Gustavo Sung, Economista-chefe Suno Reserach.
Nesta quarta-feira (29/01), o Comitê de Política Monetária dos Estados Unidos, o Fomc, manteve a taxa de juros no atual patamar, entre 4,25% a.a. e 4,50% a.a. A decisão foi unânime e era esperada por nós e pelo mercado.
O comunicado apresentou novidades. Manteve o trecho em relação à atividade econômica, que continua observando uma expansão em ritmo sólido. No entanto, destacou que a taxa de desemprego se estabilizou em níveis baixos nos últimos meses e que o mercado de trabalho continua resiliente. A inflação permanece elevada e, diferentemente dos comunicados anteriores, o Comitê retirou a menção ao progresso rumo à meta de 2,0%. Na entrevista, o presidente do Fed, Jerome Powell, minimizou a importância dessa mudança, afirmando que a exclusão não indica preocupação.
A autoridade monetária ainda considera que os riscos para o cumprimento das metas de emprego e inflação estão relativamente equilibrados. No entanto, adicionou que o cenário econômico permanece incerto e segue atento aos riscos que podem impactar ambos os lados de seu duplo mandato.
Os últimos dados continuam apontando para uma economia resiliente, com a criação de vagas de trabalho superando as expectativas e a taxa de desemprego em 4,1%, fator que tem sustentado o consumo das famílias norte-americanas. Em relação aos preços, os indicadores mostram que a inflação tem se mostrado mais persistente do que o previsto anteriormente, mantendo uma trajetória de alta pelo terceiro mês consecutivo e se distanciando da meta de 2% – mesmo assim, Powell comentou que as duas últimas leituras de inflação foram boas.
Na entrevista após a decisão, Powell, afirmou que a economia fez progressos significativos nos últimos dois anos. Destacou que o mercado de trabalho não representa uma fonte significativa de pressões inflacionárias. Sobre os próximos passos, ele indicou que não há um curso pré-determinado e que não há pressa para ajustar a política monetária. Quanto aos pedidos do novo presidente eleito, Donald Trump, que defende cortes na taxa de juros, Powell enfatizou a independência do Fed e afirmou que não houve qualquer contato entre eles.
O comunicado também destacou que o Comitê avaliará cuidadosamente os dados recentes, a evolução do cenário econômico e o equilíbrio dos riscos para determinar a magnitude e o momento adequados para novos ajustes na política monetária.
Mesmo após dados levemente mais fortes do que o esperado, mantemos nossa projeção de dois cortes na taxa de juros neste ano, com o ciclo encerrando entre 3,75% a.a. e 4,00% a.a. em 2025. Acreditamos que a inflação deve voltar a desacelerar ao longo do ano, caso não haja choques econômicos.
Em relação à política econômica do governo Trump, possíveis mudanças em políticas de comércio exterior, como aumentos tarifários, e restrições à imigração já afetam as expectativas e podem dificultar o processo de convergência da inflação para a meta.
No curto prazo, o aumento dos preços dos bens importados elevará a demanda por bens produzidos nos EUA, pressionando os preços. No médio prazo, essas medidas podem aumentar os custos de importação, que serão repassados aos consumidores, gerando pressão inflacionária. Consequentemente, esse cenário limitaria a queda das taxas de juros no médio e longo prazo.
Além disso, barreiras comerciais impostas pelos EUA podem levar outros países a retaliarem, ampliando as tensões no comércio internacional, resultando em problemas nas cadeias produtivas e custos maiores. Trump afirmou publicamente que considera possível um acordo com a China, o que foi interpretado pelos mercados como um passo importante para evitar uma guerra comercial prolongada.
Essa retórica de Trump busca ganhos econômicos e estratégicos para os EUA, mas sua imprevisibilidade pode levar parceiros a fortalecer laços com rivais como a China, criando um delicado equilíbrio entre ganhos e possíveis isolamentos.
Entretanto, importante ressaltar que a adoção e execução desse plano econômica é incerto. Haverá negociações e muita discussão. Logo, o Fed deve manter a postura técnica e esperar a evolução da economia norte-americana para tomada de decisão, sem se precipitar, a fim de manter a sua credibilidade.