Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners
Donald Trump tomou posse como 47º presidente com um discurso triunfalista, que beirou a deselegância com o seu antecessor, Joe Biden, que estava ao seu lado na rotunda do Capitólio, local escolhido para a posse devido ao frio abaixo de zero em Washington;
Após jurar sobre a mesma bíblia usada na posse de Abraham Lincoln, Trump disse que uma nova era começava para os EUA – “tínhamos um governo que não conseguia gerir questões domésticas”. Aqui temos a primeira grande promessa de Trump cumprida – a redução da imigração e o início da deportação de imigrantes ilegais. Trump disse que estava expedindo uma ordem executiva declarando emergência nacional na fronteira sul (com o México). Com isso, prometeu mandar o exército para lá, algo que já estava sendo especulado, mas que era considerada uma medida bastante extrema;
Outro foco do discurso de Trump foi a questão energética. Assim como no caso da imigração, o novo presidente decretou emergência, desta vez energética. Disse que vai suspender todas as benesses dada por Biden para a transição para energia limpa, sendo bastante enfático na questão dos carros elétricos. Ato contínuo, vai incentivar a produção de petróleo para dar um choque nos preços de energia e trazer a inflação para baixo – “fure baby, fure”. Inclusive, está sempre foi a estratégia de Trump para contrabalançar a inflação oriunda do aumento de tarifas. Para que ninguém o perturbe com questões ambientais, Trump retirou os EUA do Acordo de Paris.
Se com relação à imigração as medidas anunciadas foram fortes e, provavelmente, teremos mais novidades no curto prazo, no caso das tarifas o discurso pode ser considerado ameno. Apesar de ter falado sobre elas e, inclusive, ter dito que criaria um departamento da receita federal americana exclusivamente para coletá-las, não tivemos nenhum anúncio bombástico como no caso da imigração. Até o Canadá foi poupado desta vez, mas não o Panamá, uma vez que Trump voltou a falar de retomar o Canal, nem o México, que, mais uma vez teve que ouvir que Trump vai mudar o nome do golfo de Golfo do México para Golfo da América.
Bottom line: O fato de Trump não ter dado muita ênfase na questão das tarifas, não significa que ele as esqueceu. Os primeiros passos já estão sendo dados, com a criação da “receita federal das tarifas” e com o decreto de emergência energética, que pretende dar o choque positivo na inflação para contrabalançar o choque negativo do aumento de tarifas.
Assim como a questão do Canal do Panamá que, à primeira vista parece uma maluquice ou um arrobo imperialista, ou ambos, no fim também visa contrabalançar o efeito negativo do aumento de tarifas, com a redução das taxas cobradas sobre os navios com direção aos portos americanos. Como frisamos no “O Canário da Mina” 87 – onde discutimos outros motivos para Trump ter interesse no Canal do Panamá – há um método.
Para o Brasil vemos um efeito imediato e um risco. No primeiro caso, já temos esvaziada a COP 30 de Belém que, no fim, vai servir para o resto do mundo “chorar as pitangas” da mudança de rumos dos EUA.
No caso do risco é que, a recente aproximação de Trump com Xi Jinping, o presidente chinês, pode indicar que haverá negociação entre os dois. E, o que os chineses têm a oferecer ao presidente americano, é o aumento das compras de produtos agrícolas americanos pela China. Com isso, haveria um deslocamento da demanda chinesa, do Brasil, para os EUA, caminho inverso do que ocorreu no 1º mandato. Uma péssima notícia para o Brasil que tem, na China, destino de 30% das suas exportações.