O mercado de trabalho pode ser bastante excludente com pessoas acima dos 50 anos. Com o passar do tempo, as oportunidades vão se tornando escassas, apesar da bagagem e experiência destes profissionais. Foi o que aconteceu com Fábio Pilon, assessor da Aplix Investimentos. Depois de anos de experiência no mercado financeiro, o profissional percebeu que a quantidade de vagas estava diminuindo.
“As empresas me procuravam, o currículo e as certificações se encaixavam nas vagas, mas eu via que a empolgação dos RHs comigo ia arrefecendo. Então comecei a ler reportagens sobre a dificuldade de profissionais acima de 30 anos arrumar emprego. Pensei que não tinha mais idade para brigar no mercado de CLT”, conta em entrevista à CRC!News.
A transição aconteceu há um ano, quando o assessor tinha 54 anos. Fábio pensava em parar de trabalhar quando se cadastrou para o curso de assessor de investimentos da XP. Hoje, o assessor é o mais velho do escritório, mas se sente feliz pela troca que acontece com os colegas. “O escritório espera que a minha senioridade agregue valor. É uma troca. Tenho liberdade para aplicar meu conhecimento e aprender mais coisas” relata. O assessor vê a interatividade entre as gerações como um ponto positivo para as pessoas e o ambiente.
Outro caso de reinvenção é o da Align Investimentos. Guilherme Olinto, Jeferson Cantanhede e Vera Weck têm respectivamente 55, 56 e 61 anos. Bancários com vasta experiência, tiveram a transição de carreira motivada quando a instituição foi comprada por outro banco. “Entendi que a cultura da nova empresa não fazia sentido para meu momento de vida e optei por buscar novos caminhos”, relata Vera. Para o trio, o fato de ter experiência no mercado ajudou na formação de resiliência. “Além disso, nesta etapa da vida, de modo geral, já temos um certo respaldo financeiro. Montar carteira e gerar receita através do portfólio é um processo nem sempre rápido, como muitos pensam”, completam.
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Qualidades além do tempo
A idade, no entanto, não é um fator determinante para os assessores, que entendem que algumas competências falam mais alto que esse fator. “Os bons profissionais carregam consigo alguns ativos muito importantes como credibilidade e relacionamento com os clientes. Isto, a meu ver, faz a diferença para nos mantermos no mercado, independentemente de idade” explicam.
É o que pensa também Alexandre Lima, que fez a transição de carreira com 48 anos. Agora, aos 50, acaba de fazer a migração entres escritórios. O sócio da InvestSmart relata não ter considerado a idade no processo. “Trabalho toda a minha vida sem pensar em idade, tomo as decisões baseado no que eu acho que vai ser interessante”, conta. O assessor fala sobre a virada que representou mudar do sistema CLT para o de autônomo, que oferece mais valor e reconhecimento.
Para Alexandre, a questão da idade está diretamente ligada aos objetivos dos escritórios. “Alguns querem pessoas com mais experiência para agregar, como aconteceu comigo. Outros buscam pessoas mais novas visando formar assessores”, explica.
Sócio da Alta Vista Investimentos, Martinho Fernandes, hoje com 62 anos, entendeu que a transição de carreira era uma maneira de prolongar sua jornada no mercado financeiro. Assim, em 2018 tomou a decisão de se tornar assessor. “Achava que com a minha idade as oportunidades de ter uma carreira tradicional, CLT, ficariam cada vez mais restritas”. À época da transição, o assessor era vice-presidente de relações com clientes em um banco estrangeiro e entendeu que poderia impulsionar sua longevidade no mercado, aliando a vontade de empreender.
Martinho recomenda que pessoas que consideram fazer a migração com mais idade tenham um colchão de liquidez. “Você precisa construir a base com seus clientes e receber os dividendos que gera. Sem esse suporte financeiro, as dificuldades são maiores”, explica.
A busca por maior independência no trabalho e a possibilidade de oferecer o que é melhor para o cliente foram determinantes para a guinada na carreira de Marcia Sivieri, assessora da Davos Investimentos. “Tenho 59 anos e estou no mercado desde os 20. Sempre trabalhei como CLT, primeiro com seguros, depois fui para banco”, conta. O que a levou para o caminho da assessoria foi justamente a maturidade. “Acabava fazendo coisas que não iam muito de encontro com a minha maneira de pensar e trabalhar”, relata.
Marcia afirma que o mercado financeiro oferece boas oportunidades para profissionais mais velhos. “Quanto mais cabelos brancos, mais importante”, brinca. Em sua visão, o conhecimento adquirido com a carreira aliado a um maior entendimento sobre o ecossistema são vantagens de pessoas mais velhas. “A troca com os jovens é impagável. Eles têm uma visão totalmente diferente do mercado, que te faz crescer demais”, diz. Atleta de provas de aventura, Marcia compara os dois ambientes. “Você não pode ter um time só com homens ou mulheres, deve haver uma mistura para ter os dois olhares e a força conjugada. Com o jovem e os mais velhos é a mesma coisa. Sai uma troca bem mais rica”, finaliza.
Texto publicado na edição 54 da revista CRC!News, acesse e leia a edição completa.