Para falar sobre as propostas e mudanças que buscam facilitar a entrada e o dia a dia das mulheres no mercado financeiro, o Por Elas recebeu Thaliani Franco, fundadora da Ville Capital, Camila Silva, da Wide Investimentos, e Gláucia Coutinho, da Nobel Capital.
Advogada por formação, Gláucia trabalhou com Direito e Recursos Humanos por muito tempo antes de ingressar no mercado financeiro. Durante grande parte de sua carreira, ela atuou em portos, onde muitas vezes não recebia currículos de mulheres. No entanto, com a migração para o ramo de assessoria, ela também começou a se questionar sobre a falta de mulheres neste meio. “Foi então que eu comecei a buscar soluções”, conta.
Também formada em Direito, Thaliani sofria com a falta de identificação com a área e resolveu entrar para o universo financeiro por meio de um trabalho em um banco focado no agronegócio. Natural de Cuiabá, ela se mudou para São Paulo por conta do trabalho na instituição. Em uma das primeiras vagas, ainda na área do Direito, Thaliani ouviu que, apesar do bom currículo, o entrevistador não queria uma mulher bonita no escritório para evitar casos de assédio.
Sócia da Wide Investimentos e responsável pela área de Expansão, Camila destacou sua trajetória de dez anos no segmento. A assessora dividiu o receio que sentia ao fazer visitas às casas de clientes. “O fato de estarmos aqui falando é justamente para incentivar mais mulheres que querem fazer parte do mercado financeiro”, diz.
Gláucia ainda relembra que, em um dos portos onde trabalhou, teve de contornar um CEO que não acreditava na presença de mulheres neste meio. Em março deste ano, ela também percebeu que no mercado financeiro as vagas eram sempre concorridas por homens. Para mudar a situação, propôs que no anúncio a vaga fosse direcionada a assessoras, ao contrário do que costuma ser feito. No primeiro dia a Nobel recebeu 10 currículos de mulheres.
Para mostrar que essa é uma carreira para mulheres, ela propôs ainda que as redes sociais do escritório divulgassem histórias de suas funcionárias no mês de março, para dar visibilidade a essas histórias. “Se há interesse em trazer mais mulheres, anunciar uma vaga exclusivamente feminina faz diferença”.
“Hoje, como head de Expansão, ser uma mulher me faz garantir um ambiente seguro em que outras saibam que estão sendo vistas, ouvidas e validadas”, relata Camila. Atualmente, 45% dos integrantes da Wide são mulheres.
Dilemas femininos
Outro ponto de destaque foram os diversos dilemas que as mulheres passam no mercado. “Existe aquela máxima de ser a primeira chegar e última a sair. Mas quando você é mulher e a última a sair, não sabe qual será o motorista de aplicativo que vai te buscar”, conta Camila. Além disso, ela acrescenta que, em situações em que todos estão exaltados, apenas as mulheres são vistas como estressadas.
Já Thaliani ressaltou a importância da presença de homens em eventos como o Por Elas, para ouvir os relatos das mulheres e tomarem consciência do espaço delas. A assessora falou que gostaria de ter uma mulher na mesa de renda variável do escritório, mas muitas profissionais não se veem neste lugar. Ele ainda acrescentou que a maneira como os homens olham para elas no ambiente profissional também pode gerar incômodos. “Você entra em um lugar e eles te olham com aquela cara de ‘Nossa, o que será que ela fez para estar aqui?'”.
Por fim, Gláucia relembrou de quando fez sua transição para a Nobel Capital. Dentre as cinco propostas que recebeu, ela escolheu o escritório por sentir que ali poderia fazer a diferença e ter seu potencial valorizado.
“A mudança sempre vem de cima para baixo”, completou Camila. Para a assessora, não basta os líderes comprarem ideias. Eles também devem executar e trazer pautas de equidade para o escritório.
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