Gustavo Sung, Economista-chefe da Suno Research
O IPCA-15 registrou uma alta de 1,23% em fevereiro, abaixo das expectativas do mercado – pesquisa Reuters 1,33%. Nos últimos 12 meses, o índice voltou a subir, passando de 4,50% para 4,96%, acima do limite superior da meta de inflação.
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, sete registraram variações positivas. Destaque para os grupos Habitação e Educação que registram altas de 4,34% e 4,78%, e apresentaram os maiores pesos sobre o índice, 0,63 p.p. e 0,29 p.p., respectivamente.
De acordo com o IBGE, no grupo Habitação, a energia elétrica residencial foi o subitem com o maior impacto positivo no índice (0,54 p.p.), ao avançar 16,33% em fevereiro, em função da incorporação do bônus de Itaipu. E, em Educação, a alta já era esperada por conta dos reajustes habitualmente praticados no início do ano letivo.
Importante ressaltar também que a alimentação no domicílio aumentou novamente no mês.
Os dados qualitativos trazem certo alívio em relação às últimas divulgações, especialmente para os grupos mais monitorados pelo Banco Central, que vinham registrando um crescimento acelerado. No entanto, isso não altera nossa preocupação com o cenário inflacionário.
Do lado positivo, o núcleo da inflação registrou um crescimento mensal menor em comparação a janeiro, com uma leve alta marginal no acumulado de 12 meses, passando de 4,36% para 4,41%. Nesta mesma métrica, destaca-se a desaceleração no setor de serviços, de 5,45% para 4,98%, nos serviços subjacentes, de 5,96% para 5,93%, além da estabilidade nos serviços intensivos em mão de obra.
Por outro lado, os preços dos bens industriais aceleraram de 2,93% para 3,19%, influenciados pela desvalorização cambial dos últimos meses. Além disso, ao analisar a média móvel de três meses anualizada e ajustada sazonalmente (3MSAAR), que capta melhor a tendência dos preços, ainda observamos uma aceleração em grupos importantes, como serviços intensivos em mão de obra, bens industriais e a média dos núcleos de inflação.
Apesar de alguns dados positivos, muitos ainda permanecem muito acima do limite superior da meta de inflação. Esse cenário, somado à desancoragem das expectativas, gera preocupação para o Banco Central. Assim, mantemos nossa projeção de alta de 1,0 ponto percentual na taxa de juros na próxima reunião do Copom.
Para 2025, nossa estimativa para o IPCA segue em 5,6%, com viés de alta.