Com apenas três anos de existência e R$1,1 bilhão sob custódia, a Monet Investimentos, que possui expertise no atendimento de clientes private, alta renda e XP Empresas, foi criada a partir da insatisfação dos quatro sócios fundadores com o modelo tradicional em que trabalhavam.
Para entender como a história deles começou e quais são os objetivos para os próximos anos, a CRC!News entrevistou Gabriella Valadares, uma das fundadoras do escritório. Entre outros assuntos, ela compartilha como entrou no mercado financeiro e os problemas que já enfrentou por ser mulher nesse meio. Confira a entrevista na íntegra.
Como foi o seu início no mercado financeiro?
Eu estou no mercado financeiro há 15 anos. Sou graduada em Direito, mas brinco que escolhi o Direito e o mercado financeiro me escolheu. Vim parar aqui por um acaso.
Eu tinha feito o concurso do Banco do Brasil quando ainda estava na faculdade e, ao ser convocada, eu já tinha terminado o curso. Nesse meio tempo, eu queria muito fazer o concurso do Ministério Público, cheguei até a última fase e não passei na prova aberta. Com o trabalho no banco, resolvi que ia dedicar seis horas do meu dia estudando para tentar o MP de novo. Só que a realidade foi um pouco diferente.
O banco exigia muita dedicação. Cheguei sem saber nada da área bancária. Tive que aprender muita coisa, e nesse esforço fui participando das promoções internas. Para uma pessoa que entrou no banco há um ano, eu tinha avançado bastante e alcancei o gerencial. Daí em diante, eu não pensei mais em voltar para o Direito. Então foram 12 anos no Banco do Brasil.
Qual foi o momento em que percebeu que precisava trocar o seu modelo de trabalho e ir para a assessoria de investimentos?
Pedi demissão em 2018 e, quando isso aconteceu, eu era gerente de uma equipe dentro do banco. Já estava pensando para onde iria minha carreira depois dali. Eu até conto algumas histórias no LinkedIn, porque tive alguns problemas no banco por ser mulher. Enfrentei muitas barreiras que eu sei que várias mulheres enfrentam até hoje em outras instituições. Cheguei a ouvir de gerentes que com 30 era hora de a mulher ter filho e, portanto, não me indicariam para uma promoção por se tratar do momento de eu focar na minha vida pessoal.
A partir disso, eu comecei a repensar algumas coisas, né? Se era realmente para mim aquele modelo e estratégia.
Quando fiz a certificação do CFP®, que era até uma exigência para ser banker, vi que eles ensinavam a buscar o melhor para o cliente, a focar no cliente e compor patrimônios de acordo com o risco e objetivos. Eu sempre me incomodei muito em não conseguir fazer o que eu realmente queria porque estava sendo direcionada por métricas.
Nós, no mercado bancário, costumamos a falar “estou vendendo isso que o banco está mandando porque eu preciso pagar minhas contas”. Quando se chega nesse ponto de questionar se o que você está fazendo é porque precisa do dinheiro, provavelmente você não está fazendo o que gosta.
Mas eu até brinco nas lives que eu faço que não é uma decisão que se toma da noite para o dia. Eu já vinha me preparando, pensava em uma outra perspectiva de vida.
A Monet Investimentos surgiu em que momento nessa virada de chave?
Foi quando eu comecei a olhar o mercado e conheci a XP.
Eu tinha outros colegas que também estavam com questionamentos semelhantes. Os outros três sócios fundadores trabalharam comigo durante muitos anos no Banco do Brasil e, durante uma conversa informal, cogitamos nos juntar e fazermos algum projeto fora do sistema bancário convencional.
Sabíamos da resistência do brasileiro em pagar por um serviço de gestão de patrimônio, já que no modelo tradicional ele não paga por isso. Então, o melhor caminho que encontramos foi o modelo de assessoria, no qual o cliente continua sem pagar, porém você tem a liberdade de realmente atender a pessoa dentro dos objetivos, dentro dos riscos, dentro do que você conhece.
Nós quatro, como trabalhamos com o público private e tínhamos uma grande experiência, tínhamos a proposta de montar uma assessoria voltada para esse cliente. Ao olhar o mercado, percebemos que poucas assessorias tinham esse know-how quando decidimos abrir. Hoje, já existem mais escritórios com essas características, mas a gente percebeu que naquela época, há três anos, o modelo era muito voltado ao varejo.
Então, o nosso escritório tem a proposta de justamente fazer esse atendimento mais personalizado e, por causa disso, nós temos um ticket mínimo.
Qual é o momento atual do escritório de vocês?
Hoje, trabalhamos com soluções customizadas, e nem tem como ser diferente porque realmente a forma como a gente se propõe a atender o cliente não dá para ser voltado a duzentas, trezentas, seiscentas, mil pessoas como os bancos fazem ali com o gerente de conta.
Então, a Monet é um escritório que tem ao todo em torno de quinhentos clientes divididos entre todos os nossos assessores. Estamos em três principais capitais: Rio de Janeiro, que foi nosso primeiro escritório; São Paulo, que a gente já estava informalmente porque grande parte dos clientes são da capital, e temos agora a sede de Belo Horizonte.
Eu sou mineira, então eu queria muito levar o nome da Monet para Minas. Embora a gente atenda remotamente o Brasil inteiro, ter uma sede em algumas capitais é importante como referência para o cliente. Tem gente que gosta de sentar, tomar um café e conhecer pessoalmente. O mineiro tem essa questão do “tête-à-tête”, de querer ver quem trabalha com o meu dinheiro.
Agora, abrindo essa sede em BH, eu trouxe a minha irmã, que estava na área de alta renda do Santander, para ser a Head.
As nossas perspectivas pra futuro são de crescer com qualidade. Nós não queremos crescer por crescer. Queremos crescer agregando valor tanto para os profissionais quanto para os nossos clientes.
Estamos com vagas em aberto, mas temos muita dificuldade de preencher porque o padrão do nosso cliente é mais exigente. São pessoas com patrimônio constituído, e nós também temos uma exigência quanto a quem entra no nosso time. Nós temos um compromisso muito grande também, né?!
Você que já viveu algumas situações de desigualdade no mercado financeiro por ser mulher. Como você leva essas vivências para a Monet?
Fui a única mulher no comitê que se formou no início, no grupo de fundadores. Eu percebi durante a minha trajetória na assessoria o quanto ainda é difícil para as mulheres tomarem a decisão que eu tomei. Meu marido, no primeiro momento, foi impactado pela minha decisão, mas depois ele entendeu.
Como eu passei dificuldades dentro do mercado por ser mulher, senti na pele isso, tenho esse compromisso aqui dentro da Monet. Nós temos um foco muito grande em entrevistar e buscar currículos de mulheres. Hoje, temos um time que está meio a meio. É difícil ter 50% de mulheres na composição dentro desse mercado. Mas nós temos essa visão de que é importante buscá-las para compor o time, de dar oportunidade. O que eu puder fazer para promover isso dentro do meu negócio eu vou fazer.
Para tentar manter a equidade dentro do escritório, o que fazemos é abrir uma segunda vaga focada em achar uma mulher quando contratamos um homem. Mais ou menos assim.
O nosso escritório tem muita diversidade. Se você olhar o perfil de cada um, você começa a perceber que isso agrega porque são pensamentos diferentes, são colaborações diferentes que vão agregando e se constrói algo melhor.
Só para citar um exemplo, a nossa head de renda variável é uma mulher e é muito difícil ter uma mulher à frente de uma operação estratégica de ações de renda variável dentro de um escritório. Aí a gente observa que, quando a mulher tem oportunidade de mostrar seu trabalho, quando ela é ouvida, quando as portas se abrem, o resultado que ela entrega é impressionante.
Você chegou a ganhar um prêmio patrocinado pela XP chamado “Mulheres que Transformam”. O que isso representa na sua trajetória?
A XP patrocinou esse prêmio que contou com a concorrência de empresárias de vários segmentos e teve uma votação aberta a todos os funcionários da XP e toda a rede de assessores B2B, que são dos escritórios conveniados.
Fui eleita por votação popular, vamos dizer assim, a mulher que transforma. Ganhei o prêmio, o reconhecimento e foi muito legal porque eu já vinha fazendo um trabalho em cima disso. Sempre gostei muito, desde quando comecei a fazer postagens no LinkedIn, de trazer um pouco da minha vivência para estimular outras mulheres a buscarem os seus sonhos, buscarem o seu lugar. Eu sei que é difícil, a gente leva muitos nãos, muitas rasteiras, mas é possível. Sempre tive essa preocupação de levantar essa bandeira, me considero uma pessoa que luta pela justiça, pela equidade.
Esse equilíbrio, às vezes, é abrir os olhos e mostrar para as mulheres que elas não estão tendo oportunidade, mostrar que os chefes não promovem as mulheres com filhos, que mandam as mulheres embora quando voltam de licença maternidade.
Essas questões ainda são muito fortes na nossa sociedade e a melhor forma de combater o preconceito é você chamar atenção para os pontos e mostrar que eles existem. Nós precisamos educar a população, educar as novas gerações de uma forma diferente. Porque é pela educação, é pela cultura que a gente vai criar uma sociedade diferente, uma sociedade com realmente mais oportunidades para quem não tem.
Matéria publicada na edição 38 da revista CRC!News, acesse aqui e leia a edição completa.