Por Rodolfo Margato e Alexandre Maluf, economistas da XP.
XP Macro Watch – Ata do Copom: serenidade e moderação em meio às incertezas crescentes
Em resumo, consideramos a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) como mais dura (hawkish), reforçando nossa projeção para a taxa Selic acima do consenso de mercado em 2024 – projetamos a taxa básica de juros em 11,75% no final de 2023 e 10,00% no final de 2024.
De alta relevância, o Copom enfatizou que o ambiente global é adverso, em linha com o aumento das taxas de juros de longo prazo nos EUA, a persistência de núcleos de inflação acima da meta em muitos países e novas tensões geopolíticas. Nesse sentido, o documento diz que o comitê discutiu os efeitos dos juros altos nos EUA “via diferencial de juros, prêmio a termo na curva de juros, demanda externa, câmbio, taxa neutra de juros, preço das commodities, entre outros”. A partir disso, o Copom “avalia que é apropriado adotar uma postura de maior cautela diante dos riscos envolvidos”.
Sobre a atividade econômica doméstica, “o Comitê segue antecipando uma desaceleração da atividade econômica ao longo do segundo semestre, após as surpresas no crescimento observadas no primeiro semestre”. Além disso, o Copom continua a avaliar o mercado de trabalho como dinâmico, com contratações formais de emprego em níveis elevados. Dito isso, a autoridade monetária avalia “que não há evidência de pressões salariais elevadas nas negociações trabalhistas, mas julgou que é importante seguir monitorando com bastante atenção as diferentes variáveis do mercado de trabalho”.
Em relação à inflação corrente, o documento reconheceu a dinâmica benigna do atual processo de desinflação, mas destacou que “esgotam-se algumas fontes de desinflação que contribuíram para o primeiro estágio da desinflação. Em particular, nota-se uma menor pressão baixista dos preços de atacado de bens industriais…” e os preços agrícolas “já não sugerem pressões baixistas tão pronunciadas nos próximos trimestres”. Apesar das boas notícias no curto prazo, o documento reforçou que “[a]s expectativas de inflação seguem desancoradas e são um fator de preocupação”.
Além disso, destacou que o “fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário” são chave para as expectativas de inflação – observe que a palavra “fiscal” foi adicionada na frase. No décimo parágrafo, incluiu “disciplina fiscal” como causa para a elevação das taxas de juros neutras. Também, a ata aponta que “…no período mais recente, cresceu a incerteza em torno da própria meta estabelecida para o resultado fiscal, o que levou a um aumento do prêmio de risco.” e manteve a mensagem sobre a “importância da firme persecução dessas metas [fiscais]”.
Chamamos atenção que “[u]m membro avalia que o cenário externo introduz um viés assimétrico altista no balanço de riscos para a inflação. Os demais membros avaliam que o cenário internacional afeta primordialmente o grau de incerteza relativo ao balanço de riscos. O Comitê é unânime em avaliar que o aumento da incerteza no cenário global exige cautela”.
Por fim, o Comitê considera que “ainda há um caminho longo a percorrer para a ancoragem das expectativas e o retorno da inflação à meta, o que exige serenidade e moderação na condução da política monetária“.