A deflação registrada pelo Brasil nos últimos dois meses teve impacto positivo por sinalizar maior controle do país na escalada de preços. Por outro lado, a notícia vem gerando alguma apreensão entre os clientes alocados em ativos ligados ao IPCA, que aumentaram a procura junto aos assessores para entender o efeito da queda do índice no valor dos títulos indexados e também no pagamento de dividendos de certos fundos imobiliários. A CRC!News foi a campo para entender como os profissionais estão reagindo às dúvidas, e qual tem sido a recomendação diante deste novo cenário.
De acordo com Mirela Rappaport, sócia gestora da InvestPort, os fundos de CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários) passaram a pagar um prêmio mais alto nos últimos tempos buscando atrair investidores com uma reposição da inflação. No entanto, essa realidade parece estar mudando.
“Agora que os números do IPCA ficaram negativos, a rentabilidade caiu bastante e os investidores não estão acostumados com isso. Neste momento, começamos a ver uma mudança em direção aos fundos de tijolo. Outra boa opção são os títulos prefixados, pois acreditamos que o Brasil está na pernada final da alta dos juros”, afirma.
Caio Ventura, analista de fundos imobiliários da Guide, explica que a queda no pagamento de dividendos já era prevista, assim como uma maior volatilidade nas cotas. Hoje, a recomendação é para que as pessoas aumentem a participação em fundos de tijolo em suas carteiras, pois eles estavam muito descontados.
“Durante o começo da pandemia, choques importantes como o fechamento de shoppings e desocupação das lajes corporativas por conta do home office resultaram na desvalorização desses ativos. Com a deflação, isso começa a reverter. O BRCR, por exemplo, deu um salto de quase 25% no último mês”, cita.
Leia mais
Vinci lança fundo imobiliário de CRI com ativos balanceados entre CDI e IPCA
Henrique Meirelles: “A única solução é restaurar respeito ao teto de gastos”
Teddy Open Finance lança plataforma para escritórios de investimentos e crédito
Fenômeno pontual
Para os especialistas, um dos vilões do investidor em momentos como esse é a ansiedade. Isso porque, olhando o contexto histórico brasileiro, a deflação tende a ser um fenômeno pontual. Por isso, não deve impactar nas decisões com um horizonte de tempo mais extenso, especialmente no caso de quem está alocado em títulos de renda fixa de baixa liquidez. Caso a pessoa opte por mudar de ativo, terá de pagar um bom prêmio para alguém ficar em seu lugar, o que pode acabar não compensando.
“O Brasil entrou no contraciclo do mundo por uma série de fatores, como a redução de impostos sobre os combustíveis, o fim da crise hídrica e a queda do valor do petróleo no mercado externo. Mas é um cenário passageiro. Por mais que as pessoas fiquem preocupadas com a queda do IPCA, mudar de alocação é o pior cenário. A taxa real ainda está muito grande. Basta ficar onde está que não tem muita chance de erro”, recomenda Márcio Santos, economista e diretor comercial da Algo Invest.
Já para Arthur Hamer, sócio fundador da Netuno Investimentos, os fundos que mais têm sofrido atualmente são os comprados na chamada inflação curta, com vencimento em 12 ou 18 meses. Com o retorno negativo, muitos clientes têm procurado o escritório para entender melhor o contexto.
“Temos uma política de alocação rigorosa de colocar no máximo 20% nesse tipo de ativo para não impactar muito. E nossa visão para o momento é apostar em bons emissores e na inflação longa, por meio de papéis pós-fixados com vencimento apenas em 2025 ou até mesmo em 2029, além de vermos o CDI+ com bons olhos”, aponta.
Na opinião de Catherine Menezes, head de alocação da Braúna Investimentos, a deflação também gera oportunidades interessantes para o investidor. “Com a queda do IPCA, alguns investidores ficaram resistentes a entrar nos títulos indexados. E como os emissores vêm encontrando dificuldade para captar, os spreads estão abrindo. Esse excesso de oferta e cautela na demanda abrem uma boa janela que não vai durar para sempre”, encerra.
Texto publicado na edição 53 da revista CRC!News, acesse e leia a edição completa.