No dia seguinte à confirmação de Lula como novo presidente do Brasil, os papéis da Petrobras iniciaram o pregão registrando forte queda. A CRC!News conversou com alguns players do mercado para entender quais as perspectivas para a empresa com o novo governo e de que forma isso deve afetar as estratégias de investimento relacionadas ao ativo. Confira.
Max Scatimburgo, sócio e assessor de investimentos da Nummi Investimentos, escritório vinculado à XP
O que esperar da Petrobrás após a eleição do Lula?
Acredito que estamos no momento mais nebuloso, talvez até mais do que antes da eleição, pois sabemos que mudanças virão, mas ainda não temos informações oficiais sobre quais.
Essa incerteza reflete na queda recente do preço e no mercado pedindo mais rentabilidade. Ao longo da última semana, foi aprovada uma proposta de adiantamento de dividendos na casa de R$43 bilhões, que foi a Conselho já sob contestação pelo lado do Lula. Isso pode demonstrar a linha da nova gestão, mas só saberemos no decorrer do tempo.
Também precisamos lembrar das implementações feitas ainda no governo Michel Temer com objetivo de blindagem da companhia. Serão realmente efetivas? O governo Jair Bolsonaro trocou dois CEOs em um movimento muito mal-visto. No entanto, de forma macro, não parece que isso trouxe prejuízo aos objetivos de maximização de lucros ou atendimento aos interesses dos acionistas. Em paralelo, na Carta ao Brasil do Amanhã, Lula fala de políticas que exigirão mais capex, além de parar com os desinvestimentos, o que nos remete à forte desalavancagem pela qual a companhia passou desde 2015.
Há uma boa oportunidade para entrar no papel, ou é melhor ter cautela?
Dadas tantas incertezas e considerando que existem outras boas opções de exposição para o setor de petróleo, não entraria no papel neste momento. Mas quem decidir por comprar encontrará, evidentemente, um retorno condizente com o risco corrido.
E quem já está investido, deve permanecer ou sair diante do novo cenário?
Acredito que é um momento ideal para utilizar o “stop móvel”. São questões tão binárias quanto subjetivas. Para quem ainda não vendeu o papel e tem boas perspectivas, talvez seja um bom momento, mas provavelmente a volatilidade do ativo permanecerá alta por mais algum tempo.
Lincoln Patelli, head de RV e Novos Negócios da Öküs Capital, escritório vinculado ao Safra Invest
O que esperar da Petrobrás após a eleição do Lula?
O Lula já se mostrou um pouco preocupado com essa questão energética, principalmente com o preço da gasolina e as importações que a gente faz, o que abre brechas para investimentos em refinaria. Traz um pouco de insegurança. A Petrobras vai parar de pagar dividendos nesses patamares que vem pagando, vai ser uma empresa com um caixa um pouco maior para este tipo de investimento, o que gera a incerteza.
Um lado positivo é que qualquer medida mais drástica não será possível com a força política que o Lula tem hoje. É fácil trocar o Conselho, mas mesmo assim acreditamos que pode haver alguma resistência. Esperamos uma Petrobras menos pagadora de dividendos, procurando alguns investimentos nesse perfil. Ela diminui um pouco o modo desconto e a atratividade, mas continua uma grande empresa.
Há uma boa oportunidade para entrar no papel, ou é melhor ter cautela?
No momento a opção é cautela, especialmente até termos um plano de governo mais definido e um caminho a ser seguido. Vamos aguardar os próximos passos e monitorar de perto essa série de possíveis investimentos.
E quem já está investido, deve permanecer ou sair diante do novo cenário?
Para quem já está investido, não é momento de desespero. Mesmo tendo esses riscos inerentes à mudança, pois não sabemos o caminho exato que vai tomar, a empresa continua com desconto frente aos pares e com potencial. É importante acompanhar o possível rumo que as coisas vão tomar.
Texto publicado na edição 59 da revista CRC!News, acesse e leia a edição completa.