A capacidade dos fundos multimercado balancearem a gestão de risco das carteiras do investidor foi o destaque do painel “Bons ventos para os multimercados”, realizado no início da tarde desta quinta (4) durante a Expert XP. A mesa reuniu importantes gestores, como Walter Maciel, CEO da AZ Quest, Marcio Fontes, da Asa Investments, e Sylvio Castro, sócio-fundador da Grimper Capital, sob mediação de Rafael Culbert e Clara Sodré, da XP.
De acordo com Maciel, a flexibilidade oferecida pelos fundos multimercado faz com que o produto desempenhe papel essencial na composição do patrimônio. Ele explicou que, quando o investidor coloca muito capital em renda variável e sofre com uma oscilação, a pessoa pode realizar o prejuízo e ficar muito tempo fora do mercado. Por outro lado, quem fica só na renda fixa não se beneficia nos movimentos de valorização dos ativos.
“Já os multimercados conseguem fazer esse balanceamento da gestão de risco, pois é o gestor quem vai definir quais países e produtos alocar. Se o mercado está com tendência ruim, faz uma posição short que funciona como hedge para a parcela de sua carteira em renda variável. Então é uma classe que entrega retorno elevado e ainda tem papel moderador”, resumiu.
Fontes acrescentou que os gestores deste tipo de fundo conseguem realizar operações que o investidor comum teria dificuldade de executar por conta própria. “Como eu faço para ficar short em taxas de juros de outros países? Não é algo simples. Por isso, é sempre interessante colocar parte do patrimônio em algo que tem essa versatilidade. Faça sol ou faça chuva, eles ganham em cima de deslocamentos de câmbio, juros, qualquer coisa. E nesse mundo atual em que temos muita bagunça em nível macro, surgem várias oportunidades para os multimercados”, opinou.
“O investidor sozinho não é capaz de fazer uma análise de 50 papeis de crédito ou de dezenas de moedas ao longo de um semestre. É preciso contar com um time composto por pessoas com especialização em várias áreas. O mundo está ficando um lugar tão complexo que fica difícil imaginar que tirando 10 minutos por dia para olhar o mercado você vai construir uma carteira de modo a poder dormir tranquilo”, completou Castro.
Contudo, para se beneficiar destas características, o fundador da Grimper defendeu que o investidor deve evitar olhar para o desempenho dos gestores no curto prazo. “Sempre tem aquelas pessoas que pulam para o gestor que teve a melhor performance de curto prazo, mas quando se olha no longo, o desempenho depois de todos esses movimentos é pior do que se permanecer onde estava desde o início. Somados, os pequenos pecados levam um portfólio ao inferno. Uma carteira mais estrutural, focada em janelas de 3 a 5 anos, traz maiores benefícios”, apontou.
“Algumas das carteiras que melhor performaram nos Estados Unidos foram aquelas cujos donos morreram e as famílias entraram em disputa e não mexeram nos ativos. Com isso, o patrimônio ficou parado na mão do gestor por décadas, obtendo ótimos retornos. Quem acha que conta com uma expertise que não tem e deixa de confiar no gestor gera ineficiência para o seu patrimônio”, completou Maciel.
Indústria em amadurecimento
Na avaliação do gestor da Asa, a indústria multimercado está em processo de amadurecimento no Brasil. “Começamos a ver os primeiros fundos nacionais do tipo no final dos anos 1990. Em função de um cenário altamente favorável aos ativos de risco, tivemos ao longo dos últimos anos toda uma cultura de compra alocando parte na renda fixa de longo prazo e outra parte em bolsa. Estamos entrando em um mundo novo no qual essa estratégia pode não ser mais tão vantajosa, e os multimercados conseguem captar essa mudança de direcionamento”, revelou.
Sobre as eleições, Maciel argumentou que, ao contrário das incertezas alardeadas, o cenário é bastante previsível, pois quem lidera as pesquisas são o atual presidente e outro que já ocupou o cargo por oito anos. “Pode-se não gostar de um ou dos dois, mas não dá para dizer que não sabemos como governam. A gestão no Brasil é muito profissional, com desempenho superior aos demais pares emergentes e que não perde nada para os mercados desenvolvidos. O papel dos assessores está em ajudar o investidor a encontrar aqueles com as melhores estruturas e uma equipe profissional para aproveitar as oportunidades”, destacou Maciel.