Por Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
O IPCA registrou uma alta de 0,26% em setembro, acima das expectativas do mercado – pesquisa Reuters era de +0,34%. Nos últimos 12 meses, o índice acumula uma alta de 5,19%, acima dos 4,61% registrados em agosto deste ano. A variação mensal foi puxada principalmente pelos preços administrados (+1,11%), enquanto os livres apresentaram uma deflação (-0,04%).
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, seis registraram variações positivas em setembro. Destaque para o grupo de Transportes, que subiu 1,40% e teve a maior contribuição sobre o índice, 0,29 p.p. E, Habitação, com alta de 0,47% e impacto de 0,07 p.p. Do lado das quedas, destaque ficou com Alimentação e bebidas (-0,71%), que contribuiu com – 0,15 p.p. – houve recuo, principalmente, nos preços de alimentação em domicílio.
Observando especificamente Transportes, ressaltamos as altas nos combustíveis. Por exemplo, a gasolina subiu 2,80% e foi o subitem com o maior impacto individual sobre o índice do mês (0,14 p.p.). Além disso, chamamos a atenção para a alta das passagens aéreas que registraram uma variação de +13,47% no mês após o recuo de 11,69% de agosto.
Quando observamos a composição do IPCA, o cenário segue benigno: i) preços de serviços se mantiveram estáveis no acumulado de 12 meses; ii) apesar de ter subido na variação mensal, os preços dos serviços subjacentes arrefeceram na variação anual; iii) a média dos núcleos de inflação passou de 5,2% em agosto para 5,0% em setembro; e iii) o índice de difusão caiu para 42% ante a 53% de agosto.
De forma geral, esse IPCA corrobora a nossa tese de que a inflação continua numa trajetória baixista – os últimos dados vêm mostrando que a inflação brasileira segue mais controlada comparado aos últimos meses. Além disso, o boletim Focus continua mostrando estabilidade das expectativas de inflação, principalmente, para períodos mais longos.
O Banco Central enxerga uma melhora no cenário, mas é preciso que a inflação continue dando sinais claros de convergência para meta, principalmente, as medidas subjacentes.
Alguns riscos merecem destaque: i) um ambiente externo segue desafiador com a inflação dando sinais de desaceleração na margem, mas os com os núcleos acima do desejado; ii) as recentes pressões sobre o preço do petróleo e possíveis repasses aos combustíveis; iii) os impactos do El Niño sobre os alimentos; e iv) as incertezas fiscais no Brasil e contaminação sobre as expectativas de inflação.
Os impactos da guerra entre Israel e o grupo palestino Hamas sobre a economia brasileira irá depender da evolução do conflito e da sua extensão. Caso haja um escalonamento e uma regionalização da guerra, os preços do petróleo poderão ficar em um patamar mais elevado por um período maior, podendo impactar os preços dos combustíveis no Brasil e, consequentemente, a inflação. Esse risco está sendo monitorado e, por enquanto, não está incorporado em nosso cenário. Novamente, irá depender da extensão da guerra.
Até o final do ano, teremos mais duas reuniões do Copom (novembro e dezembro) e a expectativa é de cortes de 50 bps (0,50 p.p.), levando a taxa Selic a 11,75% a.a. no final de 2023. Para 2024, a tendência é que a Selic continue caindo e fique abaixo dos dois dígitos.