Por Marcus Vinícius, BS Investimentos
Ainda nas primeiras semanas do ano, o investidor estrangeiro mostra apetite ao risco e indica que boas oportunidades estão entre as empresas de valor, relacionadas à economia real.
A terceira semana do ano está se encerrando e o bom humor vem predominando, bem diferente de como fechamos 2021.
Até o fechamento de quinta-feira, dia 21 de janeiro, a nossa bolsa registra alta de 2,03% na semana e alta de 4,08 em 2022.
Enquanto isso, o S&P500 cai 5,95% até o fechamento de ontem.
Alguns fatores nos ajudam a entender esse movimento:
- Cenário para 2022 muito bem precificado com os riscos que temos no radar;
- Rotação global para empresas de valor, large caps, principalmente as relacionadas à economia real, como commodities, bancos, materiais básicos, construção, etc;
- Índice Ibovespa é majoritariamente composto por empresas de valor (Vale, Petrobrás e grandes bancos representam mais de 40% do IBOV);
- Fluxo estrangeiro forte.
Agora vamos entender um pouco mais sobre cada ponto.
Fechamos o ano com o índice ibovespa em queda de 11,92%, um dos piores resultados entre as principais bolsas do mundo. Desempenho que pode ser justificado pelo aumento do risco fiscal, depois da descoberta da bom dos precatórios, em meados de junho/22 e que trouxe muitas incertezas, discussões que só foram encerradas no fim do ano sobre como fechar o orçamento federal, empacando as reformas tão necessárias, estressando juros e derrubando nossa bolsa.
Com essa queda, arrisco dizer que já começamos 2022 com um cenário muito bem precificado, mesmo em ano de eleições e muita volatilidade pela frente. Empresas sendo negociadas com múltiplos próximos, ou até abaixo, da mínima da pandemia, expectativa de pagamento de dividendos bem acima da Selic (dividend yield) e surpreendendo positivamente nos últimos resultados trimestrais.
E o gringo percebeu isso e está indo às compras!
No mundo, estamos observando uma rotação de empresas de crescimento (growth) para empresas de valor (value), isso por conta dos últimos anúncios do FED, confirmando aumento da taxa de juros nos Estados Unidos. Com isso, empresas de Growth, sofrem mais com aumento do custo de capital, já que precisam mais de capital de terceiros para se financiar e manter seu ritmo de crescimento.
Entendendo essa rotação, o investidor estrangeiro olha para o Ibovespa e vê que 40% do nosso principal índice é composto por Petrobrás, Vale e bancos… e o melhor, descontadas!
Com isso ele faz o PIX para o Brasil e enche o carrinho.
Só esse ano, que acaba de começar, o investidor estrangeiro já ingressou com R$ 15,55 bilhões na B3. O que ajuda também a explicar a queda que estamos acompanhando no dólar.
E como quase metade do fluxo financeiro da nossa bolsa é do investidor estrangeiro, é bolsa pra cima!
Enquanto isso, o investidor institucional (asset’s e fundos), sacaram R$ 14,6 bilhões de reais, com investidores resgatando suas aplicações e o investidor pessoa física já vendeu R$ 2,5 bilhões em 2022.
A alta dos juros e boas oportunidades em renda fixa que fazem o investidor sair de bolsa para migrar para aplicações mais seguras e pagando boas taxas.
Porém, na minha humilde opinião, essa é a melhor forma de se perder dinheiro. Vendem bolsa nas mínimas, para migrar para renda fixa e depois fazem o movimento contrário, resgatando renda fixa para comprar bolsa na euforia. O estrangeiro agradece, afinal, para ele comprar barato, alguém precisa vender.
Existem muitas boas oportunidades em renda fixa? Com certeza! Mas é mais coerente aproveitar com novos aportes, se possível, ao invés de sair da bolsa em patamares tão baixos para depois querer comprar mais caro, quando voltar a subir.
Agora que entendemos o que aconteceu até aqui, o que precisamos ficar de olho para semana que vem?
Começamos com Brasília, que costuma tirar o sono do investidor.
A ideia de Bolsonaro de criar uma PEC para cortar o preço dos combustíveis através da isenção de impostos pode trazer volatilidade da nossa bolsa. Isso por que a previsão de perda de arrecadação é de mais de R$ 50 bilhões cortando PIS/Cofins. A equipe econômica já se posicionou contra a proposta, mas em ano de eleição podemos esperar qualquer coisa.
Por isso, vamos acompanhar de perto.
Nos estados unidos, vamos acompanhar a temporada de resultados, que seguirá quente na semana que vem com Microsoft, GE, Johnson & Johnson, AT&T, Tesla, McDonald’s, Apple, Visa e Mastercard entre os destaques, reportando seus números do 4T/21.
No calendário econômico, teremos uma semana quente! Já na segunda-feira teremos rodada de PMI na europa e nos estados unidos.
Na terça, agenda fraca, só temos confiança do consumidor no Brasil e nos Estados Unidos de relevante por enquanto.
Quarta deve ser o dia mais importante da semana, com IPCA por aqui, com os dados sobre a nossa inflação em Janeiro e decisão do FOMC, sobre a política monetária americana.
Na quinta, PIB do 4T21 nos Estados Unidos, além de novos pedidos de seguro desemprego nos Estados Unidos também e inflação ao consumidor no Japão.
Fechamos semana que vem com rodada de PIB pela europa para acompanharmos, IGP-M de janeiro no Brasil, além da nossa taxa de desemprego também e PMI na China.
Uma semana com muitos dados e notícias importantes e que devem trazer volatilidade para os mercados, principalmente com o FOMC na quarta. Vamos ficar de olho e apertar os cintos!