Por Rachel de Sá, chefe de economia da Rico.
- Bolsas globais acordam mistas nesta quinta-feira. Enquanto nos Estados Unidos vemos leve alta, a Zona do Euro fica no zero a zero, com dados da inflação bem acima do esperado (e da meta do Banco Central Europeu) contribuindo para um sentimento de cautela por lá.
- Já por aqui, seguimos na contramão, com a incerteza política como principal motor dos mercados. Ontem vimos o Ibovespa (nosso principal índice da bolsa) cair 1,39% e zerar os ganhos de novembro.
- Após aprovação na Câmara dos Deputados e agora em tramitação no Senado, a PEC dos Precatórios segue o principal foco de atenção dos mercados por aqui. O relator da proposta (senador responsável por liderar as discussões) tem se reunido com integrantes do Senado para ouvir suas demandas. Porém, até agora não há consenso sobre qual será a “cara” final do projeto. Mesmo assim, a expectativa é que a proposta seja votada até o final do mês. Se houver mudanças no Senado, a PEC precisa voltar à Câmara dos Deputados para votação novamente.
- Vale lembrar que a proposta de mudança constitucional se tornou essencial para que o governo consiga balancear o orçamento para o ano que vem. Ou seja, para que caiba nas contas não somente o adicional ao novo programa Auxílio Brasil (que começou a ser pago ontem, apenas com uma correção para R$ 217,00 ao antigo Bolsa Família), mas também a correção de despesas obrigatórias por conta da inflação mais alta, e outras demandas políticas (como um fundo eleitoral maior, e menor pagamento de impostos para setores específicos).
- Uma solução ao impasse é chave para reduzir a incerteza e alta percepção de risco fiscal que tem pressionado os mercados por aqui. As taxas de juros futuros (precificação do mercado sobre onde estarão os juros no futuro) fecharam o dia de ontem em alta, refletindo as incertezas em torno do rumo da taxa Selic nos próximos meses – analistas tentam saber se o Banco Central irá ainda além da alta de 1,5pp na próxima reunião, diante da inflação alta e da preocupação de aumento de gastos pelo governo.
- As taxas com vencimento mais longo também subiram, indicando que o mercado “pede um preço maior” para financiar o Brasil por mais tempo. Discussões sobre um aumento de salário para funcionários públicos no ano que vem, em meio a um orçamento para lá de apertado (e ainda sem a aprovação da PEC dos Precatórios) ajudaram a criar ainda mais cautela.
- O preço do petróleo no mercado global se distancia das máximas recentes, quando o barril bateu US$ 86 no final de outubro. Em seu encontro virtual, o presidente dos EUA, Joe Biden, e o líder Chinês, Xi Jinping, discutiram utilizar suas reservas estratégicas de petróleo, com intuito de aliviar a pressão nos preços de energia. Porém, ainda sem nenhuma decisão final.
- O total de novas construções residenciais nos Estados Unidos contraiu mais do que o esperado em outubro, refletindo principalmente a escassez de matérias-primas (que temos falado bastante por aqui), mas também de mão de obra. Com a agenda mais esvaziada de indicadores hoje, a divulgação semanal de novos pedidos de seguro desemprego fica no radar para sinais sobre o mercado de trabalho no país.
Vale lembrar que o presidente Joe Biden deve decidir a próxima pessoa que será presidente do Fed (Banco Central americano) até o feriado de Thanksgiving (ação de graças), na próxima quinta-feira, dia 25 de novembro. A troca de comando do BC da maior economia do mundo acaba importando para o mundo todo, dado a importância da gestão da política monetária (juros e outros instrumentos) por lá nos mercados americano e global. - Na China, a bolsa encerrou seu último pregão no negativo, por conta de resultados abaixo do esperado reportados por empresas de tecnologia. Além disso, a “novela” da incorporadora chinesa Evergrande vai para mais um capítulo: a empresa anunciou a venda da sua participação na empresa de serviços de transmissão HengTen para dar suporte ao pagamento de suas dívidas.