Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.
- O primeiro IPCA-15 do ano subiu 0,11%, uma desaceleração com relação aos 0,34% de dezembro, mas bem acima da deflação de 0,01% esperada pelo mercado. Com isso, o acumulado em 12 meses passou de 4,71% para 4,50%, o limite superior do intervalo da meta de inflação;
- Interessante que, apesar de observamos uma desaceleração na inflação medida pelo IPCA-15, apenas 3, dos 9 grupos que compõem o índice, realmente desaceleraram entre um mês e outro. Só que um deles, ‘Alimentação e bebidas’ é o que tem mais peso (21,7%), e outro, ‘Habitação’ apresentou uma deflação expressiva (-3,43%);
- No caso do grupo ‘Alimentação e bebida’, que passou de 1,47% para 1,06%, o destaque foi o subgrupo ‘Carnes’, motivo de grande consternação e más ideias no Palácio do Planalto, que desacelerou 5,98 p.p. entre dezembro e janeiro (passando de 7,91% para 1,93%). Só essa diferença contribuiu com 0,78 p.p. para a desaceleração do grupo e com 0,13 p.p. para o Índice geral;
- Já no caso do grupo ‘Habitação’, o motivo da deflação de 3,43% foi o “bônus de Itaipu”, que reduziu a conta de luz em janeiro e que fez o item ‘Energia elétrica’ apresentar deflação de 15,46%, puxando o IPCA-15 deste mês 0,60 p.p. para baixo. Mas, “como alegria de pobre dura pouco” essa queda não é permanente. A conta de luz volta ao “normal” em fevereiro e, consequentemente, tudo que foi deflação esse mês virará inflação em fevereiro;
- Por sua vez os dados qualitativos foram um “horror”. Todos vieram piores que o esperado e apresentaram aceleração com relação ao mês anterior, mostrando que a desaceleração do Índice geral, se deu por motivos específicos. A ‘Média dos núcleos’ passou de 0,46% para 0,52%, ficando acima das projeções de 0,53%. Os ‘Bens industriais’, primeiro grupo a sofrer os impactos do câmbio, passou de 0,26% para 0,59%, acima dos 0,56% esperados. Enquanto os ‘Serviços subjacentes’, passaram de 0,71% para 0,96%, maior nível desde maio de 2022 (0,98%). Dois itens específicos tiveram destaques nesse resultado, ‘Seguro voluntário de veículos’ (alta de 3,12%) e ‘Aluguel de veículos’ (alta de 6,33%). Mas não podemos deixar de verificar também uma alta generalizada nas profissões liberais, como ‘Dentista’ (alta de 1,56%), ‘Psicólogo’ (alta de1,16%), ‘Costureira’ (alta de 1,23%), ‘Manicure’ (alta de 2,26%), ‘Depilação’ (alta de 2,28%) e ‘Despachantes’ (alta de 1,26%). Provavelmente reflexo da alta de 7,5% do salário-mínimo;
Bottom line:
O primeiro IPCA-15 mostrou que a inflação continua com sinais ruins. Ou seja, começa 2025 como terminou 2024. Houve uma desaceleração relevante do Índice geral, mas está se deveu mais a questões sazonais, como a desaceleração das ‘Carnes’, e a um fator pontual, o “bônus de Itaipu”. De resto, a inflação continua acelerando, como mostra o fato de 6 dos 9 grupos apresentarem variação da inflação mais alta do que em dezembro e dos números muito ruins dos dados qualitativos. Enquanto isso, o governo continua se mostrando mais preocupado com as consequências do que com as causas – o problema não é a demanda aquecida ou o aumento do salário-mínimo de 7,5%, mas o preço das ‘Carnes’. A propósito, o próximo motivo para um “barata voa” no Palácio do Planalto já “deu as caras” nesse IPCA-15. O ‘Tomate’ subiu 17,12%. E vai subir mais, pelo menos até março. É sazonal. Mas o governo desconhece esse conceito e, enquanto isso, quem vai continuando a ter que enfrentar as “causas” sozinho é BCB que vai aumentar os juros em 1,00 p.p. na reunião da quarta-feira que vem (29/01) e, provavelmente levará a Selic a 15,00% a.a. até fevereiro.