Ao longo das semanas que separam o primeiro e o segundo turno da eleição, a bolsa e o câmbio vêm sofrendo forte volatilidade. Agora, com a proximidade da definição do próximo presidente do Brasil, a CRC!News conversou com os escritórios para saber o que esperar do mercado de capitais, quais setores mais devem ser influenciados e se há um momento ideal para entrar na renda variável diante deste cenário. Veja a seguir as entrevistas.
Marcus Leoncio, sales trader de renda variável da BS Investimentos, escritório vinculado à XP
O que esperar da bolsa após a eleição?
Nosso sentimento, falando de curto prazo, é de um cenário binário. Vai depender muito do resultado. A bolsa teve uma alta grande pois o mercado se animou com o desempenho do Bolsonaro, que foi surpreendente. Porém, conforme a data da votação se aproxima, o mercado voltou a precificar a possibilidade de vitória do Lula. Assim, caso ele ganhe, deve haver uma queda de curto prazo. Não porque o mercado entenda que o mandato será ruim, mas principalmente por conta do peso de empresas como Petrobras e Banco do Brasil. São duas estatais muito impactadas por trocas de governo e elas podem sofrer impactos negativos para os acionistas em termos de governança. Já no caso de uma virada, o mercado tira essa preocupação das estatais da frente. Espera-se que continue com a governança atual, que vem levando a Petrobras a performar muito bem. Porém, independentemente do vencedor e do curto prazo, qualquer um que ganhar terá um grande desafio para pagar as contas, pois o governo gastou bastante com programas sociais.
Quais setores da economia devem ser mais impactados pelo resultado e quais devem sofrer pouca influência independentemente do ganhador?
Os bancos historicamente performam bem em qualquer tipo de cenário, seja com alta dos juros, com inflação elevada ou baixa. Uma eventual vitória do Bolsonaro tende a favorecer estatais e empresas ligadas à economia real, como o setor de commodities. Já se der Lula, o resultado favorece empresas do varejo e do setor imobiliário, especialmente aquelas voltadas a um público de menor renda.
Para quem pensa em entrar na bolsa, é um bom momento fazer isso logo depois da eleição? Ou é melhor esperar o início do próximo mandato?
A bolsa hoje está em um patamar muito atrativo. Recomendaria às pessoas começar entrando com pouco dinheiro e diversificando com investimentos internacionais, comprando ações americanas e dolarizando um pouco o patrimônio. É uma forma de fugir do Risco Brasil. Ainda que seja um momento um pouco arriscado, não existe um timing perfeito, então é melhor aproveitar os preços descontados.
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Fernando Albejante, CIO do Angatu Private, escritório vinculado ao BTG
O que esperar da bolsa após a eleição?
A bolsa sempre se antecipa. Na sexta-feira antes do primeiro turno, ela estava com uma valorização acumulada de 4% no ano, e na segunda-feira subiu para 10% por conta da configuração do Congresso. Pela primeira vez tivemos quase metade da Câmara composta pela direita, e o mercado vê isso como positivo. A entrada do Lula pode gerar alguma baixa em um primeiro momento, mas olhando adiante será difícil mexer nas reformas realizadas. Ter um Congresso de centro-direita e o Alckmin como vice funciona como hedge, pois mesmo que ele queira governar à esquerda, não vai ter muito espaço para isso. Já uma vitória do Bolsonaro seria muito pró bolsa. Espera-se que o Guedes volte os juros a
um patamar mais baixo, o que favorece o mercado de capitais.
Quais setores da economia devem ser mais impactados pelo resultado e quais devem sofrer pouca influência independentemente do ganhador?
Se o Lula entrar, estatais como Banco do Brasil e Petrobras vão sofrer em função do risco de perda de eficiência. Com a vitória do Bolsonaro, a Petrobras hoje está muito saudável e batendo recordes no pagamento de dividendos, o que ajuda a trazer mais investidores e mais confiança. Para quem busca um pouco de segurança, o Brasil sempre foi muito forte em commodities independentemente do
governo. As empresas do setor têm uma resiliência um pouco à parte devido à importância do país neste mercado.
Para quem pensa em entrar na bolsa, é um bom momento fazer isso logo depois da eleição? Ou é melhor esperar o início do próximo mandato?
O mercado sempre foi cíclico. Mostramos ao cliente que existe volatilidade para ele entender se está apto a lidar com isso independentemente do momento ser bom ou ruim. Em um cenário de três a cinco anos com gestão ativa, a bolsa se mostra rentável. Mas é preciso que isso esteja alinhado com o perfil do cliente.
Texto publicado na edição 58 da revista CRC!News, acesse e leia a edição completa.