“Hoje, ao redor do mundo, somente 24% das bolsas de valores colocam como obrigatória a divulgação de um relatório com políticas ESG das empresas; é um percentual pequeno”, diz Marcella Ungaretti, da XP
A falta de exigência para divulgação e de padronização de dados são os principais problemas enfrentados pelas empresas de capital aberto para implementação de iniciativas sustentáveis e de proteção ao meio ambiente no mercado de capitais. A avaliação é da sócia e Head de Research ESG da XP Investimentos, Marcella Ungaretti, ao analisar o levantamento da Anbima.
Ela entende que essas dificuldades não são fatores exclusivos do Brasil. “Hoje, ao redor do mundo, somente 24% das bolsas de valores colocam como obrigatória a divulgação de um relatório com políticas ESG das empresas; é um percentual pequeno. Essa carência de dados acaba sendo um desafio para essa agenda”, acrescenta.
Mesmo sem essas cobranças, Marcella acrescenta que algumas empresas têm divulgado tais documentos voluntariamente para atender demandas de investidores. “Hoje mais de 90% das empresas listadas possuem e divulgam esse relatório. Mas existe o desafio para padronização desses dados nas empresas com capital aberto”, critica. “Uma empresa divulga um relatório com 10 páginas, outra com 300 páginas, é uma diferença discrepantes. Essa agenda precisa evoluir na parte de regulamentação”, defende.
Reflexo pandemia
A head de Research ESG da XP Investimentos avalia, no entanto, que o Brasil tem evoluído consideravelmente nessas práticas. “Mas ainda estamos no começo dessa jornada. Temos visto avanços importantes por parte das empresas. A pandemia colocou holofote na agenda ESG acelerando essas mudanças, mas ainda temos muito o que ser feito por parte das empresas”, reconhece.
A especialista da XP Investimentos chamou a atenção para um ponto da pesquisa da Anbima que, segundo disse, 30%
das gestoras colocam os critérios ESG como um dos temas a serem analisados na hora de investir. “Isso mostra um crescimento da pauta. Esse é um movimento que deve ser intensificado mais nos próximos anos”.
Marcella alerta ainda que investidores estrangeiros começam a pressionar para adoção dessas medidas e que acionistas defendem mudanças de posicionamento das companhias. “A consequência é de que as empresas que não atenderem a esses requisitos poderão ver acionistas se desfazendo de investimentos”, disse ela, citando como exemplo recente o Fundo de investimento Nordea que rompeu com JBS por denúncias de desmatamento.
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