Por Fernando Siqueira, Guide Investimentos.
O Ibovespa fechou em queda por 13 dias consecutivos, encerrando esta sequência negativa em 18/ago. Apesar de ser uma sequência grande de baixas, a queda total desde a máxima foi de apenas ~6%. Ou seja, apesar de serem muitos dias negativos em sequência, a queda total desde a máxima é pequena.
Nos últimos anos, tivemos vários momentos de quedas maiores como pode ser visto na figura abaixo. Em momentos de “mercado de alta”, como entre 2004 e 2007 ou entre 2016 e 2019, as correções costumam ser menores. Em momentos de “mercado de baixa”, como entre 2011 e 2015, as correções costumam ser maiores e mais frequentes.
Apesar de não ter sido uma correção grande até agora (em termos desvalorização desde a máxima), uma sequência de quedas tão longa é algo incomum e vale a pena ser analisado. Em primeiro lugar, vale destacar que a queda do Ibovespa ocorreu em um momento em que outros mercados, particularmente o S&P 500, também operou em baixa. Isto por si só indicaria que a queda do Ibovespa não é um evento local, mas algo mais amplo.
O mercado de ações no mundo também desvalorizou neste período. O gráfico da direita mostra a queda do índice MSCI de países emergentes (inclui o Brasil e,
principalmente, a China). Apesar da queda do MSCI Brasil ter sido maior, o índice MSCI Emerging Markets também caiu na maioria dos dias de Agosto até agora (dia 22).
Em resumo, boa parte da explicação para a queda do Ibovespa nos últimos dias está na queda dos mercados internacionais, que foi motivada pelos dados desapontadores na China e também pela recente alta nas taxas de juros de mercado nos EUA.
Além dos fatores internacionais, outro ponto que vale destacar no caso do Brasil é que os resultados do 2T23 foram fracos. Empresas como Vale, Petrobras e Bradesco divulgaram resultados que desapontaram os investidores. Como estas empresas estão entre as maiores do Ibovespa, os resultados pressionaram o índice. Como pode ser visto na figura abaixo, desde o início de julho as projeções de lucro pro ano de 2023 tem sido revisadas para baixo. A tabela abaixo mostra as
maiores revisões.
A saída de investidores estrangeiros também foi um fator negativo pro Ibovespa neste período. Apesar da fuga não ter sido elevada, o fluxo estrangeiro foi negativo na maioria dos dias de queda do Ibovespa ao longo de agosto. Como pode ser visto na figura abaixo, o fluxo estrangeiro que estava predominantemente positivo até julho, passou a ser predominantemente negativo em agosto: no mês, os resgates somam cerca de R$ 9 bilhões.
Nossa visão ainda é que o mercado de ações ainda está em uma tendencia de alta, impulsionada pelo início do ciclo de cortes de juros no Brasil. Este ciclo de alta foi momentaneamente interrompido pela preocupação com o crescimento da China e também pela recente alta nas taxas de juros de mercado nos EUA. Dadas estas incertezas com o cenário internacional, acreditamos ser prudente evitar nomes mais cíclicos ou empresas muito endividadas e com resultados fracos. Como pode ser visto abaixo, a correção dos últimos 20 dias fez com que muitas ações caíssem bastante, gerando boas oportunidades de compra, sem a necessidade de investir em nomes muito arriscados.
Uma outra forma de avaliar se a queda foi grande (o mercado estava caindo um pouco antes do início de agosto) é olhar o índice de força relativa (IFR). O IFR é um índice que pode ir de 0 a 100, mas na maior parte do tempo oscila entre 30 e Ações com IFR abaixo de 30 são consideradas “sobrevendidas” enquanto ações com IFR acima de 70 são chamadas de “sobrecompradas”. Como pode ser visto nas figuras abaixo, não há atualmente no Ibovespa ações com IFR acima de Por outro lado, há diversas ações com IFR abaixo de 30 ou muito perto deste nível.
Algumas ações com IFR abaixo de 30 atualmente e que vem apresentando bons resultados são Weg e Rede Dor. Nos dois casos, as empresas são grandes, possuem liquidez elevada na bolsa, os resultados têm sido bons e boa parte da correção se deve à queda do mercado e menos por problemas das companhias. Outra ação que vale a pena mencionar é B. Pactual: as ações também caíram bastante na correção recente, apesar dos bons resultados do 2T23 e boas
perspectivas para os próximos resultados.