Por João Savigon, Head de Pesquisa de macroeconomia da Kínitro Capital
PIB 3T23
– O PIB surpreendeu novamente ao registrar crescimento de 0,1% QoQ no 3T23. O resultado veio acima da nossa projeção (-0,1%QoQ) e do consenso do mercado (-0,3% QoQ). O resultado de hoje adicionava maior incerteza às projeções, já que as contas nacionais trimestrais têm a rotina de, na divulgação do terceiro trimestre de cada ano, realizar uma revisão mais abrangente, incorporando novos pesos das contas nacionais anuais de dois anos antes.
– Na comparação interanual, o PIB cresceu 2,0%, taxa também acima das projeções (1,8%). De qualquer forma, já era esperada uma desaceleração em relação ao trimestre anterior, quando havia subido 3,5% YoY.
– Com o resultado de hoje, ficamos com um carrego (carry-over) de 3,0% para o ano e de 0,3% para 2024. Isto é, se o PIB apresentar crescimento nulo no próximo trimestre, teremos alta de 3,0% em 2023.
– Quando olhamos em relação ao nível pré-pandemia, o PIB está operando 7,2% acima. A única atividade abaixo desse nível é a indústria de transformação (-2,4%).
– O desvio em relação à nossa projeção se deveu à agropecuária e serviços. Já era esperada queda da agropecuária, mas ela veio inferior à projetada. Já os serviços vieram com crescimento acima do esperado. Do lado da demanda, observamos uma queda mais intensa dos investimentos.
– Serviços seguiram nas máximas históricas, refletindo a sua maior resiliência, beneficiada pela elevação da renda das famílias no período. Somente os serviços de transporte, armazenagem e correios mostraram queda no trimestre, dada a saída do spillover ou efeito transbordamento do agronegócio, que havia impulsionado a atividade no trimestre anterior.
– Assim, completando a análise pela ótica da oferta, tivemos crescimento da indústria (0,6% QoQ). O destaque positivo ficou por conta das atividades de utilidades públicas, como eletricidade, favorecida pelas bandeiras verdes de energia esse ano e o aumento do consumo com as ondas de calor no período. Já esperado um fraco desempenho das indústrias de transformação, mas as de construção que surpreenderam, com queda de 3,8%QoQ.
– Já pela ótica da demanda, houve novo aumento do consumo das famílias e do governo, com +1,1% e 0,5%, respectivamente. Por outro lado, tivemos a quarta queda consecutiva da formação bruta de capital fixo (investimentos). Dessa vez, a queda foi de 2,5% QoQ. O setor externo seguiu contribuindo para o crescimento, com as exportações subindo 3,0% QoQ (3,5% tri anterior) e as importações caindo 2,1% QoQ (haviam subido 4,1% no 2T).
– O resultado do PIB do 3° trimestre mostra que a atividade econômica segue mais resiliente do que antecipado e não está em um processo de queda acentuada.
Em resumo:
O resultado veio mais uma vez acima do esperado, com queda menor da agropecuária e resiliência dos serviços.
Os serviços e o consumo das famílias seguem em seus picos históricos e representam um importante suporte para o crescimento da economia. Fundamentos básicos, como a renda dos trabalhadores, continuam dando sustentação ao nosso cenário base de desaceleração gradual da atividade.
Quadro geral é de uma atividade econômica praticamente de lado no 2S23, reflexo da saída dos efeitos positivos da super safra e uma política monetária ainda restritiva. Não observamos pelos dados atuais uma tendência de queda relevante ou persistente da economia nos próximos meses, mas alguns itens devem ser monitorados, como o PIB agro, dadas as incertezas climáticas.