Com o crescimento do mercado de assessorias no Brasil, um dos grandes desafios para os escritórios é fidelizar bons assessores para não perdê-los para a concorrência. A saída encontrada tem sido investir em partnership, que nasceu nos Estados Unidos tendo o banco Goldman Sachs como uma das primeiras empresas a adotar o modelo, no início do século XX. “Nada mais é do que propiciar aos colaboradores a possibilidade de comprar participação na empresa”, explica o advogado Guilherme Champs, fundador do escritório Champs Law, em conversa com a CRC!News. Especializado na implementação de sistemas de partnership em escritórios, Champs já auxiliou mais de 250 operações.
No Brasil, um dos responsáveis pela popularização do modelo foi o empresário Jorge Paulo Lemman através do Banco Garantia, fundado em 1971 e encerrado em 1998. “A ideia era trazer boas pessoas e converter os bônus que elas ganhavam em participação societária”, diz Champs. Mais recentemente, a adoção deste modelo no mercado financeiro foi impulsionada por XP Investimentos e BTG Pactual.
O advogado explica que a estruturação de um modelo de partnership tem como um dos primeiros passos a criação de regras que preveem quais são as condições para que alguém se torne sócio da companhia. “As empresas separam as pessoas em média, baixa ou alta performance. Aqueles que ficam no terceiro grupo são elegíveis para a compra de participação, geralmente adquirindo de quem está com baixa performance”, explica. Ou seja, a companhia pode recomprar daqueles que estão deixando de performar conforme o esperado.
Fontes diversas
As cotas disponíveis para aquisição podem vir de três fontes: o sócio majoritário pode diluir participação, ou algumas empresas já nascem com um pool de cotas disponível para o partnership, como fazem as companhias de tecnologia do Vale do Silício. Há ainda a possibilidade de se criar novas cotas, aumentando capital e diluindo todos os sócios.
“No passado, muitos escritórios estruturaram regras de partnership, mas esqueceram de dar o dinamismo correto para esse sistema. Para isso, temos uma plataforma em que os escritórios podem atualizar valuation, assinar contratos, analisar o financeiro e por aí vai”, conta Filipe Medeiros, CEO e fundador da AAWZ Partners. A empresa fornece para os escritórios um posicionamento estratégico da operação, que vai desde alteração do modelo de remuneração, estruturação do modelo de expansão até o acompanhamento do dia a dia da estrutura operacional e financeira, além de auxiliar na governança e no estabelecimento de programas de parceiros.
Filipe explica que existe no mercado uma busca por respostas fáceis quando se trata do tema. “A verdade é que o partnership é um conceito, não uma regra de prateleira onde você consegue levar meritocracia para a sociedade”, completa;
Vivian Marques, advogada de agentes autônomos de investimentos pessoa física e jurídica, fala que “o dilema que os gestores estão enfrentando hoje diz respeito a como prospectar os melhores assessores do mercado e fazer com que eles de fato vistam a camisa do escritório dentro do programa de partnership escolhido. Para isso, não basta um discurso bonito, é preciso que a estrutura utilizada de fato reflita essa vontade de forma eficaz e favorável ao assessor de investimentos”, diz, acrescentando que evitar cláusulas abusivas e que beiram a má-fé podem ser um bom caminho.
Sócios capitalistas
Além das questões permitidas pela legislação atual, a discussão sobre a entrada de sócios capitalistas também vem ganhando espaço. Vivian tem acompanhado de perto o tema e levanta pontos de atenção. “A proposta da CVM prevista no Edital de Audiência Pública de 2021 admite o ingresso de novos sócios não assessores de investimento no quadro dos escritórios de investimento, mas desde que haja um compliance para verificar se a atividade desse sócio não é conflitante com as atividades dos agentes autônomos de investimento. E vale lembrar: a minuta proposta pela CVM ainda não foi aprovada e o objeto social do escritório continuará exclusivo depois da mudança. Ou seja, PJ1 e PJ2 não poderão ser uma só.”
A advogada falou ainda sobre como a entrada do sócio capitalista deve impactar a dinâmica das empresas. “Com a entrada em vigor da nova Resolução, vamos verificar se os sócios gestores estavam de fato querendo diluir parte de suas quotas ou se eles estavam apenas cumprindo uma exigência da regulação misturada com a tendência do setor. Chamar todo mundo para ser sócio não é tarefa fácil, principalmente quando tem que compartilhar os lucros do empreendimento no longo prazo”, finaliza.
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