Na última quarta-feira (13), a Câmara aprovou uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que prevê uma série de benefícios sociais, incluindo a ampliação do Auxílio Brasil de R$400 para R$600, a inclusão de 1,6 milhão de novas famílias no programa e a criação de um voucher mensal no valor de R$1 mil para caminhoneiros autônomos. Com duração prevista até o final do ano, o pacote tem um impacto estimado de mais de R$41 bilhões no orçamento. De acordo com a avaliação de players consultados pela CRC!News, o conjunto de medidas pode ter resultado positivo na inflação de curto prazo. Contudo, há temor sobre um “efeito rebote” que venha a pressionar ainda mais os preços no futuro.
Rodrigo Santin, CIO da Legend Investimentos, vê dois principais vetores de impacto das novas medidas na inflação. O primeiro está relacionado ao preço dos combustíveis, que tende a cair neste momento. Porém, como a isenção deve ser retirada em 2023, parte dessa redução deve ser repassada em aumentos no ano que vem.
“O outro fator é o aumento do Auxílio Brasil, colocado como temporário mas com chances de se tornar permanente. Caso isso aconteça, devemos ter mais pressão sobre os preços. Está ocorrendo algo parecido com o governo Dilma, quando o Banco Central subiu juros e o governo passou a estimular a economia. O teto de gastos como temos hoje já era. Esperamos que entre algo no lugar que ajude a dar uma âncora fiscal para o Brasil”, diz.
Para Raphael Voltolini, head do escritório de São Paulo da Monet Investimentos, o principal problema das isenções fiscais e da nova PEC é que ambas não trazem uma solução que se prolongue para o médio e longo prazo. “Na prática, estamos aumentando os gastos e reduzindo a entrada de recursos. Pode até ajudar um pouco com a inflação deste ano, mas traz o receio de voltar a subir lá na frente. Melhora na aparência, mas se as coisas seguirem como estão, pode trazer piora”, opina.
A visão é compartilhada por Celso Fonseca, diretor de renda variável da Venice Investimentos. Segundo ele, ao distribuir renda, a PEC deve pressionar os preços e gerar um efeito negativo em relação aos preços. “O projeto já estourou as projeções e vai acabar sendo maior do que o previsto. Gera um alívio neste momento, mas não é algo que se sustente no longo prazo”, diz.
Apesar do risco de um efeito rebote, Alexandre Manoel, economista-chefe da AZ Quest, acredita que o resultado fiscal do país é superior ao projetado no início do ano. “O mundo todo está adotando ações deste tipo, pois a situação social é pior do que antes da pandemia. O receio é se haverá coragem para eliminar os programas em 31 de dezembro. Se a dívida sair do rumo as contas públicas do Brasil não aguentam. O próximo governo estará diante de escolhas difíceis e duras de serem feitas”, resume.
Incertezas em alta
Por conta das incertezas em relação ao comportamento da inflação, Diego Cordeiro, assessor da Aplix Investimentos, recomenda que a melhor saída é manter recursos em caixa até os rumos do mercado ficarem mais claros. “Preferimos neste momento deixar em ativos de maior liquidez, como Tesouro Direito, LCIs e LCAs, que são isentos de impostos. Assim é possível ir fazendo os aportes aos poucos conforme surgem as oportunidades”, aponta.
Voltolini também se mostra cauteloso com a indefinição do cenário e não recomenda uma entrada no IPCA por enquanto, pois os preços podem retrair nos próximos meses. “Dentro da renda fixa, quem não quiser ficar preso a esse índice consegue encontrar algumas debêntures incentivadas com taxas muito boas que pagam além do CDI e do IPCA”, diz.
Já em relação à bolsa, Felipe Paletta, sócio e analista da Monett, acredita que as medidas aprovadas podem beneficiar alguns setores. “A injeção de recursos tende a favorecer aquelas empresas com maior dependência ao ritmo da atividade econômica, como as varejistas e ligadas ao segmento de logística. Mas o impacto deve ser muito no curto prazo”, opina.
Por este motivo, Santin defende que o portfólio neste momento deve ser o mais diversificado possível, afinal existem boas oportunidades tanto na bolsa, que apesar dos fundamentos ruins está com preços muito atrativos, quanto na renda fixa pré e pós fixada.
“Também é uma boa hora para ir ao mercado internacional e fugir um pouco do Risco Brasil. O investidor nacional tem o hábito de concentrar muito seu patrimônio aqui no país. Eu começaria pelos Estados Unidos com o S&P 500. É um índice muito equilibrado e apenas 3% dos gestores do mundo conseguem batê-lo de forma constante”, encerra.
Texto publicado na última edição da revista CRC!News, acesse e leia todos os destaques do setor.