As Small Caps conseguem ser as donas das maiores rentabilidades e também das maiores baixas da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) dado que essas companhias conseguem crescer e serem impactadas negativamente pelo cenário econômico atual, na mesma velocidade. Olhando apenas pelo lado positivo, de acordo com a Economatica, três small caps tiveram alta de mais de 1000% nos últimos cinco anos, e outras duas subiram mais de 600%. Por isso, o BP Money enumerou essas ações e conversou com especialistas para entender se o momento é interessante para o investimento nessa classe de ativos.
Segundo levantamento elaborado por Einar Rivero, com dados da plataforma da TC/Economatica, o ranking das ações de empresas com baixa capitalização de mercado que mais rentabilizaram nos últimos cinco anos é liderado pela Unipar (UNIP6), que teve alta de 3.257,01% no período. Atrás dela, estão: Taurus (TASA4) 1374,15%, Dexxos Particpações (DEXP3) 1024,23%, Log-In (LOGN3) 925,58% e SLC Agrícola (SLCE3) 665,14%.
Segundo André Zonaro, analista da Nord Research, essas smalls caps andaram muito tempo “de lado” antes de começarem a dar resultados, o que é normal para este tipo de ativo.
“Quando a gente olha para essas empresas, praticamente todas elas tiveram seus resultados de lado, digamos assim, entre 2014 e 2020. Do final de 2020 para cá, o resultado dessas empresas teve uma forte evolução, e aí naturalmente as ações acompanharam essa evolução de resultados”, afirmou Zonaro.
Ele também explicou que algumas dessas companhias que tiveram um salto nas ações nos últimos cinco anos passaram por um processo de reestruturação, como é o caso de Taurus. Outras simplesmente foram beneficiadas por alguns cenários, como a alta de commodities em alguns ciclos pontuais.
“Tudo isso faz com que as ações tenham apresentado essa evolução muito forte nesses últimos tempos, mas quando a gente estica em uma janela maior, a gente vê que durante boa parte do tempo elas estiveram de lado justamente porque os resultados não andaram”, complementou.
Para o analista Thomas Pedrinelli, responsável pela plataforma MundoInvest, as três primeiras companhias que compõem este ranking das small caps com maior rentabilidade nos últimos cinco anos são exemplos de empresas com bom planejamento e gestão.
“Unipar (UNIP6), Dexxos (DEXP3) e Tauros (TASA4) são exemplos de boas small caps que deram certo. Conseguiram, através de um crescimento constante de receita e market share, intrinsecamente vinculados a uma ótima gestão, geraram resultados fantásticos para seus acionistas”, Pedrinelli.
O analista fez um comparativo entre a Smith & Wesson (maior empresa de armamentos do EUA) e a Taurus, small cap brasileira do mesmo setor, para mostrar que, mesmo que a Taurus tenha números muito menores no momento, é ela quem pode apresentar um maior crescimentos nos próximos anos.
“A Taurus vendeu apenas 570 mil armas (de todos os calibres) contra 2,6 milhões da S&W. E aqui vai uma grande oportunidade para as small caps. A Taurus, por exemplo, tem maior probabilidade de dobrar seu market share e atingir 1 milhão de armas vendidas do que a S&W conquistar a marca de 5 milhões de armas. Claro que a Taurus tem enormes desafios para desbravar esse mundo e conquistar mais espaço, mas é exatamente por isso que small caps, quando dão certo, multiplicam seu valor de mercado em poucos anos”, disse Pedrinelli.
De acordo com Thomas Pedrinelli, responsável pela plataforma MundoInvest, as small caps “não tem nada de pequena empresa”, apesar de terem valor de mercado entre R$ 300 milhões e R$ 2 bilhões.
“As small caps nada mais são do que empresas de pequeno porte, valendo em média até 5 bilhões. Ou seja, não tem nada de pequena empresa aqui, mas quando comparamos a outras empresas, como a Vale, com um valor de mercado de quase R$ 400 bilhões, vemos que realmente, uma small cap é pequena”, disse.
Pedrinelli também destaca que as small caps são parecidas com startups, em relação ao processo de modelo de negócios. “Small caps tem (quando comparado com as large caps) uma enorme flexibilidade de mudar estratégias, testar processos novos e reorganizar seus departamentos”, afirmou.
Cenário atual é interessante para investimentos em Small Caps?
Com a alta de juros e também da inflação, muitos investidores começam a migrar para investimentos de renda fixa e tirar os aportes (ou diminuí-los) de empresas que são mais afetadas por este cenário, como é o caso das Small Caps.
Segundo André Zonaro, da Nord, para o investidor de longo prazo, essa é uma excelente janela de compras para small caps..
“Hoje, as ações que compõem o índice small caps estão negociando abaixo de 6x lucro, que é o indicativo de quão barato ou quão caro o investidor está pagando nessas ações. Nesse preço, próximo a 6x/7x lucro, a gente viu apenas em 3 oportunidades nos últimos 14 anos: agora em 2022, em 2015 – no auge da nossa crise fiscal e política aqui no Brasil – e em 2008, no auge da crise financeira. Em 14 anos, essa é a terceira vez que a gente vê o índice negociando em patamares tão baixos”, disse Zonaro.
“É aquela oportunidade que não acontece toda hora, que não vai ter todo ano, porém o investidor precisa ter bastante cuidado, porque não é só comprar qualquer ação small cap ou qualquer empresa. É bastante importante que ele saiba escolher quais são as empresas que ele precisa comprar para poder carregar para o longo prazo”, complementou.
Para Thomas Pedrinelli, da MundoInvest, o cenário atual é de desafio para todas as small caps brasileiras, por causa da taxa de juros.
“Um dos principais pontos de uma small cap é o seu próprio financiamento. Em épocas em que a taxa de juros está mais baixa, os empréstimos ficam mais baratos e as empresas têm maior capacidade para se endividar, se capitalizar e literalmente alavancar sua posição financeira para comprar mais insumos, contratar pessoas qualificadas e expandir plantas industriais. Hoje, com a Selic acima de dois dígitos, os empréstimos ficam muito caros, principalmente para essas empresas que ainda tem que se provar no mundo de gigantes”, explicou o analista.
Mesmo assim, ele afirma que, com uma visão mais estratégica, é possível encontrar bons ativos dessa classe. “Hoje, estou de olho em algumas empresas, como Iguatemi (IGTI11), com foco principalmente na reabertura dos shoppings e volta da economia nos próximos 2 anos; Minerva Foods (BEEF3), uma empresa que tem muito market share para conquistar dentro do mercado alimentício, principalmente falando de gado e, uma das que eu mais tenho observado com carinho é a Petz (PETZ3). O nicho de pet é um dos que mais cresce, não só no Brasil como no mundo. Pessoas estão deixando de ter filhos e estão dando um upgrade na vida de seus pets, desde ração, acessórios até medicamentos e tratamentos”, disse o analista.
Zonaro, da Nord, segue a mesma linha de raciocínio de Pedrineli, e explica que é difícil prever para onde vão as small caps, já que elas não têm um comportamento tão linear quanto as grandes da bolsa. Ainda assim, ele afirma que existem algumas empresas no radar.
“A gente gosta de Minerva, porque passou por esse cenário de andar de lado, e o mercado já passa a olhar melhor para Minerva. Também tem a 3Tentos, que veio pra bolsa recentemente do Agronegócio. Um ecossistema bastante ímpar, com um potencial de crescimento muito grande e que tende a surfar o ciclo de commodities em alta agora, mas que consegue crescer sem as commodities estar em alta, então passa a ser uma empresa bastante versátil, por isso a gente gosta bastante”, disse o analista da Nord Research.
Outro ponto de interseção na fala dos dois analistas consultados pelo BP Money é de que as Small Caps são investimentos para o longo prazo, já que elas possuem um bom potencial de crescimento por serem empresas menores.
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Texto escrito por Juliano Passaro, BP Money.