O resultado negativo do Produto Interno Produto (PIB) foi o principal destaque desta semana. A queda de 0,1% da economia brasileira no segundo trimestre de 2021, em relação aos primeiros três meses do ano, contrariou as expectativas do mercado sobre a retomada econômica. Em meio ao avanço da vacinação contra a covid-19 e à volta dos setores de serviços, ainda vemos o aumento da inflação e da taxa básica de juros, a Selic.
“Também tem impactado o mercado uma série de revisões do PIB para baixo e da inflação para cima, isso em função da crise hídrica, um possível racionamento e de outros fatores que vêm prejudicando a economia brasileira, como a instabilidade institucional”, pontuou o economista chefe da Íntegral Investimentos, Daniel Miraglia.
É importante ressaltar que apesar de o índice econômico ser negativo, os setores de serviços – como o consumo familiar, investimentos, gastos públicos e a balança comercial –, registraram resultados positivos. Já a agropecuária e o setor industrial registram baixas, mas que já eram esperadas.
“O setor agropecuário sofreu essa queda por conta da crise hídrica, que já está impactando a produção agrícola. É importante lembrar que parte da produção agrícola está sendo direcionada ao exterior, uma vez que a taxa de câmbio é mais atrativa para vendas para fora do que internamente; a redução da oferta cresce”, explicou o analista de investimentos da Wise Investimentos, Eduardo Marzbanian.
Carga tributária e risco fiscal
Surpreendendo ainda as previsões, o texto da reforma do Imposto de Renda foi votado e aprovado pela Câmara dos Deputados na quinta-feira (2). O projeto agora seguirá para o crivo do Senado. “O mercado tinha uma esperança de que essa votação não aconteceria e foi pego de surpresa. Para o mercado, essa reforma é extremamente populista; e mais complica do que simplifica a vida do contribuinte brasileiro”, comentou Miraglia.
“Ao mesmo tempo o governo pode ter uma redução na arrecadação, quer gastar mais dinheiro no ano que vem – ano de eleições – e quer também gastar com programas de renda. Para tentar gastar mais, o governo quer passar a PEC dos Precatórios, para estender os prazos de pagamento desses precatórios, que é visto como calote pelo mercado”, explicou Eduardo Marzbanian.
“Se o texto for aprovado como está hoje nós teríamos um aumento da carga tributária total. Mas segue a linha do governo, que vem falando sobre tentar incentivar os investimentos das empresas. É uma pauta recorrente no discurso do ministro Paulo Guedes, de que o propulsor do crescimento econômico é o setor privado. Ao diminuir a alíquota das empresas você incentiva o reinvestimento e não a distribuição de dividendos para os acionistas e sócios”, explicou o economista chefe da Valor Investimentos, Paulo Duarte.
Estímulos americanos
Olhando para o cenário internacional, os dados divulgados sobre o mercado de trabalho dos Estados Unidos vieram abaixo do que era esperado. “Quando os dados de atividade econômica são mais fracos acaba repercutindo no mercado a possibilidade da manutenção dos estímulos por um período mais longo. Com esses dados, é possível que o anúncio da retirada de estímulos venha só em novembro”, comentou a economista chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.
Os investidores têm ficado de olho na retirada de estímulos da economia americana. Caso esses estímulos se prolonguem, é possível que haja uma desvalorização do dólar americano, isso acaba beneficiando os investidores, que surfam na onda da liquidez. “Agora o aumento do juro deve vir apenas para 2022, ainda vai demorar, mas vai vir”, afirmou Abdelmalack.
Tensão sobre 7 de setembro
Para a próxima semana fica uma tensão, principalmente pelo 7 de setembro. Segundo a economista, “o final desta semana fecha com toda essa tensão envolvendo o 7 de setembro, a expectativa de uma paralisação, manifestação. Além das questões que tramitam no governo, como a questão dos precatórios, o auxilio Brasil e todas essas questões internas.”
“A bolsa está encerrando a semana em queda e para semana que vem nós esperamos mais queda, uma vez que não existe nenhum gatilho que possa fazer com que o índice se recupere. Pode até ter uma correção por fatores internacionais, mas o cenário doméstico prevalece. Dada a crise fiscal, a tendência é que a bolsa continue em queda”, finalizou Marzbanian.