A quantidade de pessoas que recorre a gerentes ou assessores como primeira opção na hora de se informar sobre investimentos, seja de forma presencial ou à distância, é equivalente à proporção de pessoas que buscam esse aconselhamento prioritariamente junto a amigos, parentes ou influenciadores digitais.
O empate de 26% na preferência entre atendimento especializado (sendo 21% na modalidade presencial e 5% à distância) e não especializado (sendo 20% de amigos e parentes e 6% de influenciadores), revelada pela última edição do Raio-X do Investidor da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), mostra que, ainda que os assessores tenham um papel relevante nas escolhas do cliente, essa decisão precisa ser validada por pessoas de sua confiança.
“De um lado, esse dado mostra uma posição de destaque dos assessores, mas por outro revela que falta algo para o cliente se sentir totalmente confortável com essa relação. O fato de falar com a família não significa que a pessoa não conversou com o gerente, mas a pessoa tem necessidade de ratificar o que ouviu com alguém em quem confia”, opina Marcelo Billi, superintendente de Comunicação, Certificação e Educação de Investidores da ANBIMA em entrevista à CRC!News.
Outro dado importante trazido pelo estudo é que 32% daqueles que usam canais digitais para se informar sobre investimentos preferem o YouTube. Para Billi, o crescimento dos influenciadores mostra essa necessidade de as pessoas buscarem algo mais, a despeito do aconselhamento especializado que recebem nas instituições.
“Os médicos vivem um dilema parecido, com os pacientes que já chegam ao consultório com um diagnóstico obtido em pesquisas na internet. Os influenciadores perceberam o vácuo deixado pelos grandes jornais, que abandonaram a cobertura de investimento, e cresceram em cima dessa demanda por informação neutra e independente”, revela.
Segundo o superintendente da ANBIMA, embora muitas pessoas ainda se preocupem em buscar informações junto a profissionais certificados, elas raramente sabem diferenciar se estão falando com um gerente, um agente financeiro ou um assessor de investimento. Além disso, ainda que a fonte onde as pessoas se informam sobre investimentos mude com a idade, a busca por parentes e amigos se mantém constante em todas as faixas.
“Isso mostra o quanto as pessoas precisam de uma relação de confiança para tratar deste tema. E o assessor de investimentos precisa se preocupar em como construir isso no mundo digital. O que devemos mudar na preparação dos profissionais, nos cursos e nas certificações para nos adaptarmos a essa nova realidade?”, questiona.
Entendendo a cabeça do investidor
Além de identificar as preferências do investidor na busca por informações, a edição 2022 do Raio-X da ANBIMA trouxe outras descobertas. Dentre elas, está a diminuição da vantagem da segurança como principal fator para a tomada de decisões sobre investimento entre as classes A, B e C. Se até antes da pandemia a tendência era de queda, passando de 44% para 36% entre 2017 e 2019, o movimento sofreu um revés com a crise sanitária, que fez com que a segurança voltasse a ser a principal vantagem das aplicações para 43% dos entrevistados em 2020.
Ao mesmo tempo, o retorno financeiro, que vinha ganhando espaço na preferência do investidor (de 16% em 2017 para 19% em 2019), também retrocedeu um ponto percentual durante a pandemia. Contudo, com a diminuição de óbitos, as tendências de antes da crise sanitária voltaram a se manifestar no ano passado, quando a segurança foi apontada como a principal vantagem por 37% dos investidores, enquanto os que visam primeiro o lucro, passaram a 20%.
“Ao longo dos anos, o mundo financeiro foi organizado em torno de produtos. O foco estava em ofertar e explicar as vantagens de cada aplicação. No entanto, os estudos vêm mostrando que as decisões sobre investimentos não dependem apenas das informações, mas também de aspectos comportamentais de cada indivíduo. Hoje, muitas iniciativas colocam as pessoas no centro, e é por isso que levantamentos como esse são tão importantes para entendermos o funcionamento da cabeça do investidor e adaptarmos nossas estratégias de modo a tornar a vida do cliente mais fácil”, encerra Billi.
Leia todos os destaques do setor na revista CRC!News, texto publicado na edição 35.