Por Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.
O IPCA fecha 2024 acima do teto da meta pela 8ª vez na história
- O IPCA de novembro subiu 0,52% com relação ao mês anterior, abaixo dos 0,53% esperados pelo mercado e acelerando com relação aos 0,39% de novembro. Com isso, o IPCA fechou 2024 com um acumulado de 4,83%, ultrapassando o teto da banda de flutuação da meta pelo 8º ano desde que o sistema de metas foi criado em 1999;
- O Índice Geral veio melhor do que o esperado exclusivamente porque os ‘Alimentos no domicílio’ surpreendeu para baixo, subindo 1,18% contra a expectativa do mercado de alta de 1,53%. Só essa diferença causou uma diferença de 0,06 p.p. entre o projetado pelo mercado e o número divulgado. Destaque para o subgrupo ‘Carnes’ que subiu 5,26%, uma desaceleração importante com relação aos 8,02% de alta de novembro;
- Por outro lado, chama a atenção a alta de 0,65% do grupo “Artigos de residência”, quando esperávamos um resultado mais próximo da estabilidade. Isso já pode ser reflexo do impacto do dólar nos preços dos ‘Bens industriais’, principais componentes deste grupo. Por falar em ‘Bens industriais’, chama a atenção a aceleração deste grupo, de 0,18% em novembro, para 0,65% agora, acima dos 0,48% esperados pelo mercado e o maior patamar desde dezembro de 2022;
- Os números qualitativos também vieram muito ruins. A ‘Média dos núcleos’ acelerou de 0,39% para 0,57%, acima dos 0,39% esperados pelo mercado e, também, o maior patamar desde dezembro de 2022. Os ‘Serviços subjacentes’ passaram de 0,60% para 0,67%, um pouco acima dos 0,66% esperados e o 3º mês consecutivo que este grupo fica acima de 0,60%. Por fim, o ‘Índice de difusão’ passou de 57,82% para 68,97%, o maior patamar desde maio de 2022;
- A métrica que gostamos de analisar, por nos dar uma perspectiva de tendência, a média móvel trimestral dessazonalizada e anualizadas só teve de bom o ‘Índice geral’, que passou de 4,97% para 4,75%. No mais, a ‘Média dos núcleos’ passou de 5,42% para 5,65% e os ‘Serviços subjacentes’ passaram de 6,66% para 8,80%, nível visto pela última vez em setembro de 2022;
Bottom line: O número geral do IPCA de dezembro até que não foi ruim. Os 0,52% vieram abaixo do esperado e o nível acumulado em 2024, 4,83%, apesar de indicar que o novo presidente do BCB, Gabriel Galípolo, nem bem esquentou a cadeira e já vai ter que escrever a sua “cartinha” para o Ministro da Fazenda, no fim não foi nenhuma surpresa. O ruim mesmo na divulgação de hoje foi a composição do número. Praticamente todos os dados qualitativos voltaram para níveis de 2022, quando, a inflação acumulada no ano, foi de 5,78%. Por isso não parece surpresa que uma parte relevante dos analistas espere que o IPCA em 2025 fique acima de 5,00%. Por enquanto este não é o nosso cenário por dois motivos. Primeiro porque os juros – que na nossa projeção subiriam até 15,00% a.a., ficando nesse patamar até o final de 2025 – devem começar a impactar a economia a partir do 2º semestre. Além disso, ao contrário de 2024, quando tivemos o impacto de dois fenômenos climáticos– El Niño e La Niña – e uma quebra de safra agrícola, 2025 aparenta ter apenas um La Niña fraco e uma safra recorde. Com isso esperamos uma variação nos alimentos bem abaixo do que foi no ano passado. Por conta destes dois fatores, projetamos que o IPCA em 2025 fique em 4,80%, relativamente o mesmo patamar de 2024 o que, obviamente, não é uma boa notícia para o BCB.