Por Helena Veronese, economista-chefe da B.Side.
O Fed, Banco Central norte-americano, manteve a taxa de juros em 5,25%-5,50%, em linha com o esperado pelo mercado.
No comunicado, no entanto, apesar de repetir que o início de corte de juros só deve acontecer quando seus dirigentes tiverem mais confiança no processo de desinflação, a instituição manteve a projeção de que três cortes deverão acontecer ainda em 2024, com o ciclo total de queda sendo de 75bps.
Com isso, logo após o comunicado a chance atribuída aos cortes começarem em junho subiu de 64,5% a 73,5%.
Na entrevista divulgada logo após a decisão, o presidente da instituição, Jerome Powell, disse que os juros certamente estão em seu pico, e que se tudo continuar como esperado, será adequado cortar os juros em 2024. Apesar disso, ele não se comprometeu com nenhum mês específico para iniciar os cortes.
Ainda sobre o timing do corte, Powell disse ser necessário um equilíbrio entre não cortar os juros antes do tempo e não demorar demais para começar o processo de afrouxamento.
J. Powell falou, também, que mesmo desacelerando, a inflação permanece elevada. Ainda sobre esse assunto, ele disse que o Fed não vai agir demasiadamente a um dado pontual, e que, em linhas gerais, o trabalho do BC tem colocado uma pressão de baixa tanto na atividade, quanto na inflação. Este talvez tenha sido o principal ponto da coletiva, e o que mais explica o comportamento dos mercados durante sua fala.
O que achamos: Se por um lado o comunicado pós decisão veio praticamente igual ao da reunião anterior, por outro, Jerome Powell adotou um tom um pouco mais dovish na sua entrevista coletiva. Não seria exagero dizer que, ao pontuar que o Fed não vai “reagir em demasia a um dado específico”, Powell minimizou a importância dos números recentes de inflação – que, em sua maioria, trouxeram uma composição não muito favorável. Postura semelhante foi observada quando ele disse que o mercado de trabalho segue aquecido, mas já dando sinais de normalização. A leitura dos mercados às falas de Powell foi de que mesmo com os números de janeiro incomodando, o Fed continua com o propósito de cortar os juros assim que possível – e não será um CPI pior que as expectativas que vai mudar isso. Comunicado sem mudanças e um Powell dovish fizeram com que, ainda durante a coletiva do chairman do Fed, o Ibovespa superasse os 129 mil pontos e o Dow Jones renovasse sua máxima histórica.