Por Marcus Müller, sócio fundador da Red Ridge Investimentos
Nesta semana o COPOM realizou a sua 241° reunião e, novamente, decidiu aumentar a taxa de juros da economia, para 1 ponto percentual, chegando ao valor de 6,25% ao ano, num ciclo de alta que já dura 6 reuniões seguidas.
A taxa básica de juros de um país é extremamente importante por inúmeras razões dentro das esferas administrativa e política. Mas em se falando de investimentos, como a alta do juro afeta suas aplicações?
O juro, entre outras coisas, é uma ferramenta da política monetária utilizada para controlar a inflação. Um aumento de juro pode ser um reflexo de uma inflação maior e mais severa. Uma inflação descontrolada pode ser danosa para o patrimônio investido, se este investimento não for feito adequadamente para a situação e para o perfil de cada um.
De fato, uma das razões para a nova alta da SELIC é o IPCA, que em 12 meses, já está na casa dos 9,7% ao ano. Muito longe das metas de 3,75% em 2021 e 3,5% em 2022, estabelecidas pelo Banco Central.
Se nós calcularmos o juro real da inflação e da taxa de juros atuais, teremos uma taxa negativa de 3,14%.
Sempre que conversamos com algum cliente sobre o assunto, orientamos que ele pense o juro real negativo como uma taxa, um custo. É a comissão da falta de conhecimento
Vamos a um exemplo simplista, de caráter ilustrativo, mas com valores e taxas reais.
Imagine que hoje você queira comprar algo que custe 100 mil reais (imagine o que você quiser que tenha esse valor).
Você tem os 100 mil, mas não quer ficar descapitalizado após sua compra.
Você sabe que a poupança rende 4,33% ao ano atualmente e, fazendo as contas, você conclui que se aplicar esse dinheiro na poupança, terá ao final de um ano, R$ 104.330,00. Dinheiro suficiente para comprar seu bem, sem ficar totalmente descapitalizado.
Feliz com a sua estratégia, você aporta na poupança e espera um ano para comprar seu tão almejado bem, entretanto, devido à inflação, ao final da aplicação o bem não custa mais 100 mil reais. Ele agora, na verdade, custa R$ 109.700,00 (100 mil mais inflação de 9,7%).
Que maravilha! Você acabou de perder poder de compra porque o juro real da poupança é negativo.
Esse é um dado preocupante hoje, porque os brasileiros ainda mantêm um saldo de quase 1 trilhão de reais justamente em poupança. Produtos de renda fixa com taxas pré-fixadas abaixo da inflação, sempre terão juro real negativo.
A alternativa mais segura e mais recomendada por analistas são as aplicações em Tesouro IPCA+ (NTN-B), título do governo indexado à inflação, ou títulos privados de instituições financeiras que possuem o Fundo Garantidor como CDBs, LCIs, LCAs e que protegem da inflação da mesma maneira. Esses produtos financeiros rendem, de acordo com as características de cada um, a própria taxa da inflação e mais um adicional pré-fixado (por exemplo IPCA +6% – rende toda a inflação que é 9,7% + 6%, totalizando pouco mais de 15,7%). Esse adicional garante a rentabilidade real.
Ainda nesta categoria existem as debêntures e outros produtos de renda fixa um pouco mais apimentados. Alguns são excelentes, mas muito cuidado, devemos ter uma atenção grande aos títulos privados deste tipo, alguns possuem um alto risco, as vezes, maiores até que ações.
Investimentos atrelados ao CDI também se beneficiam deste aumento, mas é importante e necessário entender o produto e calcular a taxa de juro real destas aplicações. Produtos atrelados a própria taxa de juro sobem seu rendimento, conforme os juros também sobem, porém se a inflação continuar acima destes, você experimentará juros reais negativos.
Investidores mais arrojados, no entanto, podem complementar a estratégia de proteção investindo em renda variável. Algumas empresas possuem contratos ligados ou corrigidos pelo IPCA e, portanto, suas receitas também crescem com a taxa de juros. Isso pode impactar positivamente no preço dos papeis. São o caso de empresas do setor elétrico, saneamento ou concessão de rodovias.
Paralelamente se a inflação for global, como vem sendo, papeis atrelados às commodities podem se beneficiar da alta generalizada de preços. A alta de juros também atrai capital estrangeiro para dentro do país, isso faz com que o dólar desvalorize, pois aumenta-se a quantidade da moeda em circulação por aqui. Esse componente pode ser benéfico para empresas que possuem custos em dólar, mas maléfico para as exportadoras, que mantém as receitas nesta moeda. Tudo vai depender de uma análise mais profunda das empresas, suas receitas, despesas, suas operações e seu crescimento.
Lembre-se: não existe visão do futuro, bola de cristal, nem mágica. Investir é um processo e esse processo se inicia com a proteção. Nem o Banco Central, nem os economistas que mais acertam conseguem desenhar todos os cenários possíveis e antever os movimentos de mercado, consumo e investimento com perfeição. O único modo de diminuir nosso erro e buscar mais acertos, é acompanhar as notícias, entender a mecânica do jogo e estudar. Ter um profissional para auxiliá-lo também vai ser de grande valor ao longo dos seus anos de investidor.
Um grande abraço a todos e bons negócios.
Disclaimer: Esse texto não representa qualquer análise de valores mobiliários ou recomendação de compra de quaisquer ativos.