Com um mercado em constante evolução, no qual todos os dias surgem novos produtos e fontes de informação para os investidores, é essencial que os assessores marquem presença no mundo digital e usem a tecnologia a seu favor. Essa é uma das conclusões de Tiago Feitosa, fundador da T2 Educação, empresa especializada em capacitação profissional para o mercado financeiro, com cursos voltados para exames como CPA 10, CPA 20, CEA, CFP® e Ancord.
Em conversa exclusiva com a CRC!News sobre o futuro da profissão, Feitosa destaca as principais mudanças pelas quais a atividade vem passando, fala sobre as alterações previstas nas principais provas de certificação.
No bate papo ele também defende que o assessor “deveria contar com maior flexibilidade na recomendação de produtos para ter atuação mais abrangente e que atenda todas as necessidades do cliente.
Seria algo mais semelhante à figura do consultor, incorporando gestão de riscos, seguros, previdência e todo o escopo da vida financeira”.
Confira os principais trechos da entrevista:
Como você vê o momento atual do mercado de assessorias? Quais mudanças estão em andamento e merecem destaque?
Vejo como destaque esse movimento dos grandes bancos de atrair assessores com uma proposta que mistura um pouco do modelo autônomo com o de CLT. Até então, os bancos estavam deitados em berço esplêndido, mas perceberam que se não mudassem a forma de se relacionar iriam perder clientes e profissionais de qualidade. Eles têm oferecido uma remuneração fixa menor aliada a comissões bastante atrativas, o que é bem aderente com a prática de mercado dos assessores. Pode ser interessante para alguns autônomos cuja renda depende apenas do próprio negócio, mas que passariam a contar com um certo piso pelos bancos. Algumas corretoras também já oferecem essa ajuda de custo, especialmente no período inicial da carreira.
Os escritórios vêm se transformando em estruturas cada vez mais complexas, com áreas especializadas que dão suporte ao trabalho de assessoria. De que maneira isso vem transformando o dia a dia da profissão?
É uma transformação muito positiva, pois com isso o assessor deixa de ser um generalista e consegue focar suas energias onde domina e tem expertise. Ele passa a fazer parte de uma estrutura robusta que vai lhe dar apoio em outras demandas. Com esse modelo, a qualidade tende a ser maior e o escritório direciona seus melhores recursos para cada necessidade, oferecendo um atendimento especializado em cada ativo
Todos os dias ouvimos falar de novos produtos, como tokens, criptoativos, crowdinvest. Ao mesmo tempo, a nova geração cada vez mais usa canais digitais como fonte de informação para investir. Como o assessor pode acompanhar a evolução de um mercado cada vez mais dinâmico?
O assessor precisa de presença digital, o que não significa necessariamente ser um influenciador ou ter milhares de seguidores nas redes. Mas ele deve saber como usar essas ferramentas a seu favor para captar leads e ampliar sua carteira. Além disso, ele também precisa se alimentar de informações que são relevantes para o seu dia a dia. É fundamental ir atrás de certificações, mas esses modelos tradicionais não têm a velocidade necessária para acompanhar as mudanças do mercado. O bom profissional precisa ir além e reforçar suas redes de relacionamento, marcar presença em fóruns e comunidades. Não dá para correr o risco de ficar sabendo das novidades depois do seu cliente.
Recentemente, tivemos alterações no exame CFP® e outras provas também já sinalizaram adaptações. As mudanças são necessárias? Devem ir em qual sentido?
Acho que mudanças periódicas são necessárias para acompanhar a evolução da profissão. A Anbima vai começar a cobrar ESG em seu próximo exame, e a Planejar subiu um pouco a régua da prova do CFP®. O mercado está crescendo com a chegada de novos profissionais, o que é bom. Mas é preciso olhar também para as qualificações objetivas e técnicas de quem entra. A pessoa não pode passar na prova sem saber explicar como funciona uma operação estruturada. É difícil apontar qual seria o melhor modelo, mas o que soa mais efetivo é termos uma prova cobrando conteúdos básicos de mercado e regulação para balizar o conhecimento. Isso seria pré-requisito para os assessores buscarem novas certificações especializadas, com foco em derivativos, renda fixa, ou outras áreas.
Como você projeta a carreira do assessor nos próximos anos? Quais tipos de conhecimento e habilidades devem ser exigidos?
Além do conhecimento técnico, não cabe mais no mercado um assessor que sabe não usar bem todos os recursos tecnológicos à disposição, desde um arquivo na nuvem até organizar uma reunião online. Cada cliente tem necessidades e entendimentos diferentes do mercado, mas o bom profissional precisa contar com processos bem definidos de atendimento para que sua orientação chegue de maneira eficiente a todos esses públicos. Também acho que o assessor deveria contar com maior flexibilidade na recomendação de produtos para ter atuação mais abrangente e que atenda a todas as necessidades do cliente. Seria algo mais semelhante à figura do consultor, incorporando gestão de riscos, seguros, previdência e todo o escopo da vida financeira.
Você vê a atuação do planejador CFP® como complementar à dos assessores?
Acho que são atividades complementares. O assessor que busca essa certificação adquire novas habilidades que são importantes para a administração financeira do cliente, incluindo planejamento fiscal, tributário e sucessório. E esses pontos não são relevantes apenas para os investidores qualificados. Eles importam para qualquer pessoa que tenha patrimônio, por menor que seja. O planejador já está ganhando espaço nos escritórios, mas é algo embrionário e falta um longo caminho para vermos essa profissão mais disseminada, até porque a certificação é bastante desafiadora e exige pelo menos cinco anos de experiência.
Quais as dicas para alguém que está começando hoje na carreira? Como essa pessoa pode ter sucesso?
O primeiro passo é entrar em escritórios que ofereçam contato com gente mais experiente e uma estrutura interessante de trabalho para o assessor não precisar perder tempo com pequenas tarefas, como pedir o café que não chegou. E o segundo ponto é não se limitar à certificação e buscar novos conhecimentos através de outros exames, cursos livres, networking ou se vinculando a associações comerciais, por exemplo.
Entrevista publicada na edição 42 da revista CRC!News.