Segmento patrimonial registrou R$ 460,4 bilhões com aumento em todas as classes de ativos, em especial na renda fixa
Por Adriano da Silva Santos*
O mercado de gestão de patrimônio vem apresentando um desempenho expressivo nos últimos meses, conforme mostram os dados divulgados em setembro pela ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
Segundo o relatório da entidade, o volume administrado pelos gestores de patrimônio alcançou R$460,4 bilhões no primeiro semestre de 2023, o que representa um aumento de 8,3% em relação ao final de 2022. Esse resultado foi impulsionado pela entrada de 36 novas instituições no segmento, que somaram R$ 58 bilhões em recursos sob gestão no período.
Maior crescimento.
A diversificação das carteiras dos clientes também contribuiu para o crescimento do segmento. Os investimentos em renda fixa foram os que mais se destacaram, registrando um avanço de 11,1% no semestre e totalizando R$178,3 bilhões. Dentro dessa classe, os produtos isentos de imposto de renda foram os que mais cresceram, com uma variação positiva de 24%, chegando a R$35,2 bilhões.
De acordo com a sócia da HCI Invest e planejadora financeira certificada pela Planejar, Nayra Sombra, o crescimento da captação dos fundos de renda fixa na segunda semana de setembro mostra a procura dos investidores por rentabilidade superior ao CDI, mas ainda com alguma segurança frente ao cenário de incertezas internas e externas. “Os fundos que aplicam em títulos públicos de curto prazo ou de baixo risco de crédito são os mais demandados porque oferecem alta liquidez com baixa volatilidade”, afirma.
A especialista nota que a decisão do Copom de cortar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, chegando a 12,75% ao ano, impactou fortemente a procura por esses fundos, dado o sinal de que a taxa básica de juros deve seguir caindo no mesmo ritmo nos próximos ciclos. “Diante do cenário, a aplicação nestes fundos também tem como vantagem a diversificação em um único instrumento com uma gestão ativa e profissional”. Sua posição parte do princípio de que a opção de investir diretamente em papéis nem sempre é adequada ao investidor porque dependendo do valor a ser investido, não há como fazer uma diversificação eficaz entre emissores, ativos, estratégias e vencimentos.
Volatilidade.
A planejadora financeira também salienta que as ações que registraram saídas líquidas na semana passada, indicam uma menor propensão dos investidores em assumir riscos. Ela atribui esse comportamento à instabilidade do cenário doméstico e internacional, que afeta o desempenho das empresas e dos mercados acionários.
De encontro a esse crescimento mais conservador, outros instrumentos de renda fixa que se destacaram foram os títulos públicos e os fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), que juntos responderam por 61,2% do crescimento entre todos os ativos de renda fixa. Ambos avançaram 14,1%, chegando a R$ 38,5 bilhões e 14,7%, com acumulado final de R$ 22 bilhões, respectivamente.
Além destes, as debêntures também tiveram um salto significativo de 44,7%, atingindo R$7,1 bilhões, refletindo o aumento da demanda por projetos de infraestrutura no país. As letras de crédito imobiliário e do agronegócio (LCIs e LCAs) também tiveram um desempenho expressivo, com altas de 47,5% e 15,5%, somando R$13,3 bilhões. Os certificados de recebíveis imobiliários e do agronegócio (CRIs e CRAs), por sua vez, registraram acréscimo de 11,7% e 12,8% totalizando R$11,3 bilhões.
No entanto, nem tudo são flores. As operações compromissadas e as debêntures tradicionais apresentaram quedas no volume financeiro no semestre. As operações compromissadas recuaram 10,1%, para R$3,3 bilhões, enquanto as debêntures tradicionais registraram queda de 7,8%, fechando o semestre com volume financeiro de R$11,4 bilhões. “Esses instrumentos perderam atratividade diante da maior oferta de produtos isentos ou com menor tributação”, explica o sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos, Marcelo Boragini.
Renda variável.
Ainda de acordo com os dados da ANBIMA, o segmento de renda variável obteve um crescimento de 4,4% no patrimônio líquido no primeiro semestre de 2023, alcançando R$141,9 bilhões. Esse resultado foi impulsionado principalmente pelo desempenho das ações, que aumentaram 14,7% e representaram R$31,6 bilhões do total. Já os fundos de ações apresentaram uma pequena queda de 0,3% e somaram R$84,6 bilhões.
Houve também um impulsionamento dos fundos multimercados que aumentaram significativamente a quantidade de produtos híbridos no primeiro semestre de 2023. Os produtos híbridos registraram um aumento de 8,4% no volume aplicado entre dezembro de 2022 e junho de 2023, passando de R$115,9 bilhões para R$125,6 bilhões.
Desse total, 86,4% correspondem aos fundos multimercados, que tiveram um crescimento de 7,4%, somando R$108,8 bilhões. “Esses fundos têm a vantagem de poder investir em diferentes classes de ativos, como ações, câmbio, juros e commodities, aproveitando as oportunidades do mercado e se adaptando aos cenários econômicos”, diz Boragini da Davos Investimentos.
Fundos Imobiliários.
Em relação aos fundos imobiliários, que investem em imóveis ou em títulos relacionados ao setor, os resultados também foram positivos. Eles obtiveram um crescimento 13,7% do volume investido, chegando a R$15,1 bilhões. “Eles se comportam como uma alternativa para quem busca renda com aluguéis e valorização dos imóveis, além de terem baixa correlação com outros ativos”, explica o especialista.
Por fim, os ETFs (Exchange Trade Funds), que são fundos que replicam índices de mercado e são negociados em bolsa, avançaram 27,7%, totalizando R$1,7 bilhão. “Os ETFs são uma forma simples e barata de diversificar o portfólio e acompanhar o desempenho de diferentes segmentos do mercado”, comenta Boragini, da Davos Investimentos.
Ao final, apesar dos excelentes números apresentados, Sombra da HCI Invest aconselha bastante prudência e uma avaliação cuidadosa antes de aplicar seu dinheiro neles. “É importante lembrar que esses investimentos podem ter alta volatilidade e perdas no curto prazo, sendo necessário adequar seu perfil de investidor, percentual de alocação e prazo, além de fazer um estudo mais detalhado sobre o fundo, como a gestora, o gestor e a estratégia utilizada”, finaliza.
*Repórter voluntário, CRC!News.