Em meio a um cenário complexo nos âmbitos local e global, ao qual o mercado busca se adaptar para reduzir riscos e evitar perdas, alguns produtos vêm contrariando a maré e se saindo muito bem. É o caso do fundo multimercado Asa Hedge, que completou oito anos de existência na última semana e acumula 30,5% de valorização em 2022, uma performance mais de 400% superior ao CDI, que rendeu 7,5% até o momento.
Em entrevista exclusiva à CRC!News, Márcio Fontes, diretor da Asa Investments e head de gestão do fundo, o especialista detalha o processo de montagem da estratégia que vem garantindo grandes resultados ao fundo, avalia as perspectivas de recessão mundial, aponta as dificuldades de se fazer uma leitura do cenário nacional por conta da questão fiscal e revela a intenção da Asa Investments em ampliar sua presença global com escritórios na Europa, Ásia e em Israel. Confira.
O fundo Asa Hedge vem obtendo resultados muito positivos. Quais princípios norteiam sua estratégia?
Nossa estratégia se baseia em identificar tendências com bons prêmios, que se realizam conforme o movimento que prevemos aconteça. Temos uma equipe qualificada e montamos fórmulas para o cenário macro tanto no âmbito global quanto local. Acredito que os fundos multimercado devem ser um produto agnóstico. Por isso, não temos uma diretriz atrelada a nenhum tipo de mercado. Há alguns produtos desviados da realidade que dizem que sempre precisa ter equity na carteira. Nós podemos ter equity comprado ou vendido. O mesmo vale para juros, commodities, câmbio… Pouco importante a situação de momento do mercado, pois podemos ganhar para qualquer lado desde que haja uma tendência.
Como foi montada a estratégia do fundo para 2022? Qual leitura vocês fizeram do cenário à época?
Desde o ano passado, notamos uma certa desconexão do mercado de juros dos Estados Unidos, dado que ele estava muito estimulativo para a alta dos índices de preço. Estamos em meio a uma mudança no plano global. Antes, os governos poupavam. Agora, elevaram gastos militares e estão investindo mais em temas como ESG e infraestrutura social, pois as pessoas pedem maior qualidade de vida. Com a elevação da expectativa de vida, quem que antes poupava envelheceu, e começou a consumir essas economias. Todos esses elementos são inflacionários e se exacerbaram com a pandemia. Os EUA tiveram um incentivo fiscal e tributário de cerca de 40% do PIB, o maior da história. O mercado de trabalho de lá está super apertado, com duas vagas para cada trabalhador. Saímos de um mundo em que os Bancos Centrais combatiam a desinflação para um em que se luta contra a alta dos preços. Diante desse quadro de inflação super desviada da meta, não teria como combater o problema com juros tão baixos. Assim, montamos uma estratégia para explorar essa assimetria. Foi nossa aposta principal para o ano, e acabou florescendo.
Uma das grandes discussões é se haverá ou não recessão global. Como você avalia essa possibilidade? Uma eventual retração da economia já está precificada?
Passado esse período inicial, baixamos as posições em taxas de juros entre abril e maio e começamos a trabalhar com posições vendidas em bolsa. O mercado de capitais nada mais é do que o fluxo de caixa das empresas influenciado por três fatores principais: o lucro esperado, a taxa de juros real do governo e o chamado prêmio de risco. Hoje, há um desvio de pelo menos 2% na inflação. O desemprego precisa mexer algo perto de 8% para cima para jogá-la de volta na meta. Para gerar isso, é preciso reduzir o PIB duas vezes mais do que esse percentual de desemprego em um prazo de dois ou três anos. Ou seja, não dá para fazer sem afetar a economia. Vamos assistir a uma recessão de verdade, e não essa desaceleração mais técnica de hoje. Os múltiplos da bolsa norte-americana estão muito altos ainda. Caso suba, a alta será de 5%. Mas se cair, será algo da ordem de 20 ou 30%.
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E no caso do Brasil, qual leitura você faz do cenário nacional?
O grande desafio é que ainda não está claro o que vamos ter no próximo governo do ponto de vista de gestão fiscal. E sem essa clareza preferimos ter posições menores no Brasil. Quando olhamos a Bovespa, os múltiplos estão historicamente muito mais descontados do que nos Estados Unidos. O prêmio em relação à bolsa está bom, dá para projetar ela em até 155 mil pontos, mas precisamos ter o mínimo de conforto na parte fiscal antes de fazer apostas. O auxílio de R$600, para ser mantido, precisa sair de algum lugar. O mesmo vale para os benefícios fiscais. Ainda não sabe o que vão fazer. Tem uma árvores de decisões adiante, e dependendo delas vamos seguir ou não por um caminho virtuoso.
Qual o papel e a importância de se ter um fundo hedge na carteira em um momento de incertezas como esse?
As pessoas ficaram viciadas nesses tempos que vivemos no começo de 2000 até 2020, em que a inflação pouco aparecia. Todos se acostumaram a comprar bolsa e renda fixa de longo prazo, mas os juros altos colocam em xeque essa estratégia. Por isso, ter na carteira produtos alternativos, como os multimercado, é uma bela diversificação. Quando os juros sobem, a gente consegue ter retorno muito positivo. Quando o mercado está mal, também. Podemos ganhar de todas as formas.
Em maio, a Asa Investments comprou a Core, uma gestora de fundos imobiliários. De que maneira isso complementa a oferta e reforça a característica multiestratégia?
Queremos ter um alcance local e global, proporcionando alternativas de investimento interessantes em vários setores, dentre eles o imobiliário. Encontramos uma boa oportunidade na Core, uma casa independente que achou que fazia sentido se juntar a um grupo forte, com grande capacidade institucional e que compartilha da mesma cultura para desenvolver mais o seu negócio dentro do âmbito da Asa.
Outras aquisições estão no radar? Quais os planos e novidades previstas para esse segundo semestre?
Estamos bastante focados em expansão internacional. Já temos um escritório em Nova York, mas agora queremos contar com presenças também na Europa, na Ásia e em Israel. Essas operações em outros países vão abrigar linhas de produtos de equity relacionadas à sua região. Em paralelo a isso, queremos ter profissionais que trabalhem com produtos macro para apoiar nossa atuação em São Paulo no sentido de incrementar e sermos cada vez mais uma operação global.
Texto publicado na edição 51 da revista CRC!News, acesse e leia todos os destaques do mercado de assessoria de investimentos.