Os mercados emergentes não podem ser colocados em uma única cesta. À medida que os governos se movimentam para retirar os estímulos fiscais e monetários implementados durante a pandemia de Covid-19, esses países apresentam condições heterogêneas e os investidores vêm olhando cenários de recuperação e controle da inflação de forma individualizada, segundo os economistas que participaram do painel “Por dentro da mente do investidor estrangeiro: o que pensa do Brasil e dos mercados emergentes”, no segundo dia do ANBIMA Summit.
Para Valentín Carril, economista e estrategista chefe para a América Latina da Principal Internacional; Cassiana Fernandez, economista do J.P. Morgan; Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas; e David Beker, chefe de economia e estratégia para o Brasil do Bank of America e vice-coordenador do nosso Grupo Consultivo Macroeconômico, que mediou o debate, há uma preocupação de investidores globais com a retomada pós-pandemia. Esses agentes também estão atentos em como cada país vai atuar para conter as pressões inflacionárias, estimular crescimento e reduzir o desemprego, sem comprometer o cenário fiscal.
As pressões inflacionárias estão afetando a maioria das economias globais, sob efeito dos gargalos de oferta, preços de energia e secas em diversos pontos do mundo. Isso acontece em meio à retirada dos estímulos públicos implementados durante a pandemia, que vão da redução de juros a programas de auxílio a pessoas em situação vulnerável. E os emergentes enfrentarão um cenário mais desafiador do que as economias desenvolvidas nos próximos anos.
“Vai ser muito difícil dizer no curto prazo se essa pressão inflacionária é transitória ou permanente. No fundo, chegaremos à conclusão que é uma mistura dos dois”, afirmou Cassiana, do J.P. Morgan. “A mensagem importante deste debate é que mesmo que você tenha uma natureza inicial de pressão inflacionária vindo da oferta, o excesso de estímulo público existente atualmente nas economias emergentes e desenvolvidas vai fazer com que a propagação dos choques seja mais persistente”, disse.
Muitos países podem conviver com a inflação em níveis mais altos que os usuais por mais tempo sem abalar a credibilidade da política economia, outros não. Estes terão que retirar mais incentivos do que os que foram criados na pandemia, e de forma mais rápida. E com o gargalo de oferta ainda persistente, alguns países precisarão conter a demanda de forma mais enfática, disse Cassiana. Para ela, o investidor está atento para entender quais países têm instrumentos para fazer ajustes de forma adequada e com mais agilidade.
Mesmo com a avanço da vacinação no mundo e com muitas sociedades retomando níveis de normalidade, alguns países mais atrasados e com tolerância menor aos casos de Covid-19, especialmente na Ásia, comprometem as cadeias globais de produção, tornando o processo de regularização de oferta mais demorado, destacou Marcela, da Claritas.
“Durante a pandemia os bancos centrais mudaram o jeito de lidar com a inflação. O Federal Reserve (BC dos EUA), por exemplo, foi mais explícito sobre tolerar níveis de inflação mais altos. E isso pode desancorar expectativas”, comentou Marcela.
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Fonte: Anbima