Após um ano de muita volatilidade, as ações da bolsa brasileira estão entre as mais baratas do mundo e existem boas oportunidades para quem deseja comprá-las. Essa é a avaliação de Alexandre Milen, CEO da Harami Research. Em entrevista à CRC!News, o especialista faz uma análise de 2022 e projeta as perspectivas em termos de investimento para o próximo ano.
Como avalia 2022 em relação a investimentos?
O ano de 2022 foi bem desafiador, complexo e complicado. O mercado ficou bem agressivo e confuso, tanto aqui no Brasil, quanto no exterior. Começou turbulento com a guerra da Ucrânia. Também houve a elevação das taxas de juros altas do Fed e na Europa. A inflação alta gera incertezas, isso afeta muito nos investimentos. Ainda no cenário mundial, tivemos problemas com uma alta bem expressiva nos commodities, em especial o petróleo. Aqui no Brasil também foi desafiador por conta do baixo crescimento do PIB, e pela inflação alta que fez o Banco Central aumentar a taxa de juros básica do país. Ainda sentimos os efeitos da Covid-19 na indústria e no comércio. Quando acreditamos realmente que as coisas iriam melhorar, pois o comércio abriu e as pessoas passaram a circular, vieram todas essas complicações e o mercado ficou muito volátil, inseguro, e em especial a nossa bolsa de valores que sofreu com um “sobe e desce” bem estressante. E o ponto principal no cenário doméstico foram as incertezas das eleições. Sabíamos que as eleições estavam bem polarizadas e que cada candidato tinha uma política fiscal econômica e visões bem diferentes, o que causou inúmeras incertezas.
Quais estratégias se saíram melhor ao longo do ano? E quais setores ou classes de ativos enfrentaram problemas?
Até a presente data o CDI rendeu 13,65%. Já a poupança, rendeu 7,89%. Mas se formos ver o IPCA, ele bateu em 6,47%. Ou seja, a inflação quase comeu a poupança toda. A bolsa de valores, até o presente momento, está negativa em 1.87% e o dólar com uma queda considerável de 4,67%. Então, quem acreditou em 2022 em renda fixa, se saiu melhor. Na Harami, temos a nossa carteira de renda fixa e as nossas indicações superaram o dobro da poupança. Já por setores e segmentos, acreditamos que os que mais sofreram nesse ano foram o varejo e o comércio, principalmente por conta da alta da taxa de juros. Com eles, também aumentam os juros de crédito da população, de cartão de crédito, financiamento bancário e de imóveis. O segmento de construção também sofreu bastante em 2022.
O que o investidor pode esperar do mercado em 2023? Como se preparar para os cenários?
No cenário Internacional, devemos ficar de olho principalmente no desfecho da guerra da Ucrânia com a Rússia, na taxa de juros mundial (europeia, mas principalmente do Fed), na inflação (principalmente dos Estados Unidos, que comanda toda a economia). É preciso também observar a abertura da economia da China, que tem sido bem restrita em relação ao confinamento de covid-19. Tudo isso gera incertezas e volatilidade, então o que esperamos é muita cautela. Já no cenário nacional, o grande fato é sobre a eleição do agora empossado Luiz Inácio Lula da Silva como presidente da República. O mercado ainda está desconfiado se o Lula será o mesmo do primeiro mandato, que foi um dos melhores da história do Brasil, ou do segundo, que foi mais protecionista, com uma gestão mais política. As ações do Brasil são umas das mais baratas do mundo, os preços estão baixos então vale a pena comprar. Até o primeiro trimestre vamos sentir um pouquinho essa volatilidade com a bolsa subindo e caindo. Também existirão excelentes alternativas de investimentos na renda fixa, tendo em vista que a taxa básica de juros vai se manter ainda em 13,75% até meados de 2023. Isso faz com que os rendimentos de renda fixa sejam bastante atrativos. Na hora de se preparar para 2023, é importante buscar ações de empresas que tenham menos volatilidade. O segundo passo é buscar ativos com preços mais baixos. Um outro ponto é reduzir a quantidade de ativos de risco na carteira. E por último, procure sempre estudar, saber mais sobre o mercado, procurar especialistas que te ensinem e te orientem a montar seu portfólio.
E em termos de estratégia de investimentos, quais setores ou ativos vale apostar no próximo ano?
A dica é sempre diversificar os seus investimentos para você estar preparado para qualquer tipo de cenário. Eu montaria primeiro uma carteira com BDR, que são ações de empresas internacionais, como Apple, Google, Microsoft. Também montaria um pouco da minha carteira com renda fixa que pague o dobro da poupança, isento de imposto de renda e que seja segura. Temos milhares de alternativas de investimentos desse mercado. A outra dica é investir sempre em ações que pagam bons dividendos para que você possa ter uma renda recorrente. E por último, montar uma carteira de ações, principalmente nesses 3 setores: infraestrutura, comércio e varejo e bancário. Acreditamos que a política econômica do novo governo Lula vai incentivar esses três setores. E uma dica extra é fugir principalmente de empresas estatais.