Com o desafio de falar sobre a “Perspectiva para o cenário econômico global neste novo ambiente inflacionário”, o All Together reuniu na manhã desta sexta (22) Sávio Barbosa, economista chefe da Kínitro Capital, e Daniel Cunha, Macro Sales do BTG. O painel foi moderado por Erich Decat, fundador da CRC!News.
Sávio iniciou sua participação destacando que o mundo saiu de uma situação na qual houve excesso de estímulos na economia por conta da pandemia, e considera difícil a inflação baixar no Brasil enquanto nos Estados Unidos ela está na faixa dos 9%: “Nossa leitura é que o Fed está diante de um quadro muito desafiador e vai ter trabalho para domar a escalada dos preços. A taxa deve subir 0,75 na próxima reunião e será difícil desacelerar para setembro.”
Um dos fatores que reforçam essa percepção é o fato de os Estados Unidos terem 11 milhões de postos de trabalho em aberto e 6 milhões de desempregados. “São praticamente duas vagas para cada pessoa. Isso Isso coloca muita pressão na inflação pelo canal de salários e de demanda agregada”, resume.
Por fim, o economista trouxe mais um elemento para ampliar a complexidade do atual cenário: a opção dos países por realizar uma transição energética em direção a fontes de geração mais limpas. Apesar de considerar uma mudança bem-vinda e necessária, ele argumenta que as metas foram um pouco ambiciosas e reduziram o nível de investimento das empresas de petróleo.
“Em vez de construir novos postos de extração, elas focaram no retorno aos investidores. Foi mais ou menos o que aconteceu com a indústria do tabaco nos anos 1980. Soma-se a isso a guerra na Ucrânia, que trouxe um choque de oferta adicional e gerou o risco de o fornecimento de gás ser interrompido no inverno”, diz.
Antes de entrar no cenário nacional, Daniel Cunha, do BTG, também traçou um breve panorama global. Para ele, além da agenda ambiental, há um processo de desglobalização em curso, fruto de um esgotamento, pois boa parte da mão de obra barata do mundo já foi absorvida. “Além disso, há questões culturais, geográficas, geopolíticas. E a guerra tarifária é uma forma de destruir produtividade e gerar inflação. Aí vem a covid, que trouxe um impacto negativo para oferta e positivo para demanda sem precedentes, e depois a guerra. Estamos vivendo uma sobreposição de choques que remonta à década de 1970”, opina.
Em sua visão, será muito difícil conter o problema inflacionário apenas com ajustes de juros na casa dos 3%. “Seria uma ótima notícia para o mercado solucionar algo tão complexo somente com essa medida. Mas tendo a acreditar que o trabalho será um pouco mais longo e custoso”, diz.
Quanto ao Brasil, o especialista considera o rompimento do arcabouço fiscal criado com a lei de responsabilidade fiscal e consolidado com o teto de gastos como uma das principais dificuldades enfrentadas pelo país em relação aos investidores. “O mercado se apega muito a frameworks, expectativa e credibilidade. Nos últimos meses, abrimos alguns precedentes que machucaram essa confiança.”
Na opinião de Erich Decat, uma das grandes interrogações na cabeça do investidor está relacionada à imprevisibilidade política. “Todos querem saber o que vem em 2023. Será uma agenda mais desenvolvimentista, um liberal 2.0? Essa também é uma dúvida de muitos assessores que estão tentando ler o cenário para saber o que recomendar para seus clientes”, projeta.
Daniel concorda com a avaliação, e revela que o mercado deve iniciar 2023 com uma postura de “ver para crer”. “Acredito que enquanto essa confiança não for recuperada, vamos viver um período de maiores prêmios em função dos riscos. Então é um momento voltado para a renda fixa. Já em relação à bolsa, o ideal é estar em seu mínimo histórico de alocação, mas ainda vejo um momento que pode favorecer o setor de commodities, pois grande parte da pressão que vivemos vem pela oferta”, encerra.
O evento
Criado para ser uma mesa redonda de bate papo entre os principais representantes do ecossistema do assessor de investimentos, o All Together conta com a presença de representantes da XP Investimentos, BTG, Guide Investimentos, Modal e Necton.
O evento está previsto para ocorrer entre 21 e 22 de julho, em São Paulo. Os ingressos e toda a programação estarão disponíveis no portal www.eventoalltogether.com.br. Toda a arrecadação com os tickets será convertida para ação social.
White label
O evento é fruto de uma parceria entre duas jovens empresas: a CRC!News e o Mercado In Foco, que atuam no setor de forma independente.
O primeiro rascunho do projeto All Together contava com a realização de apenas quatro painéis de bate papo, mas devido à grande receptividade de vários representantes do mercado, o evento passou para 14 a ser realizado em dois dias.
Como surgiu?
A ideia do All Together nasceu antes mesmo da criação da CRC!News em meio à estruturação do plano de negócios do primeiro veículo especializado na cobertura de todo o ecossistema dos escritórios de investimentos.
Fomentar o “bom debate” entre os principais players do setor sempre foi um sonho a ser estruturado ao longo do percurso. A parceria com o Mercado In Foco foi fundamental para a realização do projeto, que promete ser apenas o primeiro das duas empresas recém-chegadas, mas que vem conquistando a confiança dos principais nomes da indústria.