Realizada on-line ou presencial, a prova para certificação de agentes autônomos de investimentos da ANCORD é conhecida por sua complexidade e baixa taxa de aprovação. Ao todo são 80 questões de múltipla escolha, divididas em 15 módulos que abordam diferentes assuntos do mercado financeiro e dos investimentos. São disponibilizadas 2h30 para que o candidato realize a prova.
Para ser aprovado e receber o certificado, é necessário acertar 70% da prova, ou seja, ter pelo menos 56 acertos, sendo obrigatório somar no mínimo 50% de respostas corretas em cinco capítulos específicos. Esse é o caso dos derivativos, em que podem cair questões sobre: produtos, modalidades operacionais, tributação e regulamentação básica.
O assessor de investimentos da Miura, Vinícius Meireles, começou no mercado financeiro como estagiário quando cursava administração e decidiu seguir para o caminho de agentes autônomo. “Eu passei na CPA20 de primeira e ai comecei a me preparar para a prova da ANCORD, que era o bicho papão para mim, mas veio a pandemia e eu optei por não fazer on-line e esperar voltar as aplicações presenciais”.
Meireles comprou um curso on-line e estudava com o material que tinha, mas conta que o que realmente ajudou foi escritório e os colegas, que lhe deram suporte a todo momento. “Eu fiz a prova quatro vezes, na primeira vez não passei por seis questões, na segunda por uma e na terceira foram três, a frustração ação foi muito grande”. Mesmo tendo reprovado três vezes, os colegas do escritório não deixaram Meireles desistir.
É comum que os candidatos não passem de primeira, já que a prova é muito extensa e conta com uma quantidade razoável de conteúdos abordados. O candidato deve se preparar bem com bastante estudo e realizar exercícios que simulem a prova.
Para Meireles a maior dificuldade foi a interpretação das questões. “Eu acredito que os enunciados não são bem elaborados, porque não caem temas que a gente vê diariamente no mercado, a gente usa os termos técnicos, mas não da maneira que cai na prova. Além das questões serem muito extensas, o que deixa tudo mais cansativo”.
Conhecido pela dificuldade na prova, o módulo de derivativos carrega as questões com menor índice de acerto entre os capítulos s de acordo com a ANCORD.
Recém-formado no Ensino Médio, Luís Felipe Costa Borges escolheu seguir a carreira de agente autônomo de investimentos e hoje, aos 19 anos estuda para passar na prova, a qual já tentou duas vezes e acabou reprovando por seis e quatro questões, respectivamente. “Eu estudei durante dois meses, eu não sabia nada sobre mercado financeiro, no primeiro me dediquei a parte teórica e no segundo mês fiz os simulados”, explicou.
Para Borges, uma de suas maiores dificuldades foram os derivativos. “Na primeira vez que eu fiz a prova e cheguei no módulo de derivativos eu achei bem complicado, porque era completamente diferente do que eu tinha estudado pelos simulados. Já na segunda vez eu me preparei melhor e ficou um pouco mais fácil e aí faltou só uma questão para eu conseguir fechar os 50%”.
O estudante da uma dica para quem está se preparando para a prova “Não decore, entenda e vá pela lógica, isso vai te ajudar a ter uma melhor interpretação”.
Os derivativos na prova
Os derivativos possuem um mercado bem desenvolvido na B3 e são parte importante da prova da ANCORD para se torna agente autônomo de investimentos, uma vez que é necessário acertar pelo menos seis das doze perguntas desse módulo.
“Todo mundo na vida já ouviu falar sobre bolsa de valores, ações, CDB, ainda que não seja um especialista, você tem um conhecimento mínimo de pelo menos saber de onde vem o termo, com derivativos não existe essa familiaridade, são operações mais complexas que exigem mais conhecimento. Uma pessoa que não conhece o mercado vai ter problemas, igual a parte de liquidação, é muito mais específico e demanda muito estudo”, explicou o CEO da FKPartners, Pablo Camargo.
O nível de dificuldade da prova vem aumentando a cada ano, por ser uma certificação renomada, é necessário ter uma boa preparação, mesmo que o candidato já atue no mercado financeiro de alguma maneira. Na visão do sócio-diretor da Pro Educacional, Evandro XXX, o candidato deve se dedicar piamente ao capítulo de derivativos. “Os assuntos que caem são bem específicos, geralmente a pessoa não encontra em qualquer lugar, normalmente o foco não está na especulação, então a parte de derivativos tem maior foco na proteção da carteira e dos investimentos”.
Evandro também comentou sobre os assuntos que mais caem na prova e devem estar na ponta da língua do candidato. “O que mais cai são contratos a termo, swaps e opções, é preciso entender muito bem cada conceito e entender como cada um funciona para proteção. Tem que entender bem e saber calcular.”
Apesar da importância de saber muito bem a parte técnica, o candidato deve estudar com muita atenção a teoria desse capítulo, focando na legislação e normais relacionadas aos derivativos.
Uso no dia-a-dia do assessor
Como explicado no começo dessa reportagem, os derivativos são instrumentos financeiros que podem ser usados para proteger os investimentos ou lucrar com mais agressividade – muito utilizados por day traders, que passam o dia especulando os valores futuros de ativos e ações.
São quatro as aplicações mais comuns de derivativos: contratos a termo, contratos futuros, opções e swaps, além de dois tipos de liquidação, a física e a financeira.
A assessora de investimentos e sócia da RV4 Investimentos, Luciana Ikedo, falou sobre o uso de derivativos no dia-a-dia. “O assessor utiliza derivativos no dia a dia. A XP, corretora a qual sou credenciada, possui diversas operações estruturadas, que utilizam derivativos como parte da estratégia a fim de mitigar riscos e maximizar retornos. Para o cliente agressivo, este tipo de operação é muito interessante, pois possibilita a exposição ao mercado de ações, que é bastante volátil, mas com proteção”.
Ikedo ainda sinalizou que a principal função do assessor é entender os objetivos financeiros do cliente e apresentar produtos que sejam condizentes com o perfil daquele cliente, sendo necessário entender e conhecer bem todos as opções.
Como se preparar
Para ser assessor de investimentos não é necessário ter graduação ou bacharel, apenas a certificação da ANCORD, que atesta o conhecimento teórico sobre o mercado financeiro e o mundo dos investimentos.
A escola de finanças, FK Partners ministra um curso específico para que o candidato se prepare para a prova da ANCORD, o plano médio tem duração de três meses, mas pode ser feito em menos tempo. “Tem muitos alunos que estão em transição de carreira e tem mais tempo para estudar, três meses é um tempo bem folgado para pessoa se preparar e estudar tranquilamente”. O CEO também deixou uma dica para quem está se preparando. “Estude sempre no mesmo horário e no mesmo lugar, o negocio é ter disciplina.”
“Foque nos capítulos que tem maior peso, mas não esqueça dos menores, eles também são importantes. Então se sobrou um tempinho ali na hora do estudo, vai até esses capítulos de menos peso e estuda e revisa. Se eu pudesse dar uma dica é deixar economia por último”, comentou o sócio-fundador da Pro Educacional.