Equipe Research Suno.
Na próxima semana, teremos a primeira reunião do Copom de 2025. O encontro será na terça-feira (28/01), e a decisão será divulgada no final da quarta-feira (29/01). Sem surpresas, esperamos que a autoridade monetária siga o comunicado da reunião de dezembro e aumente a taxa de juros em 1 p.p., alcançando 13,25% a.a.
O comunicado deve manter um tom rigoroso, como observado nos últimos Comitês, especialmente devido à contínua deterioração do cenário econômico brasileiro. As projeções de inflação do mercado, assim como as nossas, têm sido constantemente revisadas para cima, e o IPCA deve permanecer acima do limite superior da meta de inflação. Além disso, as expectativas de inflação continuam ampliando a desancoragem, a atividade econômica e o mercado de trabalho demonstram resiliência, e o risco fiscal permanece elevado.
Em nosso cenário base, projetamos que a taxa de juros alcance o pico de 15,25% a.a. em junho. Além disso, devido às incertezas, não prevemos cortes na Selic em 2025. Para 2026, estimamos 13,5% a.a.
Em um cenário mais pessimista, a taxa de juros pode atingir 15,75% a.a. no final do ciclo, com viés de alta, caso ocorra uma deterioração adicional no cenário econômico, maior desancoragem das expectativas de inflação e ausência de diretrizes mais claras para a redução do risco fiscal no Brasil.
Em relação aos próximos passos, o Copom deve manter o plano de voo anunciado em dezembro, elevando a Selic em 1 p.p. na reunião de março. Entretanto, acreditamos que não haverá sinalizações sobre novas altas em maio, já que o Comitê deve aguardar dados adicionais para melhor avaliar a evolução da conjuntura econômica brasileira e global.
Em relação à inflação, o IPCA registrou alta de 0,52% em dezembro e encerrou o ano em 4,83%, acima do limite superior da meta. Para agravar a situação, a composição da inflação manteve a tendência dos últimos meses. Bens industriais, serviços, serviços subjacentes, serviços intensivos em mão de obra e a média dos núcleos – indicadores acompanhados de perto pelo banco central (BC) – apresentaram aceleração na passagem de novembro para dezembro.
Essa dinâmica é explicada por fatores como o mercado de trabalho robusto, com a taxa de desemprego nos menores níveis da série histórica, massa salarial elevada, desvalorização do câmbio, entre outros.
Em resumo, encerramos 2024 com uma inflação preocupante.
Para 2025, projetamos um IPCA de 5,6%, com viés de alta, influenciado por diversos fatores, incluindo nossa expectativa de uma taxa de câmbio mais pressionada ao longo do ano, que já tem impactado e deve continuar pressionando os preços de bens industriais e alimentos neste ano. Além disso, esperamos que os preços de serviços se mantenham em torno de 6% devido à força do mercado de trabalho, impactando o índice geral.
Outro ponto relevante é a maior inércia inflacionária de 2024 para 2025, influenciada pelo reajuste do salário-mínimo, pelo aumento de custos e seu repasse aos consumidores, além dos reajustes em tarifas públicas. O IGP-M, que fechou o ano em 6,5%, também deve impactar os preços de aluguéis, matrículas escolares e planos de saúde.
Por fim, destacamos o crescimento da atividade econômica, a desancoragem das expectativas de inflação e o aumento da alíquota do ICMS sobre combustíveis, previsto para fevereiro, como fatores adicionais que podem pressionar a inflação.
Em relação às expectativas de inflação, conforme destacado no Boletim Focus, apontam para uma ampliação da desancoragem, o que tem sido uma das principais preocupações da diretoria do Banco Central. Para 2025 e 2026, anos que possuem maior peso no horizonte relevante da política monetária, essas expectativas vêm aumentando semana após semana.
Os principais fatores que explicam a desancoragem das expectativas de inflação incluem o aumento do risco fiscal no Brasil, que se intensificou nos últimos meses, a desvalorização cambial e as dúvidas sobre a credibilidade do Banco Central em atingir a convergência da inflação para a meta.
A questão que se coloca é que, mesmo com a sinalização da autoridade monetária de novas elevações na taxa de juros, possivelmente superando o patamar de 15,0% ao ano, o cenário inflacionário continua se deteriorando, sem apresentar sinais de estabilização.
Isso se contrasta com o fato de o Brasil já registrar a segunda maior taxa de juros real ex-ante do mundo, de 9,5% a.a. Esse patamar está muito acima de seus pares e não era visto desde o governo Dilma, refletindo a dificuldade de controlar a dinâmica inflacionária atual e as expectativas de preços mais altos nos próximos anos.
Este juro real reflete a conjuntura desafiadora do Brasil, marcada pela falta de confiança nas condições econômicas e fiscais de médio prazo. Esse cenário também reflete a demanda de investidores por retornos mais elevados, como forma de compensar a ausência de diretrizes claras sobre o controle do crescimento das despesas do governo e a trajetória ascendente da dívida pública.
Além disso, o juro real nesse patamar tem o objetivo de desestimular o consumo e o investimento, desacelerar o mercado de trabalho, conter a alta dos preços e reduzir a desancoragem das expectativas de inflação.
Contudo, é preocupante que, mesmo com taxas tão altas, não haja perspectivas claras de convergência da inflação para a meta. Juros reais nesse patamar são raros no Brasil, mas já ocorreram em momentos de crise, como nos anos 1990 e em períodos de instabilidade fiscal.
Por isso, a melhor maneira de reduzir o estresse e evitar uma escalada ainda maior dos juros é o governo realizar um ajuste fiscal série pelo lado dos gastos. Enquanto a política monetária busca ancorar expectativas e controlar a inflação, a política fiscal segue incerta, sem diretrizes claras sobre o controle da dívida pública, impactando a curva de juros, câmbio e a inflação futura.
Reconstruir a credibilidade fiscal é essencial para reduzir a volatilidade, estabilizar expectativas, criar condições mais favoráveis ao crescimento econômico e encerrar o ciclo de alta de juros.