mercado por conta do processo eleitoral. Para 2023, ela projeta um preço alvo de 130 mil pontos para o Ibovespa. “Vemos com bons olhos as empresas com receita mais dolarizada por conta de um cenário externo de maior incerteza. Ao mesmo tempo ficamos de olho nas small caps, que apresentam boas oportunidades”, apontou.
A sócia-fundadora da AGF também revelou suas preferências para o próximo ano. Segundo ela, há uma dificuldade para entender como ficará o ciclo de investimento, mas as políticas do próximo governo tendem a favorecer o rentismo.
“Priorizamos empresas com posicionamento mais robusto de caixa para passar com mais estabilidade durante essa turbulência. A bolsa está muito descontada. É preciso parar de focar em como investir em 2023 e mirar em negócios que serão bons pelos próximos de 10 anos para fugir dessas oscilações e ciclos políticos que sempre serão turbulentos”, opinou Louise.
Pinheiro acrescentou que vê a bolsa com pelo menos 30% de desconto em relação ao histórico, o que favorece empresas mais defensivas e com boa capacidade de gerar resultado. “Vejo com bons olhos ações de commodities, empresas de utilidade básica, seguros e serviços financeiros, como BB Seguridade e Porto. Elas têm rentabilidade alta, pagam bons dividendos e se beneficiam dos juros altos de certa forma”.
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Análises setoriais
Na área de varejo, Pini destacou que o segmento farmacêutico tende a sentir menos as oscilações conjunturais por conta do envelhecimento da população brasileira, cujo processo deve resultar em maior consumo de medicamentos. De acordo com o especialista, trata-se de um mercado que cresceu uma média de 10% ao ano de 2000 a 2010, acelerou essa taxa na última década para 13% e esse movimento deve continuar agora.
“Existe muito espaço para consolidação, pois as grandes marcas nacionais representam apenas 40% do mercado, enquanto nos EUA chegam a 80%. Quem busca ter menos dor de cabeça recomendo a Raia Drogasil, que apesar dos múltiplos altos mostra capacidade para continuar crescendo. Já no campo das small caps, gosto da Panvel, que tem apresentando um desempenho interessante abrindo lojas e aumentando a produtividade e as margens da companhia”, resumiu.
Ricardo Boiati, por sua vez, detalhou um pouco das estratégias voltadas para o segmento de saúde. Para ele, as operadoras sofreram muito com o estreitamento das margens de lucro, pois os custos se elevaram e elas acabaram absorvendo a maior parte dos impactos, pois os reajustes dos planos são apenas anuais. Por isso, ele vê com melhores olhos os hospitais, que têm maior flexibilidade para repassar esses gastos.
“Gosto de uma tese um pouco mais arriscada que é a Rede D’Or, pois tem histórico consistente de 15 a 20 anos. Já quem quer ficar menos exposto tem como opção a Fleury. A recomendação é sempre calibrar o risco no tamanho da posição. Tenha uma alocação um pouco menor para não ficar muito exposto”, sugeriu.
Por fim, Conrado Vegner fez uma análise para o setor de construção, destacando que a alta dos juros impactou bastante as empresas com empreendimentos voltados para média e alta renda. Por outro lado, as de caráter mais popular e que se enquadram dentro do Minha Casa Minha Vida devem seguir com boas perspectivas para o próximo ano.
“Gosto de dividir as construtoras populares em dois segmentos. No primeiro, voltado para a faixa entre 1,5 e 2 salários mínimos, as empresas sofreram muito com a inflação de custo e não conseguiram repassar isso. É o caso da MRV e Tenda, que dependem de ajustes do governo para verem sua margem restabelecida. Já as de faixa 3 puderam repassar preços, como a Direcional e a Cury. Elas cresceram forte e devem seguir assim em 2023. São o porto seguro no segmento de construção”, encerrou.
Texto publicado na edição 64 da revista CRC!News, acesse e leia os principais destaques do setor.